Artigo: JP - O Jogo do Pau - O que se sabe acerca desta luta tipica portuguesa

Fonte: Jogo do Pau Português
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Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Jornal: SP
  • Autor: Armando Sacadura
  • Publicação: Setembro/Outubro 1974

Resumo do artigo

O artigo aborda a história e a evolução do Jogo do Pau Português, como uma forma de luta com paus que se originou na Península Ibérica e que foi usada pelos lusitanos contra as forças romanas. Com o tempo, a técnica evoluiu e se tornou uma esgrima tipicamente portuguesa. Houve mestres que estudaram a luta e criaram técnicas mais eficientes, levando a uma maior disseminação do jogo. São apresentadas três escolas principais de jogo do pau em Portugal: a do Norte, a da Moita do Ribatejo e a de Alhos Vedros. O jogo é considerado uma prática viril que desenvolve reflexos, rapidez, fôlego e visão. O artrigo destaca que os praticantes não são desordeiros e que muitos dos praticantes atuais, mesmo os mais velhos, são ágeis e capazes de competir com os mais jovens. O autor também menciona a importância dos ginásios e clubes para a disseminação e aperfeiçoamento da modalidade.

Artigo

« A ocupação da Península Ibérica pelas forças romanas foi dificultada por um grupo de heróis que, escondidos nos Montes Hermínios, lhes opuseram grande resistência. Esse grupo de lusitanos mais não tinha para se defender que paus e pedras em abundância. Disto se conclui que, já nessa altura, se fazia a luta com pau.

Com o decorrer do tempo, a técnica foi melhorando, sendo hoje considerada uma esgrima tipicamente nacional. No início, era tomada como jogo ele arruaceiros e campónios. Porém, com o tempo e os aperfeiçoamentos introduzidos, foi possível interessar outras camadas sociais, chegando a entrar no Palácio Real, pois, como se sabe, o Rei D. Carlos foi um dos seus praticantes. Ramalho Ortigão e Ressano Garcia foram igualmente amadores desta forma de luta.

Entretanto, apareceram mestres que estudaram esta esgrima, criando pancadas e defesas mais eficientes. A pouco e pouco. a arte de dar pauladas espalhava-se por todo o país.

A Lisboa de 1900 era diferente da de hoje. Esta luta era aqui praticada e ensinada por mestres vindos do Norte, sendo as lições bem pagas. Apesar disso, havia gente que andava quilómetros para as receber.

As rivalidades entre quintais dos arrebaldes lisboetas, onde era praticada, tornou-se notória, pois cada um procurava superiorizar-se aos outros. O bom nome de cada mestre e, portanto, de cada escola, era reconhecido, pois tratava-se de um cargo que só era confiado aos jogadores mais peritos e experientes.

Em 1898, o Ginásio Clube Português iniciou o ensino em ginásios. Seguiu-se o Ateneu Comercial de Lisboa e, mais tarde, o Lisboa Ginásio Clube. Todavia, esta agremiação por pouco tempo o protegeu. Presentemente, deve-se aos dois primeiros clubes o não ter morrido esta modalidade portuguesa em Lisboa e, com ela, a técnica mais avançada, que pertenceu a mestre Frederico Hopffer, o qual nos legou um livro técnico sobre a modalidade, infelizmente esgotado. Nessa obra, fruto de intensos estudos, consegue o autor transmitir-nos ensinamentos cite colhera de seu mestre, Domingos Salreu - criador dos meios saídos e meios entrados, ou sejam pancadas rápidas e violentas - além doutras. Esta inovação obriga os jogadores a tomarem maior precaução e a terem a vista habituada a pequenas distâncias, entre a ponta do pau do adversário e o seu próprio corno.

Os portugueses têm três escolas desta esgrima: a do Norte, em que as pancadas são desferidas com as duas mãos, não se ligando importância à maneira de pisar o terreno; a da Moita do Ribatejo, onde mestre Silvino Melro, que tem uma escola de mais de 40 jogadores. Não inclui no seu ensino uma posição definida dos pés: e a de Alhos Vedros, onde José Ribeiro Chula mantem um aperfeiçoamento digno de louvor, mas não tem, como gostaríamos de ver, uma escola como a da Moita.

Em Lisboa, onde há grandes possibilidades de aprender por existirem ginásios e outras regalias. Os praticantes não passam de uma dezena por clube.

Nesses três estilos, houve alguns jogadores que se distinguiram, atingindo elevada categoria. Ainda hoje é recordado a nome de Júlio Hopffer, dotado de uma moral sã, modesto, gentil para com o adversário, possuidor de uma técnica que o tornou o melhor de todos. O jogo do pau é um jogo viril, mas os seus praticantes não são desordeiros. Quebrou barreiras e hoje está ao alcance de todos os que queiram tirar proveito desta prática, pela diversidade ele movimentos a que obriga. Desenvolve os reflexos, a rapidez, o fôlego e a visão. A mobilidade que dá permite conservar a frescura física com o avançar dos anos. Basta lembrar que muitos dos praticantes atuais, já longe da juventude, continuam ágeis como se contassem menos trinta anos de idade: por exemplo, Domingos Miguel, grande praticante, apesar dos seus 72 anos; António Caçador, 65 anos; Manuel Tabuada, 59 anos; Pedro Ferreira, 54 anos; Elias Gamero, 50 anos; Silvino Melro, Ribeiro Chula e outros. Diga-se que não é fácil defrontar qualquer um destes jogadores desde que não seja um praticante conhecedor.

No jogo do pau não pode haver competição, quer pela violência, quer pelo perigo que correria o jogador mais fraco, visto ser jogado sem qualquer precaução, porque assim se evita que, devido a armaduras protetoras, a técnica ficasse diminuída, por a luta se tornar mais lenta e perder a pureza e honestidade.

Os estrangeiros têm reconhecido o valor desta esgrima e já vieram até nós estudar a técnica, como aconteceu com os japoneses, brasileiros e americanos.

Seria muito útil que esta forma de luta. genuinamente portuguesa, fosse amparada e o seu ensino generalizado. Especialmente entre os escoteiros poderia a sua prática ser incentivada, porque se trata de um desporto do ar livre.

Os jogadores do Ginásio Clube Português estão sempre prontos a exibir-se gratuitamente em festas de beneficência, como meio de propaganda desta luta. »


Recorte jornal Armando Sacadura.jpg

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