Doc: O Jogo do Pau Português no Brasil

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: O Jogo do Pau Português no Brasil
  • Autor: Paulo Lopes
  • Publicação: Núcleo de Estudo e Investigação do Jogo do Pau Português da Stafffighters, fevereiro 2023


Este artigo é o resultado e a compilação de uma vasta pesquisa na literatura brasileira entre 1740 e 1970, sobre o Jogo do Pau, que engloba livros, jornais e revistas. Foram lidos e analisados mais de uma centena de artigos, todos dentro do contexto do Jogo do Pau, contudo, somente oitenta e três artigos foram selecionados para análise e tese deste artigo. Todos estes artigos foram colocados online e disponibilizados de forma livre e gratuita nesta wikipédia, onde pode aceder em AQUI.

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1822 a 1860

Em 1807, o exército francês invadiu o Reino de Portugal, que se recusava a participar do bloqueio continental contra o Reino Unido. Incapaz de resistir ao ataque, a família real e o governo português fugiram para o Brasil, que era então a mais rica e desenvolvida das colónias portuguesas. Em 16 de dezembro de 1815, o Príncipe Regente D. João, eleva o Brasil à condição de reino, unido com a sua ex-metrópole.

No entanto, em 1820, a revolução liberal eclodiu em Portugal e a família real foi forçada a retornar a Lisboa. Antes de deixar o Brasil, D. João nomeou o seu filho mais velho, D. Pedro de Alcântara de Bragança (D. Pedro IV), como Príncipe Regente do Brasil.

Em 12 de outubro de 1822, o príncipe foi aclamado D. Pedro I, Imperador do Brasil, coroado e consagrado em 1.º de dezembro de 1822. O país passou a ser conhecido como o Império do Brasil, estabelecendo assim a sua independência.[1]

Após a morte do seu pai D. João VI, em 1826, D. Pedro I é designado rei de Portugal pela regente D. Isabel Maria e outorga aos portugueses a Carta Constitucional de 1826. Quis abdicar em favor da sua filha, D. Maria da Glória (futura rainha D. Maria II), mas a guerra civil travada entre liberais, liderados por D. Pedro, e absolutistas, liderados por seu irmão D. Miguel, que também pretendia o trono, adiou a coroação de D. Maria até 1834.[2] As Cortes de agosto de 1834 confirmam a regência de D. Pedro, que morre no mês seguinte, a 24 de setembro, quatro dias após o início do reinado de D. Maria II.

Infelizmente não existem muitas fontes escritas históricas sobre o Jogo do Pau neste período, apenas sabemos que D. Pedro I, cognominado "o Libertador" e "o Rei Soldado", adorava atividades físicas, era polémico e há quem diga que era hiperativo[3]. Segundo o Correio Paulistano, foi celebre pela devassidão, amores fáceis e também pelo Jogo do Pau.[4]


Em 1850, um registo feito pelo antropólogo belga Alfonso Mabilde, relata um confronto entre Manoel José Pereira, um marinheiro português e jogador do pau contra vários coroados. Segundo Mabilde, entre os homens que, de janeiro a julho de 1850, o acompanharam nas matas perto de Santa Cruz do Sul, havia um português, Manoel José Pereira, que, durante vinte anos, tinha servido como marinheiro a bordo de um navio de guerra português. Tinha ele uma destreza extraordinária no manejo do pau, além da força muscular de que era dotado. (saiba mais)

1860 a 1900

À imagem do que se passava na capital portuguesa, na segunda metade do século XIX, também no Rio de Janeiro havia vários espetáculos de exibição de Jogo do Pau Português. Contudo, contrariamente ao espetáculo português, onde a exibição era feita por um assalto de dois jogadores, como acontecia na esgrima de espada, nas exibições brasileiras, os assaltos eram executados muitas vezes de um jogador contra quatro, por cinco, e até houve de um contra doze ou vinte adversários. Possivelmente este tipo de espetáculo só era possível no Brasil, porque estes espetáculos eram feitos em recintos abertos, enquanto em Lisboa, parte dos espetáculos eram feitos no Coliseu dos Recreios.

