Livro: Portugal antigo e moderno, XII volume: diferenças entre revisões
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== Resumo dos excertos da obra == | == Resumo dos excertos da obra == | ||
A história de D. Francisco Mendes de Vasconcellos ilustra bem as tensões entre a nobreza e as populações locais no final do século XV. Senhor da vila de Vimioso, regressou à sua terra natal em 1493 após um longo período em Salamanca, onde residiu por 13 anos. Contudo, encontrou resistência por parte dos habitantes da freguesia dos Picadeiros, que se recusavam a pagar-lhe as rendas devidas. Tentando resolver a questão, dirigiu-se ao local sob o pretexto de uma caçada, mas foi violentamente atacado pela população armada. Este episódio reflete os conflitos frequentes entre senhores e camponeses num período em que a autoridade nobre era frequentemente contestada. | |||
Outro excerto revela práticas jurídicas medievais em Portugal, nomeadamente o uso de duelos judiciais com paus ou lanças como método de resolução de litígios. No foral de Viseu de 1187, menciona-se a "prova de pau" e a "prova de lança", pelas quais os litigantes combatiam sob supervisão das autoridades, que cobravam taxas sobre o resultado. Este método bárbaro favorecia os mais fortes e hábeis no manuseio das armas, perpetuando injustiças e penalizando muitas vezes inocentes. | |||
Já no século XIX, o major José Máximo Pinto da Fonseca Rangel e o seu parente Francisco Pinto Ribeiro da Fonseca destacaram-se em contextos militares e políticos. Francisco, em particular, foi um homem de espírito livre, liberal e exímio no manejo do florete, sabre e pau. Durante o governo de D. Miguel, viveu homiziado e participou no Cerco do Porto como voluntário. A sua fama como lutador de pau era lendária, ao ponto de desafiar qualquer adversário a impedi-lo de tocar viola enquanto segurava um pau com o braço. Nunca perdeu a aposta, mesmo em idade avançada. | |||
Estes relatos demonstram não só a importância do Jogo do Pau na cultura marcial portuguesa, mas também o seu papel em disputas de poder, na administração da justiça e na afirmação de identidades individuais e coletivas ao longo dos séculos. | |||
== Excertos da obra == | == Excertos da obra == |
Revisão das 14h06min de 16 de fevereiro de 2025
Sobre
- Relevância: ★★☆
- Título: Portugal antigo e moderno, XII volume
- Autor: Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de; Ferreira, Pedro Augusto
- Publicação: Lisboa: Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão. 1890
- Formato: 895 páginas
A obra Portugal antigo e moderno, XII volume é um vasto dicionário geográfico de Portugal. O próprio título diz tudo. Podemos ler:
Portugal antigo e moderno; diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias...
Resumo dos excertos da obra
A história de D. Francisco Mendes de Vasconcellos ilustra bem as tensões entre a nobreza e as populações locais no final do século XV. Senhor da vila de Vimioso, regressou à sua terra natal em 1493 após um longo período em Salamanca, onde residiu por 13 anos. Contudo, encontrou resistência por parte dos habitantes da freguesia dos Picadeiros, que se recusavam a pagar-lhe as rendas devidas. Tentando resolver a questão, dirigiu-se ao local sob o pretexto de uma caçada, mas foi violentamente atacado pela população armada. Este episódio reflete os conflitos frequentes entre senhores e camponeses num período em que a autoridade nobre era frequentemente contestada.
Outro excerto revela práticas jurídicas medievais em Portugal, nomeadamente o uso de duelos judiciais com paus ou lanças como método de resolução de litígios. No foral de Viseu de 1187, menciona-se a "prova de pau" e a "prova de lança", pelas quais os litigantes combatiam sob supervisão das autoridades, que cobravam taxas sobre o resultado. Este método bárbaro favorecia os mais fortes e hábeis no manuseio das armas, perpetuando injustiças e penalizando muitas vezes inocentes.
Já no século XIX, o major José Máximo Pinto da Fonseca Rangel e o seu parente Francisco Pinto Ribeiro da Fonseca destacaram-se em contextos militares e políticos. Francisco, em particular, foi um homem de espírito livre, liberal e exímio no manejo do florete, sabre e pau. Durante o governo de D. Miguel, viveu homiziado e participou no Cerco do Porto como voluntário. A sua fama como lutador de pau era lendária, ao ponto de desafiar qualquer adversário a impedi-lo de tocar viola enquanto segurava um pau com o braço. Nunca perdeu a aposta, mesmo em idade avançada.
