Artigo: José do Telhado

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: José do Telhado
  • Autor: Sarg.-aj. Joaquim Soares Reis
  • Publicação: Revista da ARMADA, nº 176, Maio 1986


A Revista da Armada (RA) é uma revista fundada em julho de 1971 e editada mensalmente pela Marinha Portuguesa.

Os conteúdos da revista focam-se sobretudo com temas relacionados com a Marinha Portuguesa, sejam eles de caráter militar (estratégia, participação em ações - manutenção de paz, exercícios, SAR), sobre a vida da instituição (promoções, visitas de delegações e/ou navios estrangeiras), história (depoimentos na primeira pessoa, pesquisa histórica e científica, individualidades). [1]

Podemos ler no nº 176 desta revista, na secção de cartas ao editor, uma carta enviada pelo sarg.-aj. A RF Joaquim Soares Reis, onde junta um recorte do jornal «O Tempo», de Penafiel, que reescreve uma carta escrita pelo próprio punho do José do Telhado à sua mulher Ana em 1862.

Este mesmo leitor, relata também uma memória bem viva da sua família, onde um antepasado seu, de nome «Zé Pardal», padeiro de profissão, fez um jogo de pau com José do Telhado, em 1858.

Excerto do artigo

O jornal «O Tempo», no seu primeiro número de 1930 publicou: «Uma carta do José do Telhado».

« José do Telhado, a quem a má sina arrastou para inóspitos sertões africanos, nao era, como alguns o querem supor, um descrente, nem um coração cerrado a sentimentalismos. Disso é prova a carla a que hoje damos publicidade, dirigida a mulher, escrita sem pontuação e em excelente caligrafia, que devido a amabilidade de um amigo, conseguimos copiar do original para, textualmente, ser inserta em «O Tempo».

«Ambriz 21 de Dezembro de 62
Anna
Tenho escrevido muitas cartas e ainda de nenhuma recebi resposta tua agora fago esta por mão própria só para vêr se ella é entregue manda-me dizer o que é passado contigo para eu daqui mesmo vêr se te remedeio alguns males eu entrei no perdão do casamento do Rei fiquei em 15 annos contando o dia que sahi de Lisboa se Deos me conservar ainda tenho esperança de vêr essa terra mas talvez mais prompto que tu pensas se Deos me ajudar Anna eu o que estimo é que tenhas saude em companhia dos meninos e meninas a quem muito me recomendo nao posso ser mais extenso que o Vapor está a sahir e com isto adeos até a vista.
Deste teo marido que a Vida te deseja por muitos annos.
José Teixeira da Silva Telhado
Escreve-me para Ambriz. »

«lll ma Senhora Anna Lentina de Campos Freguesia de S. Pedro Rei de Caide — logar da Sobreira pelo correio de Vila-manha Provincia do Minho Lisboa.»

No papel em que esta carta foi escrita, notam-se vestigios de lagrimas, certo lagrimas de saudades amaríssimas. »

Jogo de pau feito entre «Zé Pardal» e «José do Telhado». Testemunho colhido de um dos filhos do «Zé Pardal», padeiro também, que viveu em Vila-Boa de Quires, de nome Florindo.

« Diz Soares Reis que «Zé do Telhado» era natural das imediações das freguesias de Caíde ou Vila Meã, a que ele chamava Vila Manhã. Sendo ele também natural daquelas terras muito tem ouvido contar a seu respeito e relata um caso que se passou com um seu ascendente de nome «Zé Pardal», padeiro de profissão, que morava num local denominado Rua Sobre-Tâmega', sobranceiro a ponte romana ali existente. O caso passou-se por alturas de 1858, apés um assalto pela quadrilha do «Zé do Telhado» num solar que ainda hoje existe um pouco antes da barragem do Carrapatelo, além da vila de Marco de Canavezes, onde o bandoleiro foi julgado.

Ele e os seus companheiros da quadrilha, que como constava na região e no país, não roubavam, mas tiravam para o seu sustenio e para distribuir pelos pobres, estavam depois do assalto a descansar sentados em pedregulhos, no sopé das alminhas, a entrada da ponte ja citada.

A certa altura, vendo aproximar-se o vulto de um homem com um cajado na mão, um dos seus gritou-lhe:
«Olhe, chefe, aquele é o ‘Zé Pardal’, que por bem nao faz mal a ninguém, mas que é um ás no jogo do pau».

Logo o «Zé do Telhado» desafiou o Pardal para um joguinho de pau a beira do rio, ficando os outros a ver, do alto, o resultado. Os dois contendores andaram muito tempo a paulada, mas nenhum vencia o outro. Então, pondo o cajado ao alto, o «Zé do Telhado» disse ao adversario:
«Olha, amigo Pardal, dá cá um abraço e segue o teu caminho em paz».
E, puxando de uma bolsa, ofereceu-lhe duas libras em ouro e ainda um naco de presunto, que ainda restava do assalto ao solar.

«Agora — acrescentou —, vai dizer aos teus compadres que te bateste comigo e que não conseguiste vencer-me». »

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