Artigo: Fafe veio a Lisboa com o pau que servia para matar os ciumes 1985: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
 
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* '''Título:''' Fafe veio a Lisboa com o pau que servia para matar os ciúmes
* '''Título:''' Fafe veio a Lisboa com o pau que servia para matar os ciúmes
* '''Autor:''' José Pacheico, fotos de Salvador Ribeiro
* '''Autor:''' José Pacheico, fotos de Salvador Ribeiro
* '''Publicação:''' Jornal «Correio da Manhã», Ano VII nº 2267 de 30 junho  
* '''Publicação:''' Jornal «Correio da Manhã», Ano VII nº 2267 de 30 junho 1985


== Resumo do artigo ==


O artigo descreve a visita de um grupo de jogadores do jogo do pau, ao Rossio, em Lisboa. A iniciativa foi da Câmara Municipal de Fafe. Os jogadores, liderados pelo mestre ''Filipe Freitas'', mostraram o jogo e contaram histórias de lutas sangrentas ocorridas em feiras do passado.
Os jogadores afirmam que a violência do jogo era uma forma de defesa pessoal em épocas em que não havia lei e ordem. Atualmente, o jogo é praticado como uma atividade desportiva e de preservação da tradição. É necessário treino, habilidade e agilidade para jogar bem, e os jogadores são classificados em bons ou maus de acordo com essas habilidades.
O "mestre dos mestres", [[Mestre: José Carlos Ferreira de Melo|José Carlos Carvalho]], veterano do jogo do pau, ensinou muitas pessoas a jogar e afirma que o desporto tem muitos truques que não são mostrados publicamente. Ele lamenta que cada vez menos pessoas estejam a jogar o pau, pois há mais interesse no futebol do que em desportos tradicionais. No entanto, a presença de jovens jogadores no grupo da visita é vista como um sinal positivo de que a tradição pode continuar viva.


== Excerto do artigo ==
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Fate desceuz sexta-feira para jogar o jogo do pau no Rossio e contar histórias sangrentas, que metem «bulhas» de sague, cabeças partidas, em feiras dos nossos avós.
Fate desceu sexta-feira para jogar o jogo do pau no Rossio e contar histórias sangrentas, que metem «bulhas» de sague, cabeças partidas, em feiras dos nossos avós.


De pau na mão, homens que sabem historias mirabolantes disseram que vinham em paz... porque o passado (triste) não tem saudosistas. A missão era só mostrar como foi a célebre «justiça de Fafe», feita de paus que dobram mas não partem, que Camilo contou, como ninguém, sobre a pele do famosos Morgado.
De pau na mão, homens que sabem historias mirabolantes disseram que vinham em paz... porque o passado (triste) não tem saudosistas. A missão era só mostrar como foi a célebre «justiça de Fafe», feita de paus que dobram mas não partem, que Camilo contou, como ninguém, sobre a pele do famosos Morgado.
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Homens adultos, rapazes e raparigas fizeram a viagem de autocarro, por iniciativa da Câmara Municipal da vila, a 16 quilómetros de Guimarães, que se quis associar assim, à estreia, no Teatro Nacional, da famosa peça de Camilo, o «Morgado de Fafe em Lisboa».
Homens adultos, rapazes e raparigas fizeram a viagem de autocarro, por iniciativa da Câmara Municipal da vila, a 16 quilómetros de Guimarães, que se quis associar assim, à estreia, no Teatro Nacional, da famosa peça de Camilo, o «Morgado de Fafe em Lisboa».


Como não podia vir o Morgado, a Câmara mandou Fafe com os seus paus da '''«altura de um homem»''' e de bombos '''«feitos com pele de cabra»''' , que animaram a Baixa, alegraram os pombos que comem poluição e quebraram um pouco do «verniz» do velho Teatro D. Maria.
Como não podia vir o Morgado, a Câmara mandou Fafe com os seus paus da '''«altura de um homem»''' e de bombos '''«feitos com pele de cabra»''', que animaram a Baixa, alegraram os pombos que comem poluição e quebraram um pouco do «verniz» do velho Teatro D. Maria.


Quatorze jogadores, onde se destaca um praticante com apenas 10 anos de idade, são dirigidos por «mestre» Filipe Freitas.
Quatorze jogadores, onde se destaca um praticante com apenas 10 anos de idade, são dirigidos por «mestre» Filipe Freitas.

Edição atual desde as 11h50min de 14 de maio de 2023

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: Fafe veio a Lisboa com o pau que servia para matar os ciúmes
  • Autor: José Pacheico, fotos de Salvador Ribeiro
  • Publicação: Jornal «Correio da Manhã», Ano VII nº 2267 de 30 junho 1985

Resumo do artigo

O artigo descreve a visita de um grupo de jogadores do jogo do pau, ao Rossio, em Lisboa. A iniciativa foi da Câmara Municipal de Fafe. Os jogadores, liderados pelo mestre Filipe Freitas, mostraram o jogo e contaram histórias de lutas sangrentas ocorridas em feiras do passado.