Podemos constatar nos vários artigos de jornal da época, que estas exibições eram sempre executadas e apresentadas por portugueses, descartando assim, a existência de outro tipo de jogo do pau nativo.

E curiosamente, sempre que o Jogo do Pau está patente num espetáculo onde incluí outros tipos de jogos, como o sabre, florete, box, etc., o Jogo do Pau é sempre anunciado em destaque e como sendo o preferido pelo público.

«Saiu à luz esta brilhante quadrilha: 1ª parte, o jogo do florete; 2ª dita, o jogo da espada; 3ª dita, o jogo da savage; 4ª dita, o jogo da capoeira; 5ª dita, o celebre jogo do páo
"Jornal Commercio" de 15 de setembro 1867 (ver mais)

«ASSALTO DE ARMAS. FRANCEZES, HESPANHOIS E PORTUGUEZES. haverá jogo de florete, espada, savate e luta romana, jogo de savate por M. Felippe e um amador, jogo de socco, e finalmente irá o grande jogo do páo portuguez
"Correio Mercantil e Instructivo Politico Universal" de 1 novembro de 1868 (ver mais)

«Seguir-se-ha o jogo de florete, espada, frecha, bengala, boxa e savate, e o grande jogo de páo portuguez, como ainda se não tem visto no Rio de Janeiro; rogase ao respeitavel publico que haja de honrar com a sua presença esto grande assalto, porque verão a defesa de um homem para outro, e de um para dous, e de quatro contra um corpo de cavallaria e finalmente a defesa de um para 12 ou 20
"Jornal Commercio" de 26 julho 1868 (ver mais)

Daniel Woodruff, um ex‑agente da Scotland Yard em visita ao Rio de Janeiro no mês de dezembro de 1868, documenta vários episódios vividos nesta cidade e fala-nos de Miguel Coutinho Soares, também conhecido como o Miguelzinho da Viúva. Um excelente Jogador de Pau e de faca. (saiba mais)

Nos finais dos anos 70 do século XIX, o jogo e treino começou a ser proibido devido a vários desacatos e mortes derivadas desta prática.

Podemos encontrar nos jornais da época:

« Publicações a pedido ao Sr. Dr. chefe da policia. Os moradores do morro da Mangueira, cançados de assistirem a ensaios de jogo de páo e capoeira, rogam a S. Ex. o favor de fazer cessar semelhante avuso. Uma testemunha.»
"Jornal da Tarde" de 12 fevereiro de 1876 (ver mais)

«(...) O dono do botequim n. 22 da rua de S. Jorge tambem foi intimado por estar fazendo barulho a exercitar-se no jogo do páo. »
"Diário do Rio de Janeiro" de 8 de maio 1877 (ver mais)

«O Dr. João Sertorio, Juiz de direito do 5 districto criminal, escrivão Tupinmamá, julgou provada a denuncia dada pela promotoria publica contra Pedro José da Silva Guimarães e Antonio José da Silva Guimerães, o pronunciou-os no art. 193 do codigo criminal. Estes accusados, sãos os auctores da morte de Fuão Mello, que na rua da Princeza n. 149 por questões de Jogo de pau tiveram renhida lucta, da qual foi Mello assassinado e os accusados feridos, como deram notícia os jornaes.»
"Gazeta de Noticias" de 7 de setembro de 1877 (ver mais)

« Jogo do páo - Este divertimento não é permitido pela policia, por isso que um grupo, que se achava na rua do Senado, junto à porta de uma estalagem, estando a exercitar-se no manejo do cacete, interveio o rondante e prendeu Manoel Fernandes Portinho, logrando evadirem-se os seus companheiros.»
"Jornal do Commercio" 14 de dezembro 1877 (ver mais)

