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Livro: Antologia de textos de Julio Cesar Machado

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Autor: Vitor Wladimiro Ferreira
  • Título: Júlio César Machado no Oeste: Antologia de textos de Júlio César Machado
  • Publicação: Bombarral: Museu Municipal do Bombarral, 1996
  • Formato: 175 págs. (21x15cm). Brochado. Ilustrado


Textos literários de Júlio César Machado (1835–1890) onde se relata a vida social, económica e religiosa da região.

Em destaque:

  • O jogo do pau e as lições dadas durante o Verão (p. 11; p. 88).
  • O uso do varapau pelos homens (p. 13).
  • As festividades na Nazaré ao longo do ano: romarias, representação de autos (p. 9-18; 21-24).
  • O teatro da Nazaré e o hábito de os espectadores assistirem às peças com o varapau na mão e serem muito barulhentos (p. 13; 89).

Excerto da Obra

De "Festas de Nazaré", em Contos ao Luar de 1861

« Enquanto as mulheres lhes dançam em redor, os jogadores de pau serenam a fúria bélica, e assistem, encostados aos varapaus, a este recreio das artes belas; danças em sua honra e em seu louvor, espécie de apoteose, a que assistem pelos seus próprios olhos, mais felizes que os Césares romanos que só se tornavam deuses... depois de comerem cogumelos!...
(Pág. 11)

É de uso na Nazaré ter cada pessoa um varapau enorme a que se encosta. Este varapau não nos desampara nunca. Na igreja encostamo-lo à parede; nas salas colocamo-lo atrás da porta, com o boné, em cima, para depois o diferenciarmos; e no teatro guardamo-lo na mão.
Quando o pano sobe, os actores vêem mais os varapaus do que os espectadores, e dir-se-ia que estão representando... a um canavial!... O público de Nazaré é o público mais exigente e ruidoso de que eu tenho notícia, e está incessantemente a gritar, a rir, a bater com os varapaus e a fazer um motim, que Satanás invejou para o seu reino!
(Pág. 13-14) »

De "Quando voltei à Nazaré" em Passeios e Fantasias de 1862

« E depois, os jogadores de Pau, as mulheres do adro, os padres a negociarem missas (...) numa ferocidade digna do circo romano, desaba as trincheiras com os varapaus e os ouvidos com a gritaria (...)
(Pág. 22-23) »

De "A Senhora da Nazaré" em Folhetim do Jornal do Comércio de Lisboa de 1881

« De manhã, em pleno largo, jogam continuamente o pau uns poucos de camponeses. Faz-lhes circo a multidão, acotovelando-se uns aos outros na esperança de qual haja de ver o jogo de mais perto. Há naquilo professores e curiosos. Os curiosos gastam ali o seu tempo a amestrar-se nesse exercício; os professores vão de propósito à Nazaré, nesta época, para dar lições de pau a cinco tostões por discípulo!

É de uso na Nazaré ter cada pessoa um varapau a que se encoste.
O sujeito não desampara nunca o varapau.
Na igreja encosta-o à parede.
Nas salas, coloca-o atrás da porta com o boné em cima, para depois o diferenciar.
No teatro, guarda-o na mão.
De modo que em subindo o pano, os actores vêem mais os varapaus do que os espectadores, e dir-se-ia que estão representando a um canavial! O público da Nazaré é o mais exigente e ruidoso de que há notícia, e está a gritar incessantemente, a rir, e a bater com os varapaus. Não se calcula o que isso é!
(Pág. 88-89) »

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