Livro: Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança
  • Autor: Padre F. Manuel Alves (1865-1947)
  • Publicação: Porto: Tipografia a Vapor da Empresa Guedes, 1910
  • Formato 401 páginas


Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança ou repositorio amplo de noticias chorographicas, hydro-orographicas, geologicas, mineralogicas, hydrologicas, biobliographicas, heráldicas, etymologicas, industriaes e estatisticas interessantes tanto à historia profana como ecclesiastica do districto de Bragança. Composto por 11 Volumes.

O Abade de Baçal foi o padre e historiador português Francisco Manuel Alves, nascido em Bragança, Portugal, em 1864 e falecido em 1947. Ele ficou conhecido como Abade de Baçal por ter sido pároco na freguesia de Baçal, no distrito de Bragança. Dedicou a sua vida a recolher testemunhos arqueológicos, etnológicos e históricos respeitantes à região de Trás-os-Montes e, especialmente ao distrito de Bragança. Autodidacta erudito, rústico e pitoresco.[1]

Resumo

Podemos encontrar no 1.º Tomo (Porto, Typographia a Vapor da Empresa Guedes, 1909), relatos do abade de Baçal, sobre lutas entre aldeias rivais, relativos a finais do século XIX e princípios do século XX, uma das quais chegou a durar um dia e uma noite e fez muitos mortos e feridos. [2]

Podemos encontrar no 7.º Tomo (Os notáveis - Porto: Tipografia da Empresa Guedes, 1931), Canedo, um "varredor" de feiras e romarias nos séculos passados. Era um brigão notável, natural de Santulhão, concelho de Vimioso, que eventualmente encontrou o seu fim num motim durante a romaria do Santo Antão da Barca, no concelho de Alfândega da Fé, em 1902.[3]

Excertos

« Foi o condestável, com a sua gente, demandar a Torre de Moncorvo, onde foram recebidos com delirante entusiasmo, por aqueles povos se verem livres das devastações dos castelhanos, que, senhores das praças de Chaves e Bragança, onde acoitavam os roubos, assolavam aquela região, obrigando frequentemente seus moradores a passarem da enchada ou fouce à espada, lança e chuço, quando não era a clássica roçadoura ou bordão de carvalho. No dia seguinte marcharam para o vale da Vilariça ou Valariça, como escreve Fernão Lopes, onde el-rei veio reunir-se, o que deve ter tido lugar pelos 15 de Maio de l386 (...) »
(Tomo I - Página 70)

« A 22 de Março de 1868 fizeram-se as eleições de deputados. Pelo círculo de Vinhais (...) Houve protesto contra o acto eleitoral de Penhas Juntas e Vinhais. O desta última fundava-se em que não tinha havido liberdade na urna porque nos dias anteriores ao da eleição o administrador do concelho (...)

(...) que à contagem das listas levantaram grande tumulto e vozeria no adro da igreja e às portas da Assembleia vários empregados e agentes do administrador, armados todos de machados, paus, fouces-roçadouras e bacamartes, armando-se o próprio administrador com uma fouce-roçadoura e seu irmão com um grande facalhão; (...)

Ao terminar esta irregularissima operação (a do apuramento dos votos) uma horda de selvagens de Moimenta, armados de paus ferrados e fouces-roçadouras, invadiu o templo sem respeito pela religião nem consideração pela vida dos seus concidadãos, quebrou para cima de trinta cabeças, havendo mais de cem ferimentos e muitos braços fracturados. »
(Tomo I - Página 223-225)

« Os de Moimenta bramem frementes de indignação; os que estavam dentro da igreja tentam fechar as portas, mas em vão; dezenas de estadulhos, roçadouras e paus ferrados já ficam entalados entre as duas folhas, que por último cedem aos impulsos da força indómita que os sacode e aquela turbamulta entra ululante, blasfema, sacrílega no lugar sagrado, despedindo pancadas, facadas, tiros e socos em quem encontra. »
(Tomo I - Página 228)

« Parada e Pinela

No domingo, 11 de Agosto de 1895, os habitantes de Paredes, no concelho de Bragança, fizeram uma festa e juntamente uma representação. Os da Parada e Penela, que já andavam rixosos, vieram às mãos desancando-se fortemente à bordoada e a tiros de armas de fogo, ficando feridos dezoito homens de Parada.[4] »
(Tomo I - Página 231)

« Carção e Santulhão

É antiga a rivalidade entre estas duas povoações. Ultimamente, porém, havia já passante de quarenta anos que se davam bem. Mas em Junho de 1901 quiseram bater, em Santulhão, num homem de Carção e depois, como desforço tundiram nesta povoação um dos tais pretensos batedores. Na feira de Izeda de 26 de Julho tornaram-lhe a jeira, espancando um de Carção.