« Hontem abriu-se a sessão do jury com 39 jurados (...) Por denuncia do adjunto dos promotores publicos, consta do processo, que ás 8 horas da noite de 1 de março d'este e ando os accusados, estando a divertir-se no jogo de páo, dentro da estalagem n. 37 da rua S. Luiz Gonzaga, começaram a alterear entre si: chegando a patrulha de duas praças do corpo policial, que rondava no logar, elles a agrediram, armados de paus, ferindo na cabeca o no braço direito á praca Manuel Vicente Almeida. Interrogados no tribunal declararám os accusados que eram portugugueses, todos maiores de 20 annos, solteiros, um trabalhador braçal e os cinco carroceiros : que não foram eles que ofenderam os praças.»
"Gazeta de Noticias" de 15 de setembro 1883 (ver mais)

« Pedem-nos para chamarmos a attenção da policia para alguns individuos que reunem-se na rua do Imperador todas as tardes, em desenfreado jogo de páo.»
"O Fluminense" 20 de julho 1888 (ver mais)

Para mitigar os problemas existentes causados pelo Jogo do Pau, a sua exibição em espetáculos foi também proibida.

Podemos encontrar em 15 de abril de 1882, vários anúncios de um espetáculo de Jogo do Pau a ter lugar no dia 16 do mesmo mês, mas imediatamente no dia seguinte, o Jogo do Pau é substituído por Jogos de Salão, por ordem do Chefe da Polícia.

«Atenção! Grande novidade! Attenção! o sempre desejado JOGO DO PÁO (á portugueza) executado por distinctos professores»
"Jornal do Commercio" 15 de abril 1882 (ver mais)

«o sempre desejado JOGO DE PÁU Á PORTUGUEZA não poderá ter logar em vista da ordem de S. Ex. o Sr. Dr. chefe de policia (...) em substituição do Jogo de páu, será apresentado ao publico pela familia paulistana, sob a direcção do Sr. Benito Moralles, que graciosamente se prestam, os bonitos JOGOS DE SALÃO»
"Gazeta de Noticias" 16 de abril de 1882 (ver mais)

Em 1889, a República é proclamada.

Em 1890, é publicado um romance naturalista do brasileiro Aluísio Azevedo com o nome de "O Cortiço". O autor pretende denunciar a exploração e as péssimas condições de vida dos moradores das estalagens ou dos cortiços cariocas do final do século XIX. Podemos encontrar nesta obra uma das cenas mais emocionantes de todo o romance, onde Jerónimo, jogador de pau e migrante português, confronta Firmo, um jogador de capoeira. (saiba mais sobre este livro)

Nas últimas duas décadas deste século, pouco se fala do Jogo do Pau, devido à proibição policial como já referenciado atrás, mas também, possivelmente devido ao surgimento de um novo sport que começa a dar os primeiros passos e que irá mudar o desporto do Brasil no próximo século - o futebol.

1900 a 1920

No primeiro quartel do novo século, o Jogo do Pau volta à moda, possivelmente associado ao novo conceito de «sportman» migrado pela Europa, o Jogo do Pau volta para os cartazes de exibições e também para a prática desportiva.

« (...) Inaugura-se também amanhã, no Moulin o interessante sport do jogo do páo, por uma troupe de amadores portuguezes. »
"Jornal do Brasil" de 6 de setembro de 1908 (ver mais)

« No fim de cada secção haverá um assalto de jogo de páo por quatro amestrados esgrimistas portuguezes. »
"Jornal do Brasil" de 9 de setembro de 1908 (ver mais)

« AERO CLUB BRASILEIRO. Em assembleia geral convocada no dia 6 do corrente, ás 8 horas noite, pela junta governativa do extincto Club Sportivo dos Liberaes, foi deliberado entre a mesma e seus ex-associados, reorganizar-se um novo Club denominado Aereo Club Brasileiro, com o fim de proporcionar nos seus socios os seguintes sports : aeronautica, cyclismo, esgrima e tiro ao alvo, existindo tambem uma escola, para o celébre jogo de páo. »
"Gazeta de Noticias" de 8 de janeiro de 1909 (ver mais)

Podemos encontrar num sarau desportivo, realizado em 21 de agosto de 1909 no Palace Theatre, o cooperativismo entre a Escola de Equitação do Centro Hippico e o Ginásio Clube Português, onde compareceram vários «sportmans» do Rio de Janeiro e Lisboa, havendo no evento um assalto de Jogo do Pau entre Ernesto Liebermeister e Augusto Cunha. (ver mais)

Em 1913, o Athletico Internacional Club, promove e faz vários eventos de Jogo do Pau no Rio de Janeiro, tendo como jogadores principais Joaquim Pereira Couto e Manoel Pereira, apoiados de outros tantos jogadores.

