Artigo: Saint-Hilaire e as "Requisições" em Lisboa – material do Brasil e outro

Fonte: Jogo do Pau Português

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  • Título: Saint-Hilaire e as "Requisições" em Lisboa – material do Brasil e outro
  • Autor: Doutor Miguel Telles Antunes
  • Publicação: Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research medium, Uberlândia, v.2, n.2, p.392-464, jul./dec. 2011


Em Novembro de 1807 entrou em Portugal um exército francês comandado por Junot, iniciando a invasão napoleónica. Logo destituída a Junta Governativa deixada pelo Regente, Junot tomou o poder até a expulsão, meses depois. Aproveitando a oportunidade, o Muséum de Paris e seu Ministro da tutela patrocinaram uma missão (1808) do Professor Geoffroy SaintHilaire para "requisitar" (para não dizer, roubar) espécimes das colecções portuguesas.

Excerto do Artigo

Destacamos neste artigo uma carta do Professor Geoffroy SaintHilaire para o Monsieur Cuvier, director do Muséum d’Histoire Naturelle, datada de 17 de Março 1808.

Nessa carta, Geoffroy informa que quando estava retido na prisão de Mérida, e em determinada altura, quando os populares tentavam invadir a prisão, a guarda conseguiu repelir os inimigos, mas um só homem fez mais que todos, o chefe dos agentes de justiça, que «corajosamente se empenhou em defender-nos no exterior. O seu varapau, que baixava a cada momento, foi mais eficaz que as baionetas.»

« Meu digno amigo,

Quando ia informá-lo acerca da minha chegada a este país, recebi a carta que me deu o prazer de me escrever para Madrid. Os conselhos que nela me dá sobre as dificuldades que eu iria encontrar nesta última cidade far-me-iam saber, se não tivesse já mil outras provas, toda a previsão do vosso espírito e toda a vossa amizade para comigo. Visto que estou em Lisboa, devo dizer que eu tinha avaliado perfeitamente o meu terreno. (...)

Preparado para fugir à noite por vias desviadas, a fim de evitar o encontro com um grupo que vinha de adiante de nós para nos fazer em bocados, fui preso pelos magistrados de Mérida, os quais haviam expedido cavaleiros que nos alcançaram em San Pedro. (...) Entrei, por fim, num asilo que se tornava para mim num porto de salvação, a prisão dos criminosos de Mérida. Aí, fomos misturados com eles, severamente revistados e espoliados. Encontramo-nos na situação de invejar os miseráveis com os quais partilhávamos o alojamento, os farrapos sobre os quais apoiavam a cabeça; os ferros de um deles foram o meu travesseiro.

Para cúmulo do infortúnio, esses prisioneiros partilhavam o patriotismo dos homens livres. Assim, tínhamos inimigos no próprio local, mas depressa os conquistamos graças à nossa liberalidade. Seguros por dentro, estávamos na maior inquietação quanto ao exterior. No dia seguinte houve dois assaltos por mais numerosos populares para entrar na prisão ou nos tirar de lá. Enfim, tentaram a via do incêndio. A guarda repeliu os nossos inimigos com bastante energia, mas um só homem fez mais que todos, o “alguazil mayor” (chefe dos agentes de justiça), homem extremamente forte, o qual nos tinha maltratado dentro da prisão conforme podia fazer, mas que, certo de ter bem servido a causa dos espanhóis nestas circunstâncias, corajosamente se empenhou em defender-nos no exterior. O seu varapau, que baixava a cada momento, foi mais eficaz que as baionetas.

A ordem da nossa libertação foi dada pelo general de Badajoz desde que soube da nossa aventura » (pp.236-237)

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