Livro: Curiosidades de Guimarães XX

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: Curiosidades de Guimarães XX - Do Povo. Da Lavoura. Dos costumes. Do Passadio e dos trajos. Das apeirias e sementeiras. Dos Folguedos e das festas
  • Autor: Alberto Vieira Braga (1892–1965)
  • Publicação: Editora Guimarães, 1961
  • Formato: 22,2 cm x 15 cm


Curiosidades de Guimarães, do prolífico etnógrafo, historiador e investigador vimaranense Alberto Alves Vieira Braga. O autor iniciou a publicação das Curiosidades em 1927. De acordo com o historiador António Amaro das Neves, elas constituiriam «a obra da sua vida», tendo sido publicadas ao longo de quatro longas décadas. Ainda de acordo com o mesmo autor, Vieira Braga conseguiu cruzar «(…) o passado com o tempo presente, [e] traçou o retrato da vida económica, social e administrativa no burgo de Guimarães e nas suas aldeias, e deu corpo a um edifício etnográfico, histórico e literário que, desde cedo, se transformou num objecto de culto entre os vimaranenses.

Ao todo, as Curiosidades somam mais de duas mil e quinhentas páginas, que se distribuem por vinte e um ensaios, nos quais o autor, recorrendo a uma linguagem viva e espontânea, que nos remete para a imensa riqueza da coloquialidade popular, aborda, sob diversos ângulos de abordagem, os traços da ruralidade e do viver em Guimarães ao longo dos séculos. Por estes textos, onde se descreve esta terra e as suas gentes, passam os trabalhos e os folguedos, as sementeiras, as colheitas, os arraiais e romarias, as doenças, os medos, as guerras, a vida e a morte, os santos e os demónios, mas também as instituições, o teatro ou o jornalismo vimaranense.[1]

Resumo

O excerto de Alberto Alves Vieira Braga no seu livro Curiosidades de Guimarães apresenta o jogo do pau como uma prática popular vigorosa e associada às romarias na região de Guimarães, onde frequentemente se originavam desordens e lutas. Durante as festividades, grupos de jogadores de pau, conhecidos pelos seus varapaus de lódão, eram parte integrante dos eventos, trazendo consigo uma atmosfera de competitividade e, por vezes, violência, marcada por zaragatas que envolviam a abertura de "cacholas a eito" — expressão coloquial para ferimentos na cabeça.

O jogo do pau na região era cultivado em várias freguesias, como Costa, Urgeses, Polvoreira e S. Romão, onde os praticantes se reuniam para adestrar os seus movimentos e técnicas. O texto menciona diferentes fases ou estilos de jogo que os jogadores dominavam, entre os quais:

  1. Jogo de cruz singela
  2. Jogo de cruz dobrada
  3. Jogo de cruz batida
  4. Contra-jogo
  5. Jogo aberto

Além disso, o autor cita um folheto raro de 1885, escrito por Joaquim António Ferreira, que detalha outras fases do jogo, incluindo o "varrimento de cruz" e "jogo do meio", demonstrando a profundidade e estrutura da arte. Esta prática, que exigia habilidade e destreza, era um elemento distintivo do quotidiano vimaranense, tanto em contexto de festividades como em combates rituais ou ocasionais.

Excertos da obra

« (...) a todas estas romarias, chegava sempre o luxo mais domingueiro e garrido das moças e os oiros mais reluzentes dos seus peitos. Para lá se dirigíam também os grupos dos jogadores de pau, com os seus lódãos, quando lhes era permitido levarem esses varapaus da varrimenta e da pancadaria. (...)

E era raro que não metessem também, o gingar rodante dos caceteiros dos lódãos, que em zaragatas de despique, abriam varrimenta larga, e cacholas a eito. Dantes, era de estranhar um Santiago da Costa, um S.to Amaro e um S. Torcato, em não houvesse farturinha de desordens e pancadaria criar bicho.

Eis porque, estes grupos caceteiros e os mestres da baqueia, tinham os seus lugares de reunião para adestramento das suas predílecções favoritas.

Na freguesia da Costa, (lugar de S. Roque) em Urgeses, (lugar da Estrada Nova), Polvoreíra e S. Romão cultivava-se com afinco o jogo do pau, exercício de movimentos largos e de apurados e seguros golpes de vista.

Toda a arte de bem o jogar se desdobra nas seguintes e mais conhecidas fases:

1.ª - Jogo de cruz singela; 2.ª jogo de cruz dobrada; 3.ª jogo de cruz batida; 4.ª contra jogo; 5.ª jogo aberto.(1)

(1) Possuímos um curioso e raro folheto, assim intitulado: Arte Do fogo De Pau, por Joaquim António Ferreira, da cidade de Guimarães, Porto, 1885. Neste folheto, desenvolve o autor vimaranense, as seguintes fases do jogo: 1.º, Varrimento de cruz. 2.°, Varrimentos dobrados. 3., Corrida. 4.°, Jogo do meio. 5.°, Jogo contra jogo. »
(pág.210-2013)

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Ver também

Referências