Livro: As farpas

Fonte: Jogo do Pau Português
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capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: As farpas : chronica mensal da politica das letras e dos costumes
  • Autor: Ramalho Ortigão (1836-1915)
  • Publicação: Lisboa : Typ. Universal, de Maio 1871 a Junho 1883
  • Formato: 14 cm


As Farpas foram publicações mensais escritas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós, iniciadas no mesmo ano da realização das Conferências do Casino. Decerto foram inspiradas em Les Guêpes (1839-1849), de Alphonse Karr (1808-1890).[1] As Farpas aparecem em 1871, assinadas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós até o ano seguinte, e somente pelo primeiro até o fim, 1882.[1] Subintitulando-se "O País e a Sociedade Portuguesa", os folhetins mensais d'As Farpas constituem um painel jornalístico da sociedade portuguesa nos anos posteriores a 1870, erguido com bonomia, sentido agudo das mazelas sociais, um alto propósito consciencializador, e uma linguagem límpida e variada.[1]

Sabia que Ramalho Ortigão também jogava ao pau? Saiba mais aqui.

Excertos da obra

Em Portugal o minhoto , nosso comprovinciano , nunca se bate senão á paulada; o transmontano vinga-se a tiro . O unico portuguez para quem a faca é arma predilecta é o extremenho, e principalmente o lisboeta. É uma influencia do meio em que vive e da educação que recebe.
Pag. 236 in «As Farpas» - A Capital - Tomo VII (ler livro no Google Books)

(...) Nada d'isso em Villa Viçosa. Apenas os pobres breaks da casa real no seu choito ronceiro, a coutada batida á paulada pelos moços do campo, os gôsos que apparecerem para ladrar, e o tiro à espera, a pé firme, porque não ha cavallos adestrados para a corrida nem rins de cavalleiros que se aguentem nas sellas (...)
Pag. 246 in «As Farpas» - A Capital - Tomo VII (ler livro no Google Books)

(...) Ao primeiro boi , os espectadores mais ávidos saltam para a frente d'estes obstaculos, e do segundo boi por deante a trincheira é completamente composta de gente .

A cada tentativa do bicho para arremetter contra esta sebe humana, o ponto da trincheira atacada ouriça - se de varapaus ferrados, e o boi é rechaçado a pontoadas sangrentas pelo focinho. Se porventura ensarilha com os cajados, atraz de cada um d'estes, que quebra ou que vôa desem polgado pelos ares, o boi encontra um homem de pulsos de ferro que o pega de cara, collando.se - lhe na testa como uma estampilha n'uma carta.
Pag. 309 in «As farpas» - O Paiz e a Sociedade portugueza - Tomo VI (ler livro no Google Books)

(...) Entre nós, apenas algum, menos anemico, descendente de apoplecticos menos vezes sangrados, sustenta ainda a bravura hereditaria da raça nobre, brandindo o marmeleiro legado ao canto dos solares de provincia pelos extinctos capitães - móres, para, n'um repente sanguineo de colera ou de ciume , varrer uma feira ou extender á bordoada no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival.
Pag. 122 in «As farpas» - Os individuos: Jeronymo Collaço (ler livro no Google Books)

(...) Na controversia do jornalismo em que ha tanta má fé, tanta miseria e tanta porcaria envolvida no conflicto das opiniões oppostas, o melhor jôgo é ainda assim o jôgo de varrer... Por mais violencia que haja, os bons principios salvam - se sempre.
Pag. 225 in «As farpas» - Os individuos: O Bispo de Vizeu (ler livro no Google Books)

(...) Podes contar, José , que ao pôres o pé em terra, tens sobre o teu corpo dois marmeleiros reaes! Dois somente, se El - Rei se não quizer associar comnosco para te punir. Se o Poder Moderador, como é de esperar do seu brio, se quizer reunir a este acto de nobre despique, então em vez de dois marmeleiros a cingirem-te as vertebras, terás três - os de cada um de nós e o de — um alto personagem.
Pag. 185 in «As farpas» - Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão (ler livro no Google Books)

