Significado do nome Jogo do Pau: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
 
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Portanto, quando há «Jogo», não se «luta» nem se «duela», faz-se a prática e treino de esgrima, neste caso de pau. Daí o nome "Jogo do Pau".
Portanto, quando há «Jogo», não se «luta» nem se «duela», faz-se a prática e treino de esgrima, neste caso de pau. Daí o nome "Jogo do Pau".
Ainda nos dias de hoje, há quem use o termo de "andar à porrada", mas também há quem use o termo "jogar à porrada". Aqui o jogo também é outro.


== Dados históricos sobre «Jogo» ==
== Dados históricos sobre «Jogo» ==
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  «(…) Em 1571 veio ordem para que todos se exercitassem no jogo das armas aos domingos e em dias santificados.»<ref>BRANCO, Camilo Castelo, "Gazeta litteraria do Porto: periodico semanal" 6 de Janeiro de 1868</ref>
  «(…) Em 1571 veio ordem para que todos se exercitassem no jogo das armas aos domingos e em dias santificados.»<ref>BRANCO, Camilo Castelo, "Gazeta litteraria do Porto: periodico semanal" 6 de Janeiro de 1868</ref>
== A palavra «Jogo» e «Esgrima» no dicionário ==
* '''1764''' - ''ESGRIMA'',  a arte de jogar as armas<ref>"Novo diccionario das linguas portugueza, e franceza, com os termos latinos", Joseph Marques (1764) in https://books.google.pt/books?id=Fwsk_oraZC4C</ref>
* '''1813''' - ''ESGRÍMA'', s. f.  Arte de jogar, e mandar a espada, para atacar, ou defender-se<ref>"Diccionario de lingua portuguesa", António de Morais Silva – S.a. Litho-typographia fluminense, (1813) in https://books.google.pt/books?id=20ZDAAAAYAAJ</ref>
* '''1813''' - ''MONTANTE'', s. m. Espada múi grande, que se mandava, ou jogava com ambas as mãos e por alto.<ref>ibem liben</ref>
* '''2022''' - ''ESGRIMA'' 2. arte de jogar com armas brancas (espada, sabre e florete)<ref>"Enciclopédia e dicionários Porto Editora" in https://www.infopedia.pt/</ref>
* '''2022''' - ''ESGRIMIR'' 3. Jogar armas.<ref>"Dicionário Priberam da língua portuguesa" in http://www.priberam.pt/</ref>
* '''2022''' - ''JOGO'' 14. manejo de uma arma<ref>ibem liben</ref>
== Porquê «Pau»? ==
Podemos mesmo dizer que todos os países conheceram, com maior ou menor intensidade, «jogos de pau», artes desenvolvidas para que o homem do campo, da montanha, tivesse a possibilidade de amplificar a sua capacidade de defesa face ao meio hostil, aos animais selvagens e ao próprio homem. Nas cidades, esta «arma» serviu frequentemente de instrumento para o desenvolvimento dos reflexos, da coordenação motora, da capacidade de autodefesa e da resistência física.
Os nomes dados a este tipo de artes são evidentemente muito diferentes uns dos outros; por vezes, o sentido é simplesmente o de «pau»: é o ''lathé'' da Índia (um pau de bambu), o ''jang-bong'' da Coreia ou o ''bo'' do Japão e do Okinawa, com as suas variedades: ''han-bo'', ''jo'', ''tan-bo'', paus de dimensões diferentes.
A Europa não foi excepção, e esta arte marcial, no passado, desenvolveu-se em França (ainda com a actual ''cane''), em Inglaterra, em Itália (que conserva ainda a ''Paranza'') e em Portugal, sem nos esquecermos das Ilhas Atlânticas, como os Açores e as Canárias.
<ref>Artigo em Beijaflor nº 10 de novembro/dezembro 1999, por António Coelho Teixeira : Jogo do Pau - Arte Marcial e Desporto ([[Artigo: Revista Beija Flor - Jogo do Pau - Arte Marcial e Desporto - 1999|ver mais]])</ref>


== Referências ==
== Referências ==

Edição atual desde as 18h53min de 19 de maio de 2023

Significado

O Jogo do Pau, é um "jogo" que não se joga, isto é, a palavra «jogo» significa «treino» ou «técnica», não deve ser interpretada literalmente com o seu atual significado de «brincadeira», mas sim com base no seu significado original.

A palavra «jogo», tem uma ligação direta à prática da esgrima histórica, onde é aplicada a expressão «Jogo de Espada» para o treino de espadas. No dicionário de língua Portuguesa, o significado de «esgrimir» é também explicado com a designação de «jogar às armas». [1]

Portanto, quando há «Jogo», não se «luta» nem se «duela», faz-se a prática e treino de esgrima, neste caso de pau. Daí o nome "Jogo do Pau".

Ainda nos dias de hoje, há quem use o termo de "andar à porrada", mas também há quem use o termo "jogar à porrada". Aqui o jogo também é outro.

Dados históricos sobre «Jogo»

Na esgrima histórica italiana, por exemplo, existe a referência de «jogo» para treino militar, nos tratados dos mestres Achille Marozzo e Antonio Manciolino no séc. XVI. Estes distinguem entre «gioco stretto» e «gioco largo» referindo-se a diferentes distâncias. Os dois tratados falam geralmente de vários tipos de armas e não de uma espada específica.

