Varapau: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
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«Quanto às varas para jogar, à falta de boas usamos qualquer uma que apareça em determinada ocasião que seja preciso utilizá-la. (…) usam-se de marmeleiro, freixo, castanho, junco e lódão, mas as melhores e mais usadas são incontestavelmente as últimas pela sua resistência, flexibilidade, maciez e beleza natural, dando ao jogador uma boa disposição (…) uma das extremidades seja levemente mais grossa que a outra, e por consequência quase igual dos dois lados; o lado mais delgado nunca deve ser assim tanto que não se possa empunhar con-venientemente, pois, se assim for, escapa ou escorrega pela mão fora. Quanto ao peso e altura, acho que o máximo que devem ter, são: peso 550 gramas e comprimento 1.52 mts.. Comprimento normal 1,46 mts. peso normal correspondente em gramas 500. Para leccionar, comprimento máximo 1,46 mts. peso corres-pondente 6oo gramas.»<br>
«Quanto às varas para jogar, à falta de boas usamos qualquer uma que apareça em determinada ocasião que seja preciso utilizá-la. (…) usam-se de marmeleiro, freixo, castanho, junco e lódão, mas as melhores e mais usadas são incontestavelmente as últimas pela sua resistência, flexibilidade, maciez e beleza natural, dando ao jogador uma boa disposição (…) uma das extremidades seja levemente mais grossa que a outra, e por consequência quase igual dos dois lados; o lado mais delgado nunca deve ser assim tanto que não se possa empunhar con-venientemente, pois, se assim for, escapa ou escorrega pela mão fora. Quanto ao peso e altura, acho que o máximo que devem ter, são: peso 550 gramas e comprimento 1.52 mts.. Comprimento normal 1,46 mts. peso normal correspondente em gramas 500. Para leccionar, comprimento máximo 1,46 mts. peso corres-pondente 6oo gramas.»<br>
<small>''CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau: esgrima nacional, Lisboa: ed. Autor, 1963 ([[Livro: Jogo do Pau: esgrima nacional|sobre o livro]])''</small>
<small>''CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau: esgrima nacional, Lisboa: ed. Autor, 1963 ([[Livro: Jogo do Pau: esgrima nacional|sobre o livro]])''</small>
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(...) - ... Quanto às varas a empregar - explica-nos ''[[Mestre: António Nunes Caçador|Nunes Caçador]]'', autor de ''Jogo do Pau (Esgrima Nacional)'' usam-se de marmeleiro, freixo, castanho, junco e lódão, mas as melhores e mais usadas são incontestàvelmente as últimas pela sua resistência, flexibilidade, macieza e beleza natural.
São desta qualidade as que se usam nas festas públicas. Quanto ao seu feitio, devem ser feitas de tal maneira, que uma das extremidades seja levemente mais grossa que a outra, e por consequência quase igual dos dois lados. Quanto ao peso e altura acho que o máximo que devem ter são peso - 550 gramas e comprimento 1.52 metros. Para mim, o melhor método para as conservar é passar-lhes uma forte camada de vaselina grossa e covolve-la em papel de jornal, atando-se em molhos muito bem apertudos. Duram, assim, muitos anos sem secarem.
Quando quisermos servir-nos de-las, passamo-las com uma porção de serradura de alto a baixo e então a vaselina sai e a vara aparece completamente nova na sua cor e aspecto flexível.»
<br><small>Artigo em revista FLAMA de 1968 : Dois homens… à paulada? ...SIM, mas desportivamente. É o Jogo do Pau ([[Artigo: revista FLAMA 1968|ver mais]])</small>
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Revisão das 15h45min de 20 de agosto de 2022

Varapau, o que é?

A arma usada no JPP é o pau e não carece de nenhuma especificação especial. Apenas terá que ser de secção circular, liso e sem galhos. Este pode chegar até aos dois metros, no entanto o tamanho ideal deverá ir até à altura do nariz do jogador (cerca de 1,60m). Isto permite um raio de ação defensivo e ofensivo eficaz, sem que o pau se torne demasiado pesado e que permita o jogador voltear sem que o mesmo toque no chão. Deverá ser resistente e suficientemente flexível e macio de forma a não transmitir a vibração das pancadas nas mãos de quem o segura.

