Livro: O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria

Fonte: Jogo do Pau Português
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capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria
  • Autor: P.e António Francisco Pereira
  • Publicação: Leiria: Textiverso, 2011 (Transcrição da 2ª edição de 1898)


Publicação de um manuscrito anónimo da primeira metade do século XVII sobre a história do Bispado de Leiria. A primeira edição data de 1868.

Foi feita uma segunda edição em 1898 e várias transcrição da última edição.

Sinopse

Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria é o livro mais notável da bibliografia de Leiria, cobrindo principalmente os finais do século XVI até à primeira parte do século XVII. Dele se conhecem três edições: uma, datada de 1868, da responsabilidade do P.e Inácio José de Matos, eclesiástico do Bispado de Leiria; uma segunda, da responsabilidade do mesmo eclesiástico, de 1898, mas cujo título foi ligeiramente alterado para O Couzeiro ou Memórias do Bispado de Leiria, com apêndice; e uma terceira edição, que é a reimpressão da primeira, da responsabilidade do P.e António Francisco Pereira e publicada, primeiro, em fascículos no jornal "O Mensageiro", de 25 de Maio de 1978 a 25 de Setembro de 1980, e, depois, em livro encadernado, sem data. Estas edições, contudo, não são mais do que a transcrição de cópias de um manuscrito escrito entre os finais do século XVI e meados do século XVII, já desaparecido, mas que têm diferenças importantes, como escreve o P.e Inácio José de Matos no prefácio à segunda edição, de 1898. Na presente edição, a 4.ª, que é uma transcrição da 2.ª, foram igualmente incluídos, e pela mesma ordem, diversos suplementos que atingem mais de centena e meia de páginas com informação diversa relativa ao século XIX, dos diversos seminários e outros institutos religiosos à ordem da procissão de Corpo de Deus antes da invasão francesa, ao testamento do enforcado João Amado e às doenças das vinhas, terminando com dois opúsculos, um sobre a «Confirmação da Fundação da Sé Catedral de Leiria na pessoa do seu verdadeiro fundador» e outro transcrevendo uma boa parte do processo de supressão do Bispado. [1]

Excerto da obra

Separata do livro O gigante do Souto com as cópias das páginas 333 a 336.

« Este homem chamava-se José Braz Arroteia e nasceu na Ortigosa e casou no Casal das Varzeas. Era d'uma corpuléncia ou estatura extraordindna. Mas o que a tomava invencivel, era sua perícia no jogo do pau, a ligeireza de pernas e destreza no jogo da faca, pelo que era o terror dos seus vizinhos e de todos os moradores da Bord’ Agua onde cra muito conhecido, estimado, até de pessoas grandes, por causa da sua valentia, e probidade, e pela vizinhanca da estrada entre a sua terra e essa Brod’ Agua.

Conhecemo-lo ou falámos com ele a primeira vez na praia da Vieira em 1850, por certo, e nos contou que fora a Salvaterra dar lições de jogo de pau ao nosso monarca D. Miguel. Quem para lá o conduzira ou convidara tinha sido esse fidalgo de Leiria, Luiz da Silva Athaide

(...)

depois pegou-lhe pelo brago, e lhe lhe disse - Levanta-te, homem, e seguiu-se o exercicio do jogo do pau por dias, se não por semanas.

Cremos que ainda vive em Alvaidzere ou sua vizinhança, um mogo, muito rico e d’uma robustez espantosa, e havendo ho nosso campo varios sujeitos (o que hoje não há} eminentes no tal jogo do pau, e havendo cá tambérn um padre que ensinava Latim, esse moço procurou a sua eschola, com interesse de aproveilar-se ao mesmo tempo da habilidade d' elles no jogo do pau e da faca (sé o fallar n'ella causa calafrios!) Comegou com um no jogo do pau, e depois passou para as mãos de José Arroteia, como sendo o principal em ambos os jogos. Era pois esse estudante que nos contava também da sua habilidade no jogo da faca, e até algumas manobras delle (com a que os leitores do Couseiro estão vendo em nos algum jogador de faca!)

Disseram-nos que foram sem número as suas façanhas, obradas quer com o seu pau quer com a sua faca; e tanto assim que o numero não o fazia ceder ou recuar (...)

Ouvimos d'uma faganha sua nos Milagres. Havia aqui um individuo, que ja deve ter morride ha muitos anos, e que foi degradado por ladão (foi sentenciado ahi por 1849). Este sujeito desafiou esse Arroteia, mas elle não se importou com elle (desafiar consistia em pedir uma lição de jogo de pau). Aroteia era to perspicaz em conhecer inimigos, que supomos nunca nenhum o feriu inesperadamente, e por isso o outro agora lhe descarregou a falsa fé; elle, porém, apara-lhe a paulada com a bengala, que nao sustendo a força d’ella suficientermente, ainda lhe veiu ferir um pé. Arroteia saita logo sobre elle, e lhe saca o pau das mãos e com elle mesmo lhe vibra a sua paulada, que se o apanha, ficava feito em pedaços, mas quem ficou com ella, foi um burro, par debaixo do qual o outro se safou, Este corre a casa buscar uma espingarda para o vir matar, e José Aroteia, todo perdido da razão, vendo-o vir começa a desafia-lo, dizendo-the atira, diabo atira que aqui tens o alvo (batendo ao mesmo tempo no peito!) Isto levanta o maior alarido e alvoroço, porque elle tinha consigo filhos e filhas e amigos que se lhe dependuram ao pescoço (...) »

Ler separata do livro

Ver também

Referências