Livro: Noticia sumaria acerca do Soajo

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: Notícia sumária acerca do Soajo
  • Autor: Félix Alves Pereira
  • Publicação: Estudos do Alto-Minho XV-XVI, Lisboa, 1914


O livro Noticia sumaria acerca do Soajo de Félix Alves Pereira, editado em 1914, é um estudo histórico e etnográfico sobre a vila de Soajo, no norte de Portugal. O autor apresenta informações sobre a história, a geografia, a economia, a cultura e as tradições da região, bem como as características das suas gentes.

O livro é dividido em várias partes, começando com uma introdução que descreve a geografia e a história do Soajo, seguida por capítulos sobre a sua economia, agricultura, pecuária e indústria. O autor também aborda as questões sociais, como a educação e a religião, e explora as tradições culturais e festivas da vila.

Uma grande parte do livro é dedicada à descrição dos habitantes do Soajo, a sua forma de vida e as suas tradições. O autor destaca a importância da família na vida das pessoas da vila, bem como a sua relação com a terra e os animais. Também é dado destaque às festas religiosas, como a festa de São João e a festa do Senhor dos Aflitos.

Resumo do excerto da obra

O excerto relata um episódio ocorrido há vários anos nos Arcos, uma vila de Portugal, envolvendo os habitantes locais e os soajeiros, serranos destemidos. Os soajeiros, querendo se vingar de agravos sofridos em romarias de outras freguesias, escolheram um dia de feira na vila dos Arcos para se confrontarem com os moradores locais, subindo provocativamente a calçada que leva ao local da feira. A autoridade administrativa, que estava prevenida, tentou dialogar com os chefes dos soajeiros, mas sem sucesso. Assim, os moradores locais, munidos de varas, responderam à provocação com uma pancadaria que acabou por afugentar os soajeiros. No fim, houve um morto entre os vencedores, e o episódio ficou conhecido como o "dia do juízo" nos Arcos.

Excerto da obra

« A verdade é que, em tempos antigos, sempre que nos Arcos se falava em que os soajeiros queriam descer à vila em atitude hostil, o susto não era pequeno. Lembro-me disso em criança.

Há alguns anos sucedeu porém, um facto que desenganou os arcoenses de que podiam medir as suas forças com estes destemidos serranos. Foi o caso que os soajeiros quiseram desafrontar-se de quaisquer agravos de romaria, feitos não sei por que frequentadores de feiras ou arraiais de outras freguesias do conselho. (Prozêllo, etc.) Levaram a sua a audácia a escolher para o despique um dia de feira dos Arcos, de modo que vieram em massa e, simulando um batalhão, subiram provocadoramente a calçada que na vila conduz ao elevado sitio, onde se faz a feira do gado e onde, portanto, se reúnem os puxadores de pau, os varredores de feiras, os mestres, enfim, na arte de rachar cabeças do próximo.

A autoridade administrativa, que, prevenida, foi parlamentar com os chefes da expedição, nada conseguiu!

Chegados ai, sem mais tir-te nem guar-te, iniciaram, com os seus toscos varapaus de cerquinho, um rodopio cego, a torto e a direito, sobre os surpreendidos lavradores e contratadores de gado, que na feira se encontravam. Mas não tardou que a impulsiva estratégia da arremetida tivesse o desfecho natural. Senhores de uma posição favorável e assomados pela ousadia dos soajeiros, todos os que tinham uma boa vara nas unhas, depois de se «cobrirem» dos primeiros «talhos», responderam-lhes com uma torrente de pancadaria tal, caindo de roldão sobre os soajeiros e acossando-os com os seus lodãos fortemente «argolados» que, dentro de breves minutos, ninguém na vila sabia o que fora feito dos arrogantes caceteiros, tamanha foi a estugada aflição com que sumiram pelas encruzilhadas e pelos milharais. Do prélio ficou um morto dos vencedores! Constava depois que ao desbarato não fora estranha a pedrada do mulherio. Na expressão minhota, foi um verdadeiro “dia do juízo” nos Arcos! »

Ver também

Referências