Artigo: Revista Dirigir - O que é bom nacional é bom

Fonte: Jogo do Pau Português
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Sobre

  • Relevância: ★☆☆
  • Título: O que é bom nacional é bom
  • Autor: Albuquerque Tavares (Licenciado em Educação Física)
  • Publicação: Revista «Dirigir», data desconhecida

Resumo

O artigo aborda o jogo de consumir e as diferentes dimensões de consumo, desde necessidades básicas até vaidade e pertencimento a um grupo. Sugere-se que, durante o tempo de lazer, as pessoas devem considerar consumir produtos nacionais, como o jogo do pau, uma arte marcial tradicional portuguesa. O jogo do pau evoluiu de uma prática anárquica para uma forma desportiva rigorosa, com diferentes escolas de ensino. Destaca-se a fraternidade e a alternância de momentos de brilho entre os participantes. O jogo do pau ajuda a compreender a importância do corpo, a distinguir necessidades básicas e supérfluas, e a ter uma visão clara das diferentes dimensões de consumo na sociedade.

Artigo

« Quando entramos num jogo, conscientes ou não, há que aceitar as suas regras ou sair definitivamente para o lado. De que falamos? Do jogo de consumir. E disso que falamos. Produzir para consumir. Consumir o que é necessário e o que é desnecessário. Da sobrevivência à pura vaidade, do desejo individual e intransmissível até à vontade de pertencer a um grupo, tudo razões e justificações para diferentes dimensões de consumo. Umas são boas — poderão dizer alguns — outras são más, mas como distingui-las? Qual o critério?

Aceitemos o jogo e joguemos o melhor possível, Se há que consumir também no período de lazer, porque não consumir nacional?

Em vez das actividades estrangeiras mergulhemos, decididos, nas actividades portuguesas, que são nossas e só nossas. E mergulhar no que é nosso é mergulhar no que o povo produz.

Nesta área de diversão e manutencão da forma física, se algo nos pertence por direito próprio é o jogo do pau, esse jogo tão popular nas zonas afastadas dos grandes centros e tão incitador da curiosidade até nos citadinos mais empedernidos. O que lhe propomos é então agarrar com força uma actividade que já vem do século altura em que os habitantes da província, não tendo mais nada para se defender, pegavam em varapaus e utilizavam-nos para se exercita-rem e se prepararem para a ocorrência de urna guerra ou algo semelhante.

Começando por ser urna arte quase totalmente anárquica, o jogo do pau ganhou gradualmente solidez de gestos transformando-se numa prática desportiva rigorosa, com desenvolvimento em três escolas: a do Norte, que inclui a Galiza onde este jogo é muito popular, a do Ribatejo, onde o combate privilegiado é o da curta distância levando por isso os praticantes a correrem mais riscos, mas aumentando com muito a espectacularidade do jogo, e, por fim, a de Lisboa, onde a segurança é total já que existe um sistema e uma organização defensiva, extremamente rigorosa.

É bom não esquecer que nesta última escola foi regulamentando este jogo, através da aquisição de muitos, gestos técnicos vindos da esgrima do sabre e de florete. O jogo do pau é assim uma arte marcial que, embora tipicamente portuguesa, apresenta semelhanças com outras artes como por exemplo o kendo — clássica arte marcial japonesa. Como bons filtradores das coisas boas, os Portugueses retiraram o rigor de muitas técnicas das artes marciais orientais e juntaram-lhe o bom gosto português. Não é por acaso, aliás, que a designação "mestre", marcadamente oriental, foi, desde o início utilizada no jogo do pau, preferindo-se um mestre que não fosse bom jogador — pois desse modo poderia ter tendência para ocultar os seus segredos dos eventuais aprendizes/adversários — mas que fosse, sim, um homem com capacidade de liderança e com temperamento suave, capaz de passar aos seus alunos essa aversão aos excessos e essa tranquilidade muito característica de um modo de ser que nos habituámos a ver nos mestres chineses e japoneses. Bebendo esta sabedoria ancestral, o jogo do pau tem essa característica bela — que só faz bem a quem está habituado a competir constantemente no âmbito empresarial — que é a de ser um jogo onde de certa maneira é necessário, e mesmo imprescindível, urna certa fraternidade entre oponentes que, mais do que adversários, são colaboradores numa actividade de lazer. É muito comum existirem neste jogo períodos alternados de brilho, por assim dizer, de cada um dos participantes. Não por palavras, mas por gestos e movimentos, é como se se repetisse constantemente: "Ora agora defendes tu, ora agora atacas tu", que é o mesmo que dizer: "Ora agora brilhas tu, ora agora brilho eu".

Jogo portanto de gente fraterna, jogo popular e do bom, jogo que deve ser seguido de um bom vinho, à taberna se possível, jogo que não magoa e que exercita todos os instintos de ataque e defesa, jogo fácil, jogo onde os professores não são melhores do que os alunos, mas apenas mais tranquilos, jogo que nos mostra claramente a importância do corpo, o seu sofrimento, o seu prazer, uma luta de corpos que não se tocam; jogo que nos possibilita urna aproximação ao essencial e urna distinção clara entre necessidades básicas e supérfluas do corpo, e entre gestos necessários e gestos ocos, desnecessários: jogo de aprendizagem da eficácia dos movimentos, jogo, enfim, que corno todas as artes marciais, nos faz estar perante qualquer coisa — produto, palavra, atitude — sabendo bem quais as urgentes e quais as prescindíveis.

Mas, peço desculpa. desviei-me do assunto. Dimensões de consumo? Que pode isto ter a ver com um simples e popular jogo do pau?

Quase nada.

Quase tudo. »

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Referências