Artigo: Bushido - Jogo do pau - 1989

Fonte: Jogo do Pau Português
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Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: Jogo do Pau
  • Autor: Mestre Nuno Russo
  • Publicação: Revista «Bushido», nº 2 de fevereiro 1989, pp.37-39

Resumo

O artigo destaca a história e a prática do Jogo do Pau em Portugal, sendo uma tradição antiga que remonta à formação do país.

O artigo também menciona a presença do Jogo do Pau em Lisboa, onde foi praticado no Ginásio Clube Português, e posteriormente ensinado em outros locais, como o Ateneu Comercial de Lisboa. Mestre Pedro Ferreira, um dos protagonistas mencionados no artigo, é responsável pela fusão das escolas de Lisboa e do Norte, trazendo técnicas de combate com vários adversários para a prática de Lisboa.

Nuno Russo, praticante entusiasmado do Jogo do Pau, trouxe inovações importantes para essa arte marcial tradicional. Ele adaptou proteções específicas e estimulou combates controlados para atrair os jovens e preservar a prática. Apesar dos seus esforços, o Jogo do Pau ainda enfrenta desafios, como a falta de apoio e pouca adesão dos jovens, o que requer um trabalho contínuo para preservar e promover essa tradição.

Artigo

« JOGO DO PAU
A arte marcial Portuguesa...

O Jogo do Pau acompanha o povo Português desde a formação do País, tendo sido merecedor de um apontamento na obra escrita por D. Duarte sobre armas e formas de guerrear "Arte de cavalgar a toda a sela". A aplicação do Jogo do Pau nas rixas e desentendimentos em romarias e feiras deu ao mesmo o estatuto por todos conhecido; o pau era a forma de resolver divergências entre famílias, bairros e até freguesias. Quando algum problema surgia nas tão frequentes romarias das Aldeias do Norte era resolvido "à paulada" originando desordens em massa, muitas delas presenciadas pelo Mestre PEDRO FERREIRA. Foi o próprio que nos descreveu o seu percurso até ser considerado o Mestre dos Mestres desta actividade que ele diz ser a razão dos seus 74 anos plenos de vitalidade e energia, tanto pelo bem físico como pelo espírito de combate que muitas vantagens dá nesta vida.

Através das suas palavras descobrimos que Fafe não é a terra do Jogo do Pau conforme a maioria das pessoas julgam, e a tradição da "justiça de Fafe" vem apenas da presença de uma grande e grossa vara amarrada à cadeira do Juiz no tribunal local. Embora nascido no Norte, a ligação do Jogo do Pau com Fafe não é mais estreita que com Monção, Guimarães ou Melgaço; todas estas terras tinham os seus especialistas.

Ficamos ainda a conhecer o Jogo do Pau de Lisboa, onde o primeiro Ginásio a ter esta modalidade pertencia ao Rei D. Luis e chamava-se Real Ginásio. Este foi construido para a educação dos filhos do Rei e é hoje o tão conhecido Ginásio Clube Português. Mais tarde passou a ser ensinado também no Atneu Comercial. Nessa altura, os praticantes de outras esgrimas como o sabre e o florete observaram o Jogo do Pau e aderiram, fazendo, no entanto, certas adaptações das suas esgrimas ao Jogo do Pau, que agora se apresentava muito mais completo que o Nortenho.

Embora tenha sido praticado como uma religião por quase todo o País, com destaque para Alhos Vedros, Ribatejo, Pinhal Novo, etc., é agora quase exclusivamente praticado de uma forma mais séria em Lisboa, pois os Mestres das várias terras foram morrendo. Perguntámos-lhe pelo seu trajecto pessoal...