Estes relatos demonstram não só a importância do Jogo do Pau na cultura marcial portuguesa, mas também o seu papel em disputas de poder, na administração da justiça e na afirmação de identidades individuais e coletivas ao longo dos séculos.
Excertos da obra
«
D. Francisco Mendes de Vasconcellos,o heroe da pendência. Casou em 1480 e, como a esposa tivessea família em Salamanca, ali fixou elle também a sua residência durante 13 annos, ou até 1493, data em que regressou a Vimioso, onde, como senhor da vílla, foi muito bem recebido por todos, exceptuando os habitantes da freguezia dos Picadeiros que, na ausência d'elle, se haviam recusado a pagar aos seus criados e procuradores as rendas e foros e já deviam avultadas somas de muitos annos. Tentou D. Francisco traze-los a melhor accordo, mas elles persistiram no propósitode não pagarem, pelo que D. Francisco Mendes, com o pretexto de fazer uma caçada, foi um dia com os seus criados á povoação dos Picadeiros, para ver se o resolvia a pagarem-lhe os foros e rendas; mas, apenas ali chegou, levantaram-se em massa os moradores da freguezia e correram armados contra elle com paus, pedras, espingardas, fouces e forcados, pelo que D. Francisco teve de acolher-se á sua torre com os seus criados, perecendo logo no primeiro recontro um dos que elle mais estimava. » (pág.1472-1473) |
« Viseu 1187 Forale Viseense alterum... Em vulgar: «Outro foral de Viseu se guarda na Torre do Tombo no Livro de Foraes amigos de Santa Cruz - e no Livro de D. Affonso II. (...) «Do vinho e do linho pagarão a sexta parte (uma bagatellal=..) - da prova de pau pagarão 5 soldos e da prova de lança 15 soldos.» Usava-se n'aquelle tempo e desde tempos muito anteriores, uma espécie de 'duellos a pau ou lança, a pé e a cavalo, como prova da culpabilidade ou innocencia dos litigantes, com certas formalidades legaes e assistência das auctoridades, pelo que estas recebiam do que ficava vencido certa somma. Por este bárbaro processo de julgamento muitos indivíduos, estando aliás innocentes, eram publicamente e barbaramente espancados, feridos e por vezes mortos; — e ainda pagavam as custas!... A justiça estava sempre do lado do mais forte e mais destro no jogo das armas (...) » (pág.1688-1689) |
« José Máximo Pinto da Fonseca Rangel, major do exercito, foi por algum tempo governador do Castello de S. João da Foz, do Douro; deputado às cortes ordinárias de 1822, (...) Eu ainda conheci um parente de José Máximo, talvez filho ou sobrinho do pobre alferes José Ribeiro Pinto. Chamava-se Francisco Pinto Ribeito da Fonseca; vivia então (1854-1860) na aldeia dos Araes, junto da quinta de Guimarães; depois passou para Lisboa, onde morreu solteiro e sem sucessão. Era homem já idoso, bastante illustrado e muito liberal. Durante o governo do sr. D. Miguel viveu homisiado e depois militou como voluntário no cerco do Porto, mas terminada a lucta, não seguiu a carreira das armas. Era muito excêntrico e muito valente! Depois que andou homisiado, lembrando-se dos discommodos porque passou em sítios ermos, trazia sempre comsigo uma nàvalha de barba, agulhas e linhas e uma pequena cabaça com vinho. Foi bom jogador de florete, sabre e pau — e tão valente e decidido, que todo o concelho de Baião o respeitava. Nenhum descante ousava ir ao povo d'elle sem lhe pedir licença, sob pena de serem corridos a pau, como por vezes correu descantes de valentões cheios de basofia. (...) Quando moço apostava que, saindo a um terreiro a tocar viola passeando, com um pau apertado simplesmente pelo braço esquerdo contra a ilharga, 3 homens quaes- quer não lhe tirariam o pau, nem lhe tolheriam o passo, nem o impediriam de tocar. Nunca perdeu a aposta e, contando já talvez 60 annos, a mim me disse que ainda apostava contra 2 valentões quaesquer!... » (pág.2117-2118) |
Ler separata do livro (pp.1347-1348)
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