Segundo o Mestre Pedro Ferreira, no Minho, nos tempos áureos do JPP onde o seu uso fazia parte do quotidiano para resolver avenças e problemas, os velhos Mestres aconselhavam a vara de salgueiro, quando se procurava ou esperava desordem, porque a sua resistência e peso permitiam o combate prolongado contra vários adversários.

Para colocar o varapau mais maleável, de forma a partir-se com menor frequência quando as pancadas são fortes e certeiras, os paus são demolhados na vérpera, contudo, ficam mais pesados.

De forma a tornar o varapau mais eficaz em combate, este podia ser ferrado nas suas pontas.

Para tornar um varapau numa arma de estoque, podia ser aplicada, em uma das suas pontas, uma lâmina ou choupa, recoberta de uma bainha móvel de metal, com um comprimento de um palmo, que se tirava quando se pretendia ferir os adversários ou apenas para mantê-los à distância.

Na Estremadura há o varapau, mas existe também a moca, a ladra ou chuço na Beira; a cacheira e o cajado do Sul. Já na Ilha Terceira, nos Açores, o varapau é o bordão.


Mestre Hélder Valente considera três tipos de pau para jogo, sendo:

  • Curtos - Bengalas ou bastões, de menos de um metro;
  • Médios -Entre um metro e um metro e trinta;
  • Maiores - Acima do metro e trinta, porém, não mais alto do que o próprio jogado.[1]


Há três maneiras de fazer um varapau:

  • Varas de ramo - Obtidas de ramos que são previamente deixados na árvore para se desenvolverem até ao tamanho ideal, para depois

serem retirados e preparados;

  • Varas torneadas - Obtidas de tábuas cortadas ao ("correr") longo das nervuras, através do torneamento da madeira;
  • Varas de racha - Obtidas pelo aproveitamento da zona central da árvore.

Como fazer um Varapau (vara de ramo)

As varas obtém-se de um bom ramo de qualquer árvore, menos de sabugueiro ou de outra semelhante no miolo. Os melhores e os mais bonitos eram os de marmeleiro. Para a preparação destes, cortava-se a pernada ou ramo e, ainda verdoengo, era metido no forno da amassadura quando este se mostrasse bem quente. Desta operação resultava não só a facilidade da descasca, mas também, o endireitamento de alguma curvatura que tivesse em qualquer parte. Antes porém, de ir ao calor, procedia-se à esfrega de todo ele com borras de azeite.

Tirada a casca sem arranhões na madeira, novamente era oleado, agora com azeite, e friccionado com intensidade até ficar luzidio. Se, porventura, existia nele qualquer pequeno lombo, depois de sair do forno, era colocado sob o peso de objecto que, pouco a pouco, o levasse a corrigir o defeito.

Pau de marmeleiro que levasse todas as devidas voltas, chegava a ser uma obra de arte. Quer por causa da cor natural que tinha e que a fricção oleosa reforçava, quer por causa das muitas e diferentes nodosidades que o inçavam de alto a baixo. Isto, para não falar dos enfeites com que podia ser encimado e do partido que se podia tirar da ferragem que muitos lhe punham na parte inferior. [2]

Tipos de madeira

Mas além do marmeleiro (Cydonia oblonga), as madeiras nobres utilizadas para a pratica do JPP são o Lodão (Celtis australis), o Freixo (Fraxinus angustifolia) e o Castanheiro (Castanea sativa). Cada uma tem características diferentes:

  • O Marmeleiro , dá origem à rainha das varas, é duro, flexível e não parte, racha talvez por isso a expressão “ou vai ou racha”. O senão desta espécie é a dificuldade em se encontrar um rebento direito.
  • O Lodão , talvez a vara mais popular, é leve, duro e muito flexível. Os rebentos podem encontrar-se em abundância, principalmente depois de ter sido efectuada uma poda severa na árvore.
  • O Freixo, talvez a vara menos popular, é muito duro, pouco flexível e não parte facilmente, vai perdendo aos poucos as camadas exteriores até chegar ao núcleo da vara. Encontra-se em abundância na fase juvenil da árvore que cresce em aglomerados de rebentos.
  • O Castanheiro dá origem a uma vara leve, menos resistente de todas as outras mas muito fácil de encontrar. Aparece espontaneamente na base dos castanheiros adultos ou após este ter sido podado de forma extrema.[3]

