Artigo: Formação Jogo do Pau no Corpo de Fuzileiros 1984

Fonte: Jogo do Pau Português
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Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: Formação - Jogo do Pau
  • Autor: Melo e Sousa, 1º ten. SE
  • Publicação: Revista da ARMADA, nº 155, Agosto 1984


A Revista da Armada (RA) é uma revista fundada em julho de 1971 e editada mensalmente pela Marinha Portuguesa.

Os conteúdos da revista focam-se sobretudo com temas relacionados com a Marinha Portuguesa, sejam eles de caráter militar (estratégia, participação em ações - manutenção de paz, exercícios, SAR), sobre a vida da instituição (promoções, visitas de delegações e/ou navios estrangeiras), história (depoimentos na primeira pessoa, pesquisa histórica e científica, individualidades). [1]

Podemos ler neste número da revista, o anuncio à realização do 1.º Curso de Jogo do Pau ministrado por mestres da Associação Portuguesa do Jogo do Pau, a iniciar em Outubro de 1984 com a duração de 9 meses, dentro do âmbito do Corpo de Fuzileiros, e na sala de artes marciais desta unidade.

Excerto do artigo

« 1. Curso no Corpo de Fuzileiros - Vai-se realizar a partir do mês de Outubro e durante 9 meses, dentro do âmbito do Corpo de Fuzileiros, e na sala de artes marciais desta unidade, o 1.º Curso de Jogo do Pau ministrado por mestres da Associação Portuguesa da modalidade, que neste momento já é um éxito pelo número de inscrições que registou.

2. Um pouco de históna... — O jogo do pau, que também é conhecido por «esgrima nacional», é uma arte de luta tipicamente portuguesa, sendo a arma um pau direito e liso, com a altura de 1,60m, manejado adequadamente por cada um dos contendores, que com ele procuram, por um lado, atingir o/ou os adversarios e, por outro, defender-se dos golpes por estes desferidos.

Este tipo de luta remonta aos primórdios da nossa nacionalidade, sendo o seu berço no Minho, donde se expandiu para Trás-os-Montes e, mais tarde, para o Sul, onde se velo a fixar, principalmente na Estremadura e Ribatejo.

Nestas regiões rurais, o pau fazia parte da indumentária normal do homem do campo quando se deslocava a pé ou à cavalo, como companheiro e apoio, e, acima de tudo, como arma elementar para se defender de possíveis agressões de homens ou animais, e só se largava da mão enquanto o jovem conversava com a sua namorada na lareira da casa desta; então, o pau ficava à porta, para indicar aos outros que nada tinham que faze ali.

Nas terras do Norte, o pau era ainda uma arma por excelência, pois com ele resolviam-se os problemas diários que provinham, sobretudo, de rivalidades entre aldeias, de namoros, desvios de águas de irrigação, etc. O pau era, sem dúvida, uma arma eficaz; veja-se, por exemplo, um sucesso já de fins do século passado que teve lugar numa feira da Galiza e que é narrado por um galego, Xanquim Lourenzo Fernandez. de Orange, num artigo enviado por ele para o jornal «O Comércio do Porto», em 1950. intitulado O Varapaus Diz Fernandez:

Passou-se a coisa na feira de Porqueiróz, feira do ano, em que se juntaram feirantes de toda a comarca e fora dela. Os das diferentes freguesias iam com o seu gado e com os seus frutos, fazendo-se uma das melhores feiras da Caliza daquele tempo. Uma vez, ignora-se porquê, comecou uma rixa entre os feirantes e dois portugueses que, Vizinhos moradores naquelas terras havia já tempos, acudiram a Porqueiróz. A rixa assanhara-se e chegou, como sempre a hora dos paus. Um dos portugueses, ao ver o perigo, berrou ao seu companheiro.

- Oh Irmão Junta costa com costa!

