Livro: A Sibila

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★☆☆
  • Título: A Sibila
  • Autor: Agustina Bessa-Luís (1922-2019)
  • Publicação: Editora Nova Fronteira, 1954


A Sibila é um romance de Agustina Bessa-Luís publicado em 1954. O título remete para as figuras clássicas das sibilas, como a Delfos, a mais célebre de todas. No romance, a palavra indica a protagonista, a Quina. Este romance venceu o Prémio Delfim Guimarães e o Prémio Eça de Queiroz. [1]

O romance, A Sibila, descreve a trajetória da família Teixeira e da sua casa secular que caminha da decadência/ruína ao ressurgimento grandioso/triunfal. Situada no norte de Portugal, a casa de Vessada é o primeiro motivo para o registo de situações que acontecem tanto entre paredes, como nas redondezas da casa.

As situações vividas e descritas revelam gradativamente o sistema de valores que rege um universo fechado. Ao mesmo tempo deixam entrever a visão de mundo dos homens e mulheres que povoam esse universo, notoriamente a partir de uma força que emana do lado feminino: sob a gestão de mulheres fortes e destemidas, capazes de lutar para o reerguer do seu património. O saber mandar da mulher vai se revelando e efetivando-se após um incêndio da casa. [2]

Excertos da obra

« Se havia homem pronto a vingar de compadrio, a ensarilhar o pau, a varrer testadas, fazendo acudir a tropa entre o escabrear do gado e os gritos das ovelhas que se esgueiravam de rastos, salvando na abada do avental o que restasse do gigo dos ovos, era esse Francisco Teixeira. »

« Subitamente, um redemoinho de desordem ferveu, alastrando logo com um corricar de cachopos que se arrastavam sob as pernas do poviléu, e o escândalo ainda morno, ainda lento, das mulheres que reajustavam na nuca os lenços de algodão e buscavam no poial das portas um degrau seguro para abrigadamente presenciarem. Mas a luta embraveceu, magotes como vagas chocaram-se, confluindo das margens do largo, ouvia-se entre gritos o seco rumor dos paus que embatiam, estalavam, eram lançados longe, caindo sobre as tendas ou os arraiais das louceiras. E, então, numa clareira que se foi desenhando mais vazia, mais circular, destacou-se o pequeno vulto de Francisco Teixeira que avançava, grave e tranquilo, repelindo à sua volta o eriçado dos marmeleiros que combatiam, iam cedendo, recuavam, dispersando-se nas alas da multidão que se agitava, ondulando como um corpo que voga na maré. Havia sangue; os andores tinham parado na ladeira e os anjos choravam, não se atrevendo a abandonar o posto, suados sob as vestes debruadas com pele branca, de coelho, as botas amarelas de duraque muito atufadas na poeira. Sob o pálio, o abade, recolhido, mansamente esperava, entre as opas vermelhas cujas pregas o sol riscara de violeta e as filas de crentes ajoelhados sobre os lenços de bolso. «Então essa guarda?».
(...)
Olhava Francisco Teixeira, veio como ele, esgotado os adversários, se detivera no largo varrido, verificando a solidez do varapau, que varava o ar com silvos prolongados. Depois, calmo afastou-se por entre a multidão, e nem uma vez se voltou. »

« - Que me interessa essa gente? - dizia. - A quem pode interessar é ao José do Telhado.

Maria fazia má cara, como sempre, a esta referência ao famoso quadrilheiro, outrora amigo íntimo e mestre de jogo-do-pau de Francisco Teixeira. Mesmo durante a sua breve existência de banditismo, tinham ambos conservado uma discreta amizade, um fundo de tolerância mútua, que se compreendia sem se comprometer. »

Ver também

Links externos

Referências