No Tratado das Lições da Espada Preta do mestre de armas português Thomás Luiz, em 1684, encontramos a mesma interpretação de “jogo” e “jogador”:

«Todo o jogo dos esquerdos é forte e não tem curvas, e o melhor jogo com eles é o comprimento da espada. Aos esquerdos é muito fácil o serem jogadores de duas espadas, ela ligeireza com que maneiam os braços. O jogo das duas espadas tem três feridas: Talho, Revés e Estocada.»[2]

Também D. João I, no séc. XIV, no seu tratado Livro da Montaria, sobre a caça, que na altura era o «jogo dos reis», aplica a palavra jogo para designar todas ou qualquer uma das atividades lúdicas e corporais, nomeadamente o «joguo de andar ao monte» ou «joguo de montaria», que representa a prática da caça grossa nos montes ao porco-bravo (javali) e ao urso.

«E porque os rreys forom os primeiros que correrom monte, e matarom porco, como ouuistes, e outrosi como a elles mais per-tence, como uos já dissemos, por quanto lhe puserom aquelle nome, em que lhe disserom que era joguo de rreys : ca como quer que se mostra.(…)»[3]

Num manuscrito de 1809, na oficina de António Rodrigues Galhardo (Impressor do Conselho de Guerra) com o nome Método de manejar a lança e o pique podemos encontrar a referência ao jogo de lança e pique, e a identificação dos piqueiros como jogadores.

«(…) é muito conveniente darmos uma ideia clara do jogo de lança, ou pique, e vermos, não só a melhor maneira de formar o ataque, mas também as guardas, ou defesas (…) Da guarda natural o jogador lançará o afundo, o qual consiste em firmar bem o pé direito no terreno (…)»

Em 1570 mandou D. Sebastião repartir armas pelos moradores do Porto que as não tivessem sob condição de as pagarem

«(…) Em 1571 veio ordem para que todos se exercitassem no jogo das armas aos domingos e em dias santificados.»[4]

A palavra «Jogo» e «Esgrima» no dicionário

  • 1764 - ESGRIMA, a arte de jogar as armas[5]
  • 1813 - ESGRÍMA, s. f. Arte de jogar, e mandar a espada, para atacar, ou defender-se[6]
  • 1813 - MONTANTE, s. m. Espada múi grande, que se mandava, ou jogava com ambas as mãos e por alto.[7]
  • 2022 - ESGRIMA 2. arte de jogar com armas brancas (espada, sabre e florete)[8]
  • 2022 - ESGRIMIR 3. Jogar armas.[9]
  • 2022 - JOGO 14. manejo de uma arma[10]

Porquê «Pau»?

Podemos mesmo dizer que todos os países conheceram, com maior ou menor intensidade, «jogos de pau», artes desenvolvidas para que o homem do campo, da montanha, tivesse a possibilidade de amplificar a sua capacidade de defesa face ao meio hostil, aos animais selvagens e ao próprio homem. Nas cidades, esta «arma» serviu frequentemente de instrumento para o desenvolvimento dos reflexos, da coordenação motora, da capacidade de autodefesa e da resistência física.

Os nomes dados a este tipo de artes são evidentemente muito diferentes uns dos outros; por vezes, o sentido é simplesmente o de «pau»: é o lathé da Índia (um pau de bambu), o jang-bong da Coreia ou o bo do Japão e do Okinawa, com as suas variedades: han-bo, jo, tan-bo, paus de dimensões diferentes.

A Europa não foi excepção, e esta arte marcial, no passado, desenvolveu-se em França (ainda com a actual cane), em Inglaterra, em Itália (que conserva ainda a Paranza) e em Portugal, sem nos esquecermos das Ilhas Atlânticas, como os Açores e as Canárias. [11]

Referências

  1. LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 (sobre o livro)
  2. Manuel Valle Ortiz, Tomás González Ahola, Ton PueyJaime Girona, Tratado das lições da espada preta e destreza, que hão de usar os jogadores dela: Thomás Luís, Editora AGEA, 2010
  3. “Livro da montaria” feito por D. João I, rei de Portugal, conforme o manuscrito n.º 4352 da Biblioteca Nacional de Lisboa; pub. por ordem da Academia das Sciências de Lisboa, 1918, p. 32
  4. BRANCO, Camilo Castelo, "Gazeta litteraria do Porto: periodico semanal" 6 de Janeiro de 1868
  5. "Novo diccionario das linguas portugueza, e franceza, com os termos latinos", Joseph Marques (1764) in https://books.google.pt/books?id=Fwsk_oraZC4C
  6. "Diccionario de lingua portuguesa", António de Morais Silva – S.a. Litho-typographia fluminense, (1813) in https://books.google.pt/books?id=20ZDAAAAYAAJ
  7. ibem liben
  8. "Enciclopédia e dicionários Porto Editora" in https://www.infopedia.pt/
  9. "Dicionário Priberam da língua portuguesa" in http://www.priberam.pt/
  10. ibem liben
  11. Artigo em Beijaflor nº 10 de novembro/dezembro 1999, por António Coelho Teixeira : Jogo do Pau - Arte Marcial e Desporto (ver mais)