Os jogadores afirmam que a violência do jogo era uma forma de defesa pessoal em épocas em que não havia lei e ordem. Atualmente, o jogo é praticado como uma atividade desportiva e de preservação da tradição. É necessário treino, habilidade e agilidade para jogar bem, e os jogadores são classificados em bons ou maus de acordo com essas habilidades.

O "mestre dos mestres", José Carlos Carvalho, veterano do jogo do pau, ensinou muitas pessoas a jogar e afirma que o desporto tem muitos truques que não são mostrados publicamente. Ele lamenta que cada vez menos pessoas estejam a jogar o pau, pois há mais interesse no futebol do que em desportos tradicionais. No entanto, a presença de jovens jogadores no grupo da visita é vista como um sinal positivo de que a tradição pode continuar viva.

Excerto do artigo

« Fate desceu sexta-feira para jogar o jogo do pau no Rossio e contar histórias sangrentas, que metem «bulhas» de sague, cabeças partidas, em feiras dos nossos avós.

De pau na mão, homens que sabem historias mirabolantes disseram que vinham em paz... porque o passado (triste) não tem saudosistas. A missão era só mostrar como foi a célebre «justiça de Fafe», feita de paus que dobram mas não partem, que Camilo contou, como ninguém, sobre a pele do famosos Morgado.

Homens adultos, rapazes e raparigas fizeram a viagem de autocarro, por iniciativa da Câmara Municipal da vila, a 16 quilómetros de Guimarães, que se quis associar assim, à estreia, no Teatro Nacional, da famosa peça de Camilo, o «Morgado de Fafe em Lisboa».

Como não podia vir o Morgado, a Câmara mandou Fafe com os seus paus da «altura de um homem» e de bombos «feitos com pele de cabra», que animaram a Baixa, alegraram os pombos que comem poluição e quebraram um pouco do «verniz» do velho Teatro D. Maria.

Quatorze jogadores, onde se destaca um praticante com apenas 10 anos de idade, são dirigidos por «mestre» Filipe Freitas.

O mestre ensina, encoraja, grita, atiça... parra parecer que tudo é real. Mas os tempos mudaram: «Antes, não era um jogo, era uma defesa», dizia. «Antes, vinha-se de namorar e, no meio do caminho, podia lá estar um ciumento e quem tinha unhas é que tocava guitarra».

E, a talhe de foice, é um outro que acrecenta: «De vez em quando, lá morria um ou outro».

«UM HOMEM SOZINHO PODIA VENCER 100»

O funcionário camarário Fernando Meireles, condutor do autocarro que transportou a comitiva, puxa pela fita do tempo para falar das célebres feiras de sangue onde o pau era.. rei.

«Ainda me lembro de ir para a feira de Fafe semanal, que ainda hoje se faz, e ver toda a gente com o seu lódum». Para os que não sabem, lódum é o nome que os fafenses dão à vara, ou pau, e que é extraído de uma árvore muito vulgar no Norte. «Lá na terra, diz-se: aquele tipo leva o lódum e não se diz que leva o pau». Este termo, refira-se, só é utilizado para classificar o nome do jogo, esse sim, «jogo do pau».

E voltando às feiras, tudo era motivo para uma richa. Um mal entendido sobre uma donzela já amada, servia de «mola» para o ar. E, como dizia o outro, quem tinha unhas é que dava concerto: «Um homem sozinho», recorda Filipe Freitas, «podia vencer 10 ou 15. Dependia da habilidade e da genica dele. Uma vez lembro-me de que um tipo sozinho desviou mais de uma centena que o atacavam. Todos fugiram. Ele ganhou, sem ajuda de ninguém».

Habilidade, dizem os fafenses, é condição indispensável para classificar um bom ou mau jogador. Mas há outras: «É preciso treinar muito. É preciso suar mais. É preciso ter o braço duro e, sobretudo, multas pernas, porque o jogo do pau é, acima de tudo, um jogo de pernas».

Quem diz é José Carlos Carvalho, o «mestre dos mestres», de Fafe, que ensinou muita gente a lidar com o lódum, mas nunca o usou «para defesa». Cantoneiro de profissão, José Carvalho, 49 anos, é um homem entroncado, rijo, para quem o jogo não tem segredos. «Truques»? Sim, o Jogo tom muitos, mas a brincar é uma coisa. A sério é outra, que não se podem mostrar aqui».

Para este veterano da Sociedade de Recreio Cepanense, que se exibiu na Praça do Rossio, os jovens rapazes e raparigas do grupo são sinal positivo de que a tradição pode continuar viva. Todavia, um e outro não deixam de lamentar: «Há cada vez menos gente a jogar ao pau. Há mais para a bola do que para o pau. E é pena». »


Recorte Jornal CM 1985.jpg

Ver também

Referências