Artigo: Fafe veio a Lisboa com o pau que servia para matar os ciumes 1985: diferenças entre revisões
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Homens adultos, rapazes e raparigas fizeram a viagem de autocarro, por iniciativa da Câmara Municipal da vila, a 16 quilómetros de Guimarães, que se quis associar assim, à estreia, no Teatro Nacional, da famosa peça de Camilo, o «Morgado de Fafe em Lisboa». | Homens adultos, rapazes e raparigas fizeram a viagem de autocarro, por iniciativa da Câmara Municipal da vila, a 16 quilómetros de Guimarães, que se quis associar assim, à estreia, no Teatro Nacional, da famosa peça de Camilo, o «Morgado de Fafe em Lisboa». | ||
Como não podia vir o Morgado, a Câmara mandou Fafe com os seus paus da «altura de um homem» e de bombos «feitos com pele de cabra» , que animaram a Baixa, alegraram os pombos que comem poluição e quebraram um pouco do «verniz» do velho Teatro D. Maria. | Como não podia vir o Morgado, a Câmara mandou Fafe com os seus paus da '''«altura de um homem»''' e de bombos '''«feitos com pele de cabra»''' , que animaram a Baixa, alegraram os pombos que comem poluição e quebraram um pouco do «verniz» do velho Teatro D. Maria. | ||
Quatorze jogadores, onde se destaca um praticante com apenas 10 anos de idade, são dirigidos por «mestre» Filipe Freitas. | Quatorze jogadores, onde se destaca um praticante com apenas 10 anos de idade, são dirigidos por «mestre» Filipe Freitas. | ||
O mestre ensina, encoraja, grita, atiça... parra parecer que tudo é real. Mas os tempos mudaram: «Antes, não era um jogo, era uma defesa», dizia. «Antes, vinha-se de namorar e, no meio do caminho, podia lá estar um ciumento e quem tinha unhas é que tocava guitarra». | O mestre ensina, encoraja, grita, atiça... parra parecer que tudo é real. Mas os tempos mudaram: '''«Antes, não era um jogo, era uma defesa»''', dizia. '''«Antes, vinha-se de namorar e, no meio do caminho, podia lá estar um ciumento e quem tinha unhas é que tocava guitarra»'''. | ||
E, a talhe de foice, é um outro que acrecenta: «De vez em quando, lá morria um ou outro». | E, a talhe de foice, é um outro que acrecenta: '''«De vez em quando, lá morria um ou outro»'''. | ||
«UM HOMEM SOZINHO PODIA VENCER 100» | |||
O funcionário camarário Fernando Meireles, condutor do autocarro que transportou a comitiva, puxa pela fita do tempo para falar das célebres feiras de sangue onde o pau era.. rei. | |||
«Ainda me lembro de ir para a feira de Fafe semanal, que ainda hoje se faz, e ver toda a gente com o seu lódum». Para os que não sabem, lódum é o nome que os fafenses dão à vara, ou pau, e que é extraído de uma árvore muito vulgar no Norte. «Lá na terra, diz-se: aquele tipo leva o lódum e não se diz que leva o pau». Este termo, refira-se, só é utilizado para classificar o nome do jogo, esse sim, «jogo do pau». | |||
E voltando às feiras, tudo era motivo para uma richa. Um mal entendido sobre uma donzela já amada, servia de «mola» para o ar. E, como dizia o outro, quem tinha unhas é que dava concerto: «Um homem sozinho», recorda Filipe Freitas, «podia vencer 10 ou 15. Dependia da habilidade e da genica dele. Uma vez lembro-me de que um tipo sozinho desviou mais de uma centena que o atacavam. Todos fugiram. Ele ganhou, sem ajuda de ninguém». | |||
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Habilidade, dizem os fafenses, é condição indispensável para classificar um bom ou mau jogador. Mas há outras: '''«É preciso treinar muito. É preciso suar mais. É preciso ter o braço duro e, sobretudo, multas pernas, porque o jogo do pau é, acima de tudo, um jogo de pernas»'''. | |||
Quem diz é ''José Carlos Carvalho'', o «mestre dos mestres», de Fafe, que ensinou muita gente a lidar com o lódum, mas nunca o usou '''«para defesa». Cantoneiro de profissão, ''José Carvalho'', 49 anos, é um homem entroncado, rijo, para quem o jogo não tem segredos. «Truques»? Sim, o Jogo tom muitos, mas a brincar é uma coisa. A sério é outra, que não se podem mostrar aqui».''' | |||