(...) Não tem elementos alguns solidos e vali dos de trabalho e de riqueza propria. Tambem não procura creal-os. Vive do Brazil. Assim como o habitante de Lisboa se sustenta á custa do Estado, ou servindo - o ou explorando-o, assim o habitante do Minho, quando não é brazileiro, ou serve ou explora o brazileiro. E é d'isso que vive. D'isso, de jogar o pau, de fazer eleições e de rezar ás almas. De resto, bom homem.
Pag. 202 in «As farpas» - Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão (ler livro no Google Books)

(...) Duas horas depois o meu amigo partia para a Regoa, onde seu extremoso pae, prevenido pelo te legrapho, o esperava, no alto dos Padrões da Teixeira, de braços abertos e um marmeleiro em cada braço.
Pag. 101 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: A Batota (ler livro no Google Books)

Uma coisa inteiramente especial e digna de estudo é o aspecto das numerosas diligencias (...) que circulam sobre estas estradas, desde os Arcos e desde Ponte do Lima até Vianna.

Fóra, em vez de irem empilhados como no interior, os passageiros são ensandwichados methodicamente com as bagagens e com as mercadorias, pela ordem seguinte : camada de mercadorias, primeira camada de passageiros, primeira camada de bagagens, segunda camada de passageiros, segunda camada de bagagens ; e em cima de tudo isto o penso para os garranos, os merendeiros e os varapaus dos passageiros (...)
Pag. 11 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Nas margens do Lima (ler livro no Google Books)

Antigas purgas de jalapa, de rhuibarbo , de sene e maná, purgas grossas, espessas, de confiança , tomadas ás tijellas, pez de Borgonha para o peito ou para o espinhaço, ipecacuanha como vomitivo, causticos, cataplasmas de mostarda para chamar abaixo os humores, enxofre para as fogagens da pelle, bichas para o hemorrhoidal e para as contusões por cargas de pau, agua de vegeto para os simples gallos e para os golpes, constituem toda a pharmacopêa local.
Pag. 16 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Nas margens do Lima (ler livro no Google Books)

(...) e o rêgo d'agua passa adeante á leira do vizinho . D'ahi, frequentes conflictos que ou se resolvem ao varapau e á choupa, ou se submettem ao lettrado e ficam sendo objecto judicial de litigio em infinda veis demandas.
Pag. 57 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: A sorte das aldeias (ler livro no Google Books)

(...) D'outra vez, n'uma empresa de José Lombardi, os coristas e os comparsas, armados de páus, appareceram no palco com o panno em cima e desafiaram os espectadores pateantes; o publico subiu á scena, e, de pois de uma terrivel lucta de homem a homem, foi varrida a companhia toda para a rua, á bordoada. Metade das senhoras que assistiram a esse especta culo nunca visto sahiram dos camarotes para os seus carroções levadas em braços, desmaiadas ou em convulsões de nervos.
Pag. 166 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: No Porto (ler livro no Google Books)

(...) Pobre José da Viuva! O teu modesto nome, triste e sympathico, não será repetido em artigos banaes pela imprensa, nem figurará em epitaphios idiotas nos mausoléos do cemiterio dos Prazeres. O prior da tua freguezia, ultimamente accusado de ter morto com uma paulada na cabeça uma das ovelhas do seu rebanho, não veiu grunhir o latim da agonia sobre a tua ultima hora.
Pag. 310 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Trafaria (ler livro no Google Books)

Os deputados que para ahi tenho expedido á custa de muita intriga, de muito dinheiro, de muito copo de vinho e de bastantes bordoadas distribuidas com as listas á bôcca da urna (...)
Pag. 104 in «As farpas» - A religião e a arte (ler livro no Google Books)

(...) davam-lhes as brôas e as amendoas pelas festas do anno, esperà vam pelas rendas, punham os varapaus argolados dos seus moços e os d'elles proprios ao serviço da nossa causa (...)
Pag. 105 in «As farpas» - A religião e a arte (ler livro no Google Books)

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Ver também

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Referências