Recorte Jornal: Jogo do pau - arte marcial portuguesa

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★☆☆
  • Título: Jogo do pau: arte marcial portuguesa
  • Jornal: Jornal «Olivais»
  • Autor: Nuno Russo (Mestre)
  • Publicação: novembro 1984

Resumo

O artigo descreve o jogo do pau como uma das mais desenvolvidas e eficazes artes marciais do mundo. Desde tempos remotos, o pau tem sido usado como arma de defesa e ferramenta de trabalho. Ao longo dos milénios, técnicas de combate com paus foram aperfeiçoadas, e o jogo do pau português surgiu a partir do uso de armas medievais. A região do Minho, devido ao isolamento e à agressividade do ambiente, foi onde as melhores escolas de jogo do pau se desenvolveram. No final do século passado, o jogo do pau também se expandiu para Lisboa, adquirindo um aspecto desportivo. No entanto, foi proibido pelo governo nos anos 50 devido a brigas e rivalidades entre escolas, arriscando desaparecer. Graças à persistência de alguns mestres, a arte marcial foi transmitida para as gerações seguintes.

Publicação

« A tradicional arte portuguesa do jogo do pau, que, aliás, na sua essência mais pura, não tem nada a ver com o jogo, mas sim com uma forma de combate com pau - hoje considerada a mais desenvolvida e eficaz dentre todas as técnicas de luta com pau existentes no Mundo - pratica-se na Associação Desportiva e Cultural da Encarnação e Olivais.

Desde os tempos mais remotos, o Homem tem usado instintivamente o pau como companheiro de trabalho e arma protectora contra feras e outros homens. O simples elemento de defesa usado de forma mais ou menos controlada foi-se desenvolvendo aqui e ali em arte marcial, em actividade lúdica.

Ainda hoje, a tribo africana doa Mursi apresenta um curioso jogo do pau, treinando com varas longas e protegendo a cabeça, os braços e o tronco com panos enrolados. No Egipto antigo, diversos baixos-relevos mostram cenas de combate desportivos com diversos tipos de paus. Nos túmulos, datando do terceiro milénio antes de Cristo, do Médio Oriente e do Egipto, encontram-se as mais antigas representações de personagens lutando ou fazendo assaltos competitivos com bastões. O famoso túmulo de Tutankamon (1300 a.C.) mostra-nos diferentes tipos de pau de combate.

Com o rodar dos milénios, o Homem foi desenvolvendo e aperfeiçoando técnicas próprias para combater o semelhante e os animais ferozes. Assim foi o caso do jogo do pau português que actualmente se pratica, o qual teve origem directa no trabalho das armas medievais utilizadas desde os séculos XI e XII (montante, massa de armas, chicote de armas, etc.), sendo considerado actualmente o único sobrevivente dessas formas de combate ancestrais.

Melhores escolas nasceram no Minho

Devido a razões várias que vão desde o isolamento dos pastores à agressividade da terra, das feras e das gentes, foi na região mais interior e montanhosa do Minho que se desenvolveram as melhores escolas de jogo do pau, apareceram os mais famosos mestres e se guarda memória das maiores pancadarias à paulada, algumas verdadeiras batalhas campais, tendo como palco as feiras, festas e romarias.

Conhecida como uma prática própria das gentes campesinas, só no final do século passado se implantou em Lisboa, onde, sob condicionalismos muito diferentes da província em época e região e liberta dos imperativos de luta que a acompanhavam nas origens, se vira agora também para o aspecto desportivo e, passa aos salões e ginásios.

Tendo sido interdito pelo Governo no início dos anos 50 devido às constantes zaragatas e rivalidades entre escolas, o jogo do pau esteve em risco de desaparecer, até porque o seu estatuto de desporto nacional que entretanto adquirira, foi abalado com o aparecimento de novos desportos, que então criaram moda. E se não fosse a carolice de alguns mestres, que, mesmo com a proibição, continuaram teimosamente a ensinar, a nossa arte marcial não teria chegado ao conhecimento das gerações seguintes.

Nuno Curvello Russo (director técnico da Associação de Jogo do Pau de Lisboa) »


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Ver também

Referências