Postos deste jeito, cada um com o seu varapau, defenderam-se os dois, sozinhos, dos que os atacaram. Durante muito tempo mantiveram-se firmes, a desperto dos muitos atacantes, pouco a pouco, foram-se desfazendo dos adversarios, uns feridos e outros acobardados. O triunfo coube-lhes a eles, que sozinhos «desfizeram a feira». Tal era a superioridade que lhes dava a sua perícia em jogar o pau.

E Fernandez, continuava:

No resto da Galiza, desconheço tal arma. E assim, parece-me evidente que se trata de um instrumento de origem portuguesa, o facto do seu emprego preferente nas terras raianas, e não no resto da Galiza e o de este se encontrar pelo contrário, de uso muito corrente em Portugal, a nacionalidade dos seus mais famosos cultivadores.

O jogo do pau, nessa altura, fazia parte da vida do português do Norte. Um pouco por toda a parte havia escolas, onde se juntavam os rapazes à volta dos mestres que faziam pagar bem as suas lições. Por volta dos anos 30, o jogo do pau, no Norte, foi atingido pela decadência, constituindo para tal a acção das autoridades policiais, proibindo o uso do pau nos recintos das feiras, o que originou um desfalque nos que poderiam vir a ser futuros puxadores (nome pelo qual eram designados os jogadores nortenhos).

O jogo do pau sofre então uma migração importante: partindo do seu núcleo onginal que foi o Minho, e assentando já raizes em Trás-os-Montes. ele parte em grande velocidade, fixando-se na Estremadura e Ribatejo. Em Lisboa aparecem vários clubes a incluir esta modalidade nas suas actividades, constituindo assim os primeiros centros na capital além dos «quintais», que eram recintos ladeados por um muro, fazendo-se a prática do jogo no pátio interior.

Mas também em Lisboa o auge desta arte durou pouco, e só através de carolas apaixonados o jogo do pau não desapareceu, estando hoje de novo a reviver com grande entusiasmo numa homenagem aos tempos heróicos dos velhos «puxadores».

3. Beneficios - Dizem, empiricamente, os antigos mestres, referindo-se ao jogo do pau, que «olho vê, o pé anda e o pau bate», o que refere uma atitude conjunta dos recursos psicofisicos: a existência dum objecto exterior, cujo manejo implica grande destreza, envolve um melhoramento da capacidade de percepção e, consequentemente, uma melhoria da própria consciência do corpo. Os diferentes ritmos a que a pratica sujeita, proporcionam o desenvolvimento das capacidades aeróbica e anaeróbica, adquirindo-se também uma melhoria no controlo respiratório e capacidade de recuperação.

Não se podem descurar os beneficios desta modalidade no equilibrio dinâmico, o que se associa à correccão de habitos posturais, bem como a relaxacão, linhas mestras da eficácia de execução.

Sob o plano psico-sociológico, o jogo do pau é de um extraordinario valor educativo, visto que à solicitado quer o esforço individual, em posicão a um ou mais adversários (treino, contrajocio, jogo de um para dois de um para três, etc.), quer o esforço coordenado com o de outros, em jogos de grupo contra grupos. jogo quadrado, etc, campos que reflectem os aspectos multifacetados da sociedade em que vivemos, sendo ao mesmo tempo uma escola de desenvolvimento das qualidades pessoais e sociais.

4. Terminando - É pois, necessário não deixar morrer esta arte, este desporto tipicamente nacional. A todos os bons portugueses se lança este alerta, muito especialmente àqueles que gostam do exercício físico em geral e também a todos aqueles que têm a cargo a difusão do desporto no nosso país.

Assim, desde já o aplauso da «Revista da Armada» pela iniciativa do Corpo de Fuzileiros, o que irá beneficiar a difusão desta modalidade, para além dos conhecimentos utilíssimos de que a Armada irá beneficiar dentro do campo desportivo, numa modalidade de tão pofundas característicasnacionais. »

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