Destacamos o evento apresentado ao público no dia 21 de setembro, no Circo Spinelli, e outro evento no dia 25 de setembro no Botafogo Foot-Ball Club (hoje chamado Botafogo de Futebol e Regatas).

O evento do Botafogo Foot-Ball Club é anunciado na "Revista da Semana" com o título «o renascimento do Jogo do pau».[5] O evento teve o tempo estimado de duas horas, distribuio entre seis assaltos de dez minutos cada, com intervalo musical entre os assaltos.

Podemos ver nestes seis assaltos, jogo entre um contra um jogador, um jogador contra quatro e até contra cinco jogadores.

« Athletico Internacional Club
O Jogo do páo

No campo do Botafogo Foot-Ball Club, á rua General Severlano haverá hoje um grande "match" de "jogo do páo" dedicado aos Srs intendentes Argentinos e ao dr. Bernardino Machado, ministro de Portugal.

As "quiniclas" do jogo estão assim discriminadas:

1ª quinicla - "Imprensa Carioca" - Medalha de Prata, ás 3 horas em ponto,
Jogadores: José Alves de Amorim "versus" Manuel Pereira.

2ª quinicla - "Intendentes Argentinos" - Medalha de Ouro, ás 3 e 20: tempo 10 minutos.
Jogadores: Joaquim Vieira Couto "versus" José Alves Amorim, Pedro Pereira, Franklin Ferreira, Agostinho Vieira e Manuel Pereira.

3ª quinicla - "Colonia Portuguesa" - Medalha de Prata, ás 3 e 40: tempo 10 minutos.
Jogadores: Franklin Ferreira "versus" Agostinho Vieira.

4ª quinicla - "Lauro Muller" - Medalha de Ouro, ás 4 horas: tempo 10 minutos
Jogadores: José Alves de Amorim, Agostim Pereira, Franklin Ferreira, Pedro Ferreira "versus" Joaquim Pereira Couto.

5ª quinicla - "Federação Geral do Trabalho" - Medalha de Prata, ás 4 e 20: tempo 10 minutos
Jogadores: Joaquim Pereira Couto "versus" Pedro Ferreira.

6ª quinicla - "Classe dos Empregados do Commercio" - Medalha de Prata, 4 e 40: tempo 10 minutos
Jogadores: Pedro Pereira, Franklin Ferreira, Manuel Pereira, Agostinho Pereira, José Alves de Amorim "versus" Joaquim Pereira Couto. »
Jornal "A Imprensa" de 24 agosto 1913


Algumas fotografias do evento de 1913 no Botafogo Foot-Ball Club


No Circo Spinelli, podemos constatar pela publicação abaixo, que o tipo de jogo feito nesta exibição foi «um tanto violento».

« Abriram o jogo, com a primeira "quinella", Joaquim Pereira Couto e Manoel Pereira. Seguiram-se mais quatro "quinellas" em que tomaram parte os jogadores Amorim, Franklin, Pinheiro. Ferreira e, Pereira.

A última "quinella", em que entraram todos os jogadores, foi muito interessante, terminando por um magnifico "sarilho" de Couto, que pôz em debandada todos os contendores.