Publicações sobre Varapaus

«Quanto às varas para jogar, à falta de boas usamos qualquer uma que apareça em determinada ocasião que seja preciso utilizá-la. (…) usam-se de marmeleiro, freixo, castanho, junco e lódão, mas as melhores e mais usadas são incontestavelmente as últimas pela sua resistência, flexibilidade, maciez e beleza natural, dando ao jogador uma boa disposição (…) uma das extremidades seja levemente mais grossa que a outra, e por consequência quase igual dos dois lados; o lado mais delgado nunca deve ser assim tanto que não se possa empunhar con-venientemente, pois, se assim for, escapa ou escorrega pela mão fora. Quanto ao peso e altura, acho que o máximo que devem ter, são: peso 550 gramas e comprimento 1.52 mts.. Comprimento normal 1,46 mts. peso normal correspondente em gramas 500. Para leccionar, comprimento máximo 1,46 mts. peso corres-pondente 6oo gramas.»
CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau: esgrima nacional, Lisboa: ed. Autor, 1963 (sobre o livro)

« (...) - ... Quanto às varas a empregar - explica-nos Nunes Caçador, autor de Jogo do Pau (Esgrima Nacional) usam-se de marmeleiro, freixo, castanho, junco e lódão, mas as melhores e mais usadas são incontestàvelmente as últimas pela sua resistência, flexibilidade, macieza e beleza natural.

São desta qualidade as que se usam nas festas públicas. Quanto ao seu feitio, devem ser feitas de tal maneira, que uma das extremidades seja levemente mais grossa que a outra, e por consequência quase igual dos dois lados. Quanto ao peso e altura acho que o máximo que devem ter são peso - 550 gramas e comprimento 1.52 metros. Para mim, o melhor método para as conservar é passar-lhes uma forte camada de vaselina grossa e covolve-la em papel de jornal, atando-se em molhos muito bem apertudos. Duram, assim, muitos anos sem secarem.

Quando quisermos servir-nos de-las, passamo-las com uma porção de serradura de alto a baixo e então a vaselina sai e a vara aparece completamente nova na sua cor e aspecto flexível.»
Artigo em revista FLAMA de 1968 : Dois homens… à paulada? ...SIM, mas desportivamente. É o Jogo do Pau (ver mais)

«Em terras de Basto, para amaciar o pau, torná-lo mais bonito e elástico, e menos quebradiço, esfrega-se com um pano embebido em azeite quente: num dos topos faz-se uma pequena cova que se enche com azeite a ferver, deitado à medida que a madeira o vai absorvendo. Quando o pau é feito de um rebento, pousa-se simplesmente sobre a cinza molhada e quente da barrela. Em Bucos, não se faz qualquer tratamento: recomenda-se apenas que cinco ou seis horas antes de se utilizar, o pau seja posto de molho: fica mais pesado — o que é um inconveniente — mas não parte. Em Lisboa, untam-no de preferência com vaselina: se é um só pau, embrulham-no em papel de jornal amarrado com um fio de ponta a ponta: se são vários, atam-nos em molhos e pousam-nos horizontalmente. Como porém diz um jogador. a melhor maneira de poupar o pau de jogo, é evitar expô-lo a pancadas violentas, ou bater em falso no solo.»
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, Festividades Cíclicas em Portugal, Publicações D. Quixote, 1984 (sobre o livro)

Sinónimos

  • Landreiro - Varapau de carvalho
  • Lodeiro - s.m. Lodão, varapau da mesma essencia
  • Lódo - s.m. Pau de lodo. Varapau de lodão
  • Bordão - (Açores) Varapau de arrimo e de defesa e como defesa contra gado bravo, arremetão
  • Bordão de conteira - (Açores) O m.q. bordão enconteirado: Era bordães de conteira e cacetes valentes![4]
  • Bordão de conto, Bordão de conte, bordão de contre - (Açores, principalmente em São Miguel) O m.q. bordão enconteirado
  • Bordão enconteirado - (Açores) Vara de pau com duas ponteiras (conteiras, daí o nome) de metal branco ou amarelo, uma em cada extremidade. Em São Miguel chama-se Bordão de conto.

Links externos

Referências

  1. LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 (sobre o livro)
  2. https://alqueidao.com/2012/07/26/o-jogo-do-pau/
  3. https://jogodopaucascais.com/como-fazer-varas-para-o-jogo-do-pau/
  4. J.H. Borges Martins - A justiça da Noite na Ilha Terceira