Para este veterano da Sociedade de Recreio Cepanense, que se exibiu na Praça do Rossio, os jovens rapazes e raparigas do grupo são sinal positivo de que a tradição pode continuar viva. Todavia, um e outro não deixam de lamentar: '''«Há cada vez menos gente a jogar ao pau. Há mais para a bola do que para o pau. E é pena»'''. | |||
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Revisão das 10h08min de 14 de maio de 2023
Sobre
- Relevância: ★★★
- Título: Fafe veio a Lisboa com o pau que servia para matar os ciúmes
- Autor: José Pacheico, fotos de Salvador Ribeiro
- Publicação: Jornal «Correio da Manhã», Ano VII nº 2267 de 30 junho
Excerto do artigo
« Fate desceuz sexta-feira para jogar o jogo do pau no Rossio e contar histórias sangrentas, que metem «bulhas» de sague, cabeças partidas, em feiras dos nossos avós. De pau na mão, homens que sabem historias mirabolantes disseram que vinham em paz... porque o passado (triste) não tem saudosistas. A missão era só mostrar como foi a célebre «justiça de Fafe», feita de paus que dobram mas não partem, que Camilo contou, como ninguém, sobre a pele do famosos Morgado. Homens adultos, rapazes e raparigas fizeram a viagem de autocarro, por iniciativa da Câmara Municipal da vila, a 16 quilómetros de Guimarães, que se quis associar assim, à estreia, no Teatro Nacional, da famosa peça de Camilo, o «Morgado de Fafe em Lisboa». Como não podia vir o Morgado, a Câmara mandou Fafe com os seus paus da «altura de um homem» e de bombos «feitos com pele de cabra» , que animaram a Baixa, alegraram os pombos que comem poluição e quebraram um pouco do «verniz» do velho Teatro D. Maria. Quatorze jogadores, onde se destaca um praticante com apenas 10 anos de idade, são dirigidos por «mestre» Filipe Freitas. O mestre ensina, encoraja, grita, atiça... parra parecer que tudo é real. Mas os tempos mudaram: «Antes, não era um jogo, era uma defesa», dizia. «Antes, vinha-se de namorar e, no meio do caminho, podia lá estar um ciumento e quem tinha unhas é que tocava guitarra». E, a talhe de foice, é um outro que acrecenta: «De vez em quando, lá morria um ou outro». «UM HOMEM SOZINHO PODIA VENCER 100» O funcionário camarário Fernando Meireles, condutor do autocarro que transportou a comitiva, puxa pela fita do tempo para falar das célebres feiras de sangue onde o pau era.. rei. «Ainda me lembro de ir para a feira de Fafe semanal, que ainda hoje se faz, e ver toda a gente com o seu lódum». Para os que não sabem, lódum é o nome que os fafenses dão à vara, ou pau, e que é extraído de uma árvore muito vulgar no Norte. «Lá na terra, diz-se: aquele tipo leva o lódum e não se diz que leva o pau». Este termo, refira-se, só é utilizado para classificar o nome do jogo, esse sim, «jogo do pau». E voltando às feiras, tudo era motivo para uma richa. Um mal entendido sobre uma donzela já amada, servia de «mola» para o ar. E, como dizia o outro, quem tinha unhas é que dava concerto: «Um homem sozinho», recorda Filipe Freitas, «podia vencer 10 ou 15. Dependia da habilidade e da genica dele. Uma vez lembro-me de que um tipo sozinho desviou mais de uma centena que o atacavam. Todos fugiram. Ele ganhou, sem ajuda de ninguém».
Habilidade, dizem os fafenses, é condição indispensável para classificar um bom ou mau jogador. Mas há outras: «É preciso treinar muito. É preciso suar mais. É preciso ter o braço duro e, sobretudo, multas pernas, porque o jogo do pau é, acima de tudo, um jogo de pernas». Quem diz é José Carlos Carvalho, o «mestre dos mestres», de Fafe, que ensinou muita gente a lidar com o lódum, mas nunca o usou «para defesa». Cantoneiro de profissão, José Carvalho, 49 anos, é um homem entroncado, rijo, para quem o jogo não tem segredos. «Truques»? Sim, o Jogo tom muitos, mas a brincar é uma coisa. A sério é outra, que não se podem mostrar aqui». Para este veterano da Sociedade de Recreio Cepanense, que se exibiu na Praça do Rossio, os jovens rapazes e raparigas do grupo são sinal positivo de que a tradição pode continuar viva. Todavia, um e outro não deixam de lamentar: «Há cada vez menos gente a jogar ao pau. Há mais para a bola do que para o pau. E é pena». » |
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