O "match" foi fechado com um assalto entre Couto e Manoel Pereira; este, um tanto violento, tocou o seu adversario no pulso, porém o invencivel Couto, depois de brincar um pouco, deu-lhe com o pão nos rins, empatando assim com o adversario. »
Jornal "O Imparcial" de 22 agosto 1913 (ver mais)

« Realiza-se amanhã ás 3 horas da tarde, no Circo Spinelli, (...) um match do jogo do páo, promovido pelo Athletico Internacional Club. O match, que tem despertado o interesse no nosso meio sportivo, promete levar aquele local numerosa assisstência. »
Jornal "O Paiz" de 20 setembro 1913 (ver mais)

Encontrámos outro evento no dia 12 dezembro de 1915, com uma exibição de Jogo de Pau no campo do Fluminense Futebol Club. Este evento foi promovido pela Empresa de Diversões Sportivas e tiveram presentes oito jogadores portugueses, sendo quatro jogadores do Minho e os outros quatro do Douro. Os assaltos de Jogo de Pau foram dirigidos pelo professor Paulo Lauret[6].

« (...) O povo, composto na sua maioria dos elementos da colonia portugueza, encheu literalmente as archibancadas; em geral a affluencia foi tão numerosa, que a multidão invadiu o campo, formando extensas fileiras, contidas por praças da cavalaria de policia.

Às 4 horas entraram em campo os jogadores de páo, iniciando-se o seguinte programma:

1ª parte:
1º - Cumprimento do jogo do páo por ambos os grupos.
2º - Laçamento - Ensilhamento e montagem de um potro chucro. Systema do Rio Grande do Sul.
3º - Assalto de Jogo do páo, pelo systema do Minho e Douro (jogo passado) 4º - Laçamento. Montagem em pello de um burro "chucro" pelo systema do Ceará.

2ª parte:
5º - Laçamento, ensilhamento e montagem de um burro "chucro", pelo systema do Rio Grande.
6º - Fantasia do jogo do páo
7º - Laçamento, montagem em pello de um cavallo selvagem, systema mineiro.

Os assaltos do jogo do páo sob a direcção do Sr. Paulo Lauret, foram, alguns deles, emocionantes, arrancando muitas vezes os mais frenéticos applausos da multidão.

Os ataques e contra-ataques, praticados com excepcional agilidade, resumem o valor do jogo do páo. O vara-páo, manejado em todos os sentidos, ameaça constantemente o adversário com golpes certeiros e decisivos. Há passes elegantes e "poses" chornographicas, não há vencedor, o que destoa sobremodo o jogo. (...) »
"Gazeta de Noticias" de 13 de dezembro 1915 (ver mais)

Embora o programa deste evento tivesse sido bom e promissor, o mesmo não foi respeitado e a qualidade dos "jogadores profissionais" foi muito questionada. Segundo o "Jornal do Brasil", os jogadores «parecem profissionais arranjados ás pressas, só dois ou três são regulares, apesar da visivel indecisão e falta de treino com que manobram a vara, os demais nada valem (..) A direcção tecnica do jogo, o arbrito, isso ninguem sabe por onde andou.» (ver mais)

Por outro lado, o jornal diário «A Noite», diz-nos que «o público numeroso, que lá afluiu para apreciar a originalidade da festa, aplaudiu com calor os diversos números do programa, que muito agradaram.» (ver mais)

Facto é que no dia seguinte ao evento, o ilustre professor Paulo Lauret declarou a toda a imprensa Paulista, que apenas foi contactado pela empresa para exercer o cargo de juiz dos jogadores, dos quais nunca fora professor, como veio, por engano, a ser publicado. (ver mais)

No domingo seguinte, dia 19 de dezembro, a Empresa de Diversões Sportivas cria novo evento no mesmo local e recebe um desafio de três jogadores amadores contra os profissionais. Este repto foi imediatamente aceite com uma aposta de 500$000 (quinhentos mil reis), onde o jogador profissional Joaquim Pereira Couto iria combater com todos eles. (ver mais)

Infelizmente não sabemos se houve realmente um duelo, vencedor ou até evento. Nada foi escrito na comunicação social, nem deste evento, nem de outro qualquer promovido pela dita Empresa de Diversões Sportivas.