Na festa da Senhora das Graças, os de Santulhão vieram armados com paus e fouces, mas como os não deixassem entrar senão desarmados retiraram sem querer assistir à festa. Passados dias, foram três homens de Santulhão a Carção, dizem que por aposta, pimponice de valentões, mas foram espancados fortemente. Chegadas assim as coisas ao ponto de tensão máxima, os de Santulhão no dia 1 de Setembro desse ano de 1901 resolvem ir sobre os seus rivais, armados de paus, foices, armas de fogo, etc. Apenas a notícia corre em Carção, tocam os sinos a rebate e tudo, até mulheres e velhos, marcha ao encontro dos invasores que encontram nas eiras de S. Roque. Ferve a pancadaria: um de Santulhão cai logo morto e outro gravemente ferido, e só então é que os desta povoação retiram perseguidos até às marras do termo. De parte a parte o número dos feridos foi avultado. »
(Página 231-232)

« Entre as povoações dos Olmos e Lombo, por um lado, Peredo e Chacim, pelo outro, houve rija pancadaria na romaria de Balsemão, no dia 9 de Agosto de 1902. O barulho durou quase vinte e quatro horas, havendo mortos e subindo a algumas dezenas o número dos feridos »
(Tomo I - Página 233)

« A 1 de Maio de 1834 organizou o pároco de Algoso, juntamente com o capitão-mor da mesma vila, uma guerrilha intitulada Reunião Restauradora dos Direitos de Miguel I, composta de uns duzentos homens armados de espingardas, paus e roçadouras, que atacou no dia 3 a vila de Algoso, onde aclamou D. Miguel e depôs as autoridades constitucionais «afixando as Proclamações do nosso Monarca nos pelourinhos e portas das igrejas». Marcharam seguidamente à cidade de Miranda, que se entregou sem resistência, no dia 4, mas no dia seguinte o governador da praça auxiliado por duzentos carabineiros espanhóis, pelos guerrilhas de Bragança, e de Freixo de Espada à Cinta, à qual pediu auxílio, atacou os miguelistas e retomou a praça, após um ataque de três horas, pondo-os em fuga desordenada e perseguindo-os até à Coitada, entre Macedinho e Bagueixe, onde os derrotaram e a guerrilha se desfez completamente, escapando o capitão-mor em cima de um negrilho em Sanceriz e o padre debaixo de uma cama em Bagueixe se bem que por pouco tempo, pois foi preso e a 19 de Maio desse ano de 1834 dava entrada na cadeia de Bragança, donde a 19 de Junho seguinte foi removido para a Relação do Porto e lá esteve até 20 de Outubro de 1835. »
(Tomo VIII - Página 16)

« Conhecemos o caso do Canedo, notável brigão, natural de Santulhão, concelho do Vimioso, que alfim foi vítima das tempestades semeadas, sendo morto num motim, em 1902, na romaria de Santo Antão da Barca, concelho de Alfândega da Fé.

A lira popular entoava:
Já mataram o Canedo
Mas não foi na sua terra;
Foi no Santo Antão da Barca
Desviado da capela.

(...)

O Canedo «homem valente e destemido», de nome António Martins Padrão, também conhecido por António Canedo, como declara uma carta confidencial do administrador do Vimioso de 20 de Fevereiro de 1863 para o governador civil, participando-lhe que, juntamente com Sebastião Chumbo, de Argozelo, cometeram um crime no dia 14 na feira de Outeiro. «São temiveis e lestos», diz o administrador. A tradição diz que o Canedo era tão valente que partia as algemas com que o manietavam e que por mais de uma vez arrebentou as grades da cadeia do Vimioso.


»
(Tomo VII - Página 190, 648-649)

Ver também

Referências

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Abade_de_Ba%C3%A7al
  2. Livro "O sangue e a rua : elementos para uma antropologia da violência em Portugal (1926-1946) (ver mais)
  3. Livro «Cancioneiro Tradicional e Danças Populares Mirandesas» de 1984 (ver mais)
  4. Gazeta de Bragança de 20 de Agosto de 1895 e O Nordeste do mesmo dia