- "Desde muito novo que pratico, sou Minhoto de Melgaço e lá era tradicional iniciar a aprendizagem do Jogo do Pau muito novo, o que possibilitava uma velocidade e agilidade superiores a qualquer praticante que comece aos 20 ou 30 anos. Vim para Lisboa por causa do serviço Militar, aprendi a escola do Atneu e uma outra escola muito mais perfeita ainda existente e que se chamava escola Frederico Alfa, que era um senhor Alemão dedicado ao nosso Jogo do Pau. Esta escola era por cima da esquadra da Mouraria. Fui lá inscrever-me e fiz um combate com ele; ele gostou e passados dois anos convidou-me para treinar com ele umas sequências para um filme. Treinavamos todos os dias depois do encerramento da escola (às 20 horas) até à meia-noite. Fizemos o filme em 1960, altura em que eu já tinha aprendido toda a técnica do Mestre e, como todo o praticante, sentia que tinha que praticar todas as escolas. Percorri todas as regiões e aperfeiçoei-me".

Responsável pela fusão da escola de Lisboa com a escola do Norte, escola que tinha mais bases em relação aos combates com vários adversários, pela importância que esta técnica tinha em certas desordens onde um só homem tinha que enfrentar três ou quatro, Mestre Ferreira falou-nos do futuro do Jogo do Pau com alguma tristeza pela falta de apoio que o nosso País dá às suas tradições, preferindo difundir as Artes Marciais Orientais. "Os nossos lutadores já foram a França e a Espanha onde foram melhor recebidos", disse-nos.

A juventude, embora tenha um espirito mais aberto, também não adere à tradição e os que aderem desistem quando entram na faculdade ou casam.

Embora esta modalidade seja extremamente benéfica para a coluna, os braços, o espírito, etc., exige também muita dedicação, exemplo disso é NUNO RUSSO, que pela sua dedicação diária de 5 horas durante anos e anos, se tornou no Mestre do Atneu, e cujo esforço na impulsão do Jogo do Pau fora do País fá-lo merecer a admiração que transparece nas palavras de Mestre Ferreira - "É o grande impulsionador do melhor Jogo do Pau do Mundo, inclusivamente em França onde fez toda a propaganda possível sem quaisquer interesses económicos".

Segundo nos narrou Nuno Russo, o seu início no Jogo do Pau, há 18 anos atrás, ocorreu quando ainda era um "homem do Karate"; nessa altura era cinturão castanho. "O professor teve que se ausentar e eu dei as aulas. 'Surgiu então um par de velhotes que faziam Karate pela primeira vez mas eram superiores a muitos dos antigos alunos. Fiquei curioso e perguntei-lhes o que faziam; eles faziam Jogo do Pau e eram os mestres Luis Guerreiro e Pedro Ferreira. Senti-me inclinado para o Jogo do Pau porque gosto do que é Português especialmente se fôr bom".

Quizemos saber, então, porque tinha optado pelo Karate. A resposta foi o que esperavamos: -"Quando somos novos gostamos de brigar na rua e não se pode andar com um pau na mão".

Um dos grandes benefícios trazidos por Nuno Russo foi a protecção adaptada exclusivamente ao Jogo do Pau, visto desde o princípio do século terem terminado os confrontos reais, com mortos e feridos, prática impossível nos nossos dias. No entanto Nuno Russo apercebeu-se que os combates sem controle eram necessários a fim de estimular os jovens, que gostam de aplicar minimamente o que sabem. As viagens a França mostraram-lhe que essa ideia era viável, pois lá fazem-se combates profissionais do Jogo do pau nacional, com protecções baseadas nas da bengala, modalidade muito querida pelos Franceses. Com base nessas protecções e nas de KENDO, Nuno Russo e Henrique Andrade desenharam um tipo de protecção adaptada ao nosso Jogo do Pau.

Mas mesmo com os combates sem controle a juventude adere pouco ao Jogo do Pau, e assim esta modalidade luta contra a falta de apoios e de noção das responsabilidades para com as tradições das entidades competentes. Até sede social falta à Associação de Jogo do Pau de Lisboa, orgão com funções federativas reconhecidas pelo próprio Comité Olímpico Português. »

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