Na capital brasileira, o Jogo do pau não é só espetáculo, é também um sport aliado ao exercício físico escolar, como também acontecia nesta altura na capital portuguesa. Num pequeno recorte de jornal de 1915, podemos encontrar uma demonstração de Jogo do Pau numa festa de ginástica e esgrima dada pelo Colégio Dioceano São José, hoje Colégio Marista São José. (ver mais)

Em 1917, é realizada uma tourada na praça das Neves em Nitheroy, com assaltos de Jogo do Pau executados pelos discípulos do professor José da Silva Martins "O Ferrador de Fafe", onde é anunciado que o evento «marcará um assalto de ataque de morte», e convida qualquer espetador que queira, a tomar parte do "torneio". (ver mais)

Em 1919, podemos encontrar o Jogo do Pau executado várias vezes por portugueses de Penafiel, no intervalo da peça "O 31" (ver mais). No mesmo ano, houve também Jogo do Pau nas festas operárias na Quinta da Boa Vista, no domingo de 15 de junho. (ver mais)


Algumas fotografias das festas operárias na Quinta da Boa Vista


Até 1913, só encontramos publicações sobre o Jogo do Pau no Rio de Janeiro. Possivelmente porque foi esta a cidade que recebeu a família real e mais de 15.000 portugueses em 1808, migrando deste modo, a cultura e a prática do Jogo do Pau. Depois dessa data, podemos encontrar também algumas publicações sobre o Jogo de Pau nos jornais de São Paulo, destacando-se entre elas, alguns saraus e festas desportivas, com outros desportos da época, como o box, esgrima, ginástica, etc.

« Foi, sem sombra de dúvida, uma linda festa, o sarau de gala no Theatro Municipal (...) uma esplendida prova dos excellentes methodos empregados na educação physica dos nosso officiais e praças, methodos que levaram aos magnificos resultados hontem apreciados, quer na esgrima, gymnástica, jiu-jitsu, ou ainda no box francez e jogo do pau. »
"Correio Paulistano" de 15 novembro 1913 (ver mais)

« CRUZ VERMELHA DOS ALLIANDOS - O festival de hontem no "Miramar"
(...) O torneio de "jogo do pau" foi disputado pelos srs. José Rodigues dos Santos, Joaquim Pereira da Silva, Joaquim Martins e João Andrade. (...) »
Jornal "A Tribuna" de 13 outubro 1915

Como já acontecia no Rio de Janeiro, começou também a existir na cidade Paulista, alguns eventos de espetáculo com o Jogo do Pau.

« Festa desportiva. No dia 28 do corrente, realiza-se no campo do Parque Antaretica uma grande festa sportiva promovida pelo Sport Club Luzitano (...) Entre outros haverá o jogo de pau à portugueza, disputado por profissionais. »
"Correio Paulistano" de 7 março 1915 (ver mais)

« Este teatro estará de gala, para a grande festa da colonia portuguesa (...) Nos intervallos haverá um encontro de jogo de páo, entre profissionais recentemente chegados de Lisboa, que apresentam este jogo, tal qual se joga em Portugal. »
"Gazeta de Noticias" de 16 de fevereiro de 1919 (ver mais)

Em 1916 é exibido em São Paulo, no Miramar, um torneio de jogo do pau com a participação de 10 jogadores portugueses, onde estão presentes os dois campeões Joaquim Couto e Manoel Pereira. Estes jogadores tiveram também presentes no evento de Jogo do Pau no dia 25 de agosto de 1913, no Botafogo Foot-Ball Club, pelo Clube Athletico Internacional.

Estes jogadores estão divididos em dois grupos, um do Minho, representado pelo seu campeão Joaquim Pereira Couto e o outro pelo Douro, representado pelo seu campeão Manoel Joaquim Pereira.

É feito ainda um desafio a todos os jogadores amadores e profissionais que queiram desafiar os dois campeões, com um prémio de 200$000 (duzentos mil réis).

