Anónimo

Livro: Contos de Gostofrio e Lamalonga

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro


Sobre

  • Relevância: ★☆☆
  • Título: Contos de Gostofrio e Lamalonga
  • Autor: Bento da Cruz (1925-2015)
  • Publicação: Âncora Editora, janeiro 1992
  • ISBN: 9789727807277
  • Formato: Capa mole com 304 Páginas (14cm x 23cm)


Contos de Gostofrio e Lamalonga é uma obra de Bento da Cruz e obra ganhou o Prémio “Fialho de Almeida” da Sociedade Portuguesa de Escritores Médicos.[1]

Sinopse

Bento da Cruz criou em Planalto de Gostofrio uma inolvidável história de amor que é uma autêntica écloga em prosa vivida por António, zagal de vacas, e sua prima Carolina, pastora de gadinho. Este idílio infantil não encerra, porém, todo o livro, porquanto a par dele acontecem outras histórias.

Uma delas é a da Família dos Marinheiros: quantos são, como vivem, o que fazem; trabalhos agrícolas, dificuldades económicas, matança dos porcos, idas à missa e à feira, horas tristes, horas alegres. Outra é a do Povo de Gostofrio: organizações comunitárias, rivalidades entre vizinhos, zaragatas com as aldeias limítrofes, a vezeira, a chega do boi, os incêndios, os bailes, a má língua.

Ainda a da Região de Barroso na década de trinta. Planalto de Gostofrio é no seu conjunto, um livro solar, um cântico de alegria e acção de graças ao Criador dos pássaros e das rosas.[2]

Excerto da obra

« (...) deu-a o Manuel Lamalonga, rapaz dos seus trinta anos e cara de raposo prematuramente emancipado. Não era valente, mas tinha sangue na guelra. Um dia encontrou os Peneireiros juniores com os burros num lameiro de feno e correu tudo, bípedes e quadrupedes, à bordoada. (...)

Este Pernabamba era um peneirento engaiolado. Doença súbita e desconhecida deixara-o paralítico de ambas as pernas aos vinte anos. Lembro-me de o ver sempre com as mesmas botas virgens, às cavalitas da mulher, membros inferiores pendentes como dois apêndices inúteis, ou sentado à bigorna, canelas descarnadas a servirem de calço ao tronco.

Apesar do aleijão, ganhara fama de maroto e gostava de esgrimir cacete de cima do cavalo por feiras e arraiais. E, se um bote adversário o atirava abaixo da montada, tinha dedo lesto no gatilho. (...) »
(Página 11)

« …o Saias descobre um filho do Aníbal na Feira dos Santos, e de que se lembra o diabo? Atrair o rapaz a Gostofrio e fazê-lo purgar no lombo os pecados do pai. Logo no caminho à praina do Crasto, organizou um jogo do pau, na secreta malícia de aplicar umas bordoadas ao forasteiro. Entravam na marosca, além dele, Saias, o Benjamim, o Flisbino e o Picamilho, (…). Mas deram com as ventas num sedeiro. Para espanto e castigo dos quatro, o rapaz saiu-lhes puxador de alta escola. Não os rachou a todos, porque não quis ou se não apercebeu da traição. (…) Falhado o golpe, resolveram embebedá-lo. (…) Foi então que o milagre se deu e o espanto nos fulminou. Após um intróito em que disse da alegria de estar entre familiares e amigos, passou à resposta: que o velho pai ainda era vivo (…) que estava sempre a falar, com saudade e lágrimas, da família, dos amigos de infância, da terra Natal; que morria com a paixão de não voltar a ver Gostofrio, (…). Cantava numa voz poderosa e quente (…). Era a voz do sangue e da fraternidade a cantar dentro do nosso peito. Era o sortilégio do perdão e do amor entre os homens. »
(Página 0)

« Duma courela para a outra, ensaiavam jogos de pau com uma descontracção mais própria de folgazões em manhã de festa do que de ceifeiros em tarde de segada. E então aos domingos, espicaçados pelo cio e pelos copos, é que era esgrimir de porrete que nunca mais acabava. »
(Página 0)

Ver também

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Referências

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