« (...) terá lugar hoje, no Miramar, o torneio de jogo do páo portuguez em que toma parte uma turma de 10 valentes jogadores, entre eles campeões Joaquim Pereira Couto e Manoel Joaquim Pereira. Trata-se do autentico jogo do pau executado por especialistas vindo directamente de Portugal.

O programa do torneio é o seguinte:

Apresentação e cumprimentos dos jogadores.

Primeira parte
1º - Fantasia do jogo por sportmen (Douro e Minho).
2º - Ataque de dois contra dois (Douro er MInho).
3º - Idem, idem.
4º - Assalto das duas turmas - Grande fantasia.

Segunda parte
5º - Ataque especial dos campeões Joaquim Pereira Couto e Manoel Joaquim Pereira, dedicado à colonia portugueza, de Santos.
6º - Joaquim Pereira Couto campeão do Minho, em ataque à turma do Douro.
7º - Fantasia do jogo.
8º - Manoel Joaquim Pereira, campeão do Douro, contra a turma do Minho. Ameio do assalto, entrarão os companheiros em seu auxilio generalizando-se a sensacional luta (varrer feira) entre as duas turmas.

Os 2 campeões aceitam qualquer desafio que lhe seja feito e offerecem 200$000 a quem os vencer. »
"A Tribuna" de 9 janeiro 1916 (ver mais)

A título de exemplo da prática do Jogo do Pau como exercício físico em São Paulo, podemos encontrar na revista «Illustracao de S. Paulo» de 1919, umas fotografias da força pública a executar algumas posições do Jogo do Pau. (ver mais)


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Em 1917, na cidade de Manaus, a mais populosa do Amazonas, a 4.000 km da capital, encontramos uma exibição de Jogo do Pau, executado por portugueses no Circo Alhambra

« CIRCO ALHAMBRA - Dedicado à colonia portugueza, haverá hoje, neste centro de diversões uma animada função composta de numeros inteiramente novos, destacando-se o jogo do pau, por players portuguezes.
É de esperar, por isso, que ao circo aflua esta noite uma enorme concorrencia. »
"A Capital" de 27 agosto 1917 (ver mais)

Depois de 1920

Depois de 1920, raras são as referências ao Jogo do Pau na comunicação social brasileira, apenas encontramos quatro pequenos recortes de jornal de 1926, 1927, 1938 e 1939, em São Paulo. Durante este período o jogo do pau é apresentado somente como exercício fisico, havendo alguns eventos, mas como desmonstrações da atividade físicas.

« GYMNASIO INDEPENDENCIA (...) Exercícios fisicos ao ar livre diariamente - Campo de foot-ball, Patinagem, Tennis, Gymnástica sueca, Box, Jogo de pau, etc. »
"Correio Paulistano" de 22 de junho de 1927 (ver mais)

« Um atraente festival no C.R. Tieté - S. Paulo. Educação fisica (...) 2 - Demonstração de golpes e paradas do jogo de pau por dois monitores. »
"Correio Paulistano" de 1 outubro de 1937 (ver mais)

Em 1938, na comemoração do seu 4º aniversário da Policia Especial, é feita uma festa desportiva onde é executada uma demonstração de Jogo do Pau.

« A Policia Especial vai comemorar com varias solenidades, no proximo dia 21, o quarto aniversario de sua fundação e a inauguração oficial do quartel da corporação.
Às 9 horas - Desenvolvimento de um programma esportivo, a cargo do director de Educação Physica da unidade, com demonstracões de pugilismo, luta livre, jogo de pau, capoeira, bailados e alta gymnastica. »
Jornal "Correio Paulistano" de 15 junho de 1938 (ver mais)

Links externos

Ver também

Refreências

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil
  2. https://www.parlamento.pt/VisitaParlamento/Paginas/BiogDPedroIV.aspx
  3. LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I – Um herói sem nenhum caráter. Companhia das Letras: São Paulo, 2006
  4. "Correio Paulistano" de 2 novembro 1900 (ver mais)
  5. Revista da Semana, Nº 694 de 30 agosto 1913 (ver mais)
  6. Ginasta, teórico e professor de Educação Física português. Saiba mais na wikipédia