Livro: História de Portugal - Direcção de José Mattoso 1993

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: História de Portugal - Direcção de José Mattoso, 5º Volume O Liberalismo (1807-1890)
  • ISBN: 9789723312621
  • Autor: José Mattoso
  • Publicação: - Editorial Estampa, 193
  • Formato: 712 páginas


A História de Portugal, dirigida por José Mattoso, é uma das obras mais marcantes da historiografia portuguesa contemporânea.

Apresentada como sendo “uma fonte permanente de consulta”, mas também “uma obra que se lê com prazer e proveito mesmo que a história não ocupe o centro dos nossos interesses”, a História de Portugal de Mattoso conta "com informação bibliográfica abundante, hierarquizando as matérias de acordo com uma lógica em que a estrutura se sobrepõe à conjuntura. As grandes mutações que alteraram a fisionomia de cada época são apresentadas sucintamente, destacando a relação fenomenológica entre política, economia, mentalidade, cultura e sociedade, recorrendo para o efeito a uma linguagem clara e a um estilo de agradável leitura".[1]

Resumo do excerto da obra

O texto descreve a prática do jogo do pau em meio rural português, especialmente entre os jovens, destacando a sua importância social e cultural. Originalmente, os jovens eram os principais responsáveis pelas festividades e atividades recreativas nas aldeias, contribuindo significativamente para as relações sociais e tradições. Até cerca de 1870-1880, as aldeias eram densamente povoadas por jovens, mas a emigração começou a extinguir antigos costumes e tradições.

No final do século XIX, grupos de jovens, antes comuns nas aldeias, passaram a reunir-se apenas aos fins de semana, divertindo-se com música e confrontos territoriais. A violência era uma prática habitual e uma forma de resolver conflitos, funcionando como uma prova de masculinidade e coragem. Em certas localidades, essas provas de masculinidade manifestavam-se através de competições de jogo do pau.

Considerado um jogo tipicamente nacional, o jogo do pau era generalizado em Portugal e exaltava capacidades atléticas e virtudes guerreiras, servindo como um meio de valorização pessoal. As competições estabeleciam hierarquias entre os jogadores e, em confrontos entre aldeias, determinavam a superioridade de uma sobre a outra. A habilidade no jogo do pau conferia ao jogador grande segurança e reconhecimento social.

As demonstrações de força eram procuradas pelos jovens, sendo comuns os combates em romarias, tabernas e danças. Contudo, a repressão da violência rural, com o aumento da vigilância policial e judicial a partir de 1920, levou à decadência do jogo do pau, que passou a ser exibido apenas em festivais de folclore.

Excerto da obra

Os quadros da vida rural: permanências e mudanças:

« Aos jovens competiam a maior parte das manifestações festivas (profanas e de tipo recreativo) em meio rural. São estes que asseguram, em grande parte, a vitalidade das relações sociais, das solidariedades (e rivalidades) aldeias e familiares. E se, até cerca de 1870-1880, as aldeias se mantém bastante povoadas com grande percentagem de jovens, a partir do momento em que estes começam a emigrar tendem a extinguir-se antigos costumes e tradições.

Grupos de rapazes percorrendo os campos, integrados ou não em estruturas mais ou menos hierarquizadas, era uma situação corrente nos campos do Antigo Regime. Nos finais do século XIX, estes «bandos» de jovens estavam reduzidos a agrupamentos de sábado à tarde e de domingo, que se divertiam vagueando pelas ruas das aldeias, cantando e tocando harmónica, viola toeira..), ou se digladiavam em «guerras de território» entre aldeias vizinhas.

O recurso à violência era uma forma de comportamento habitual e um meio de regulação de conflitos em meio rural, integrando-se num código de conduta masculina em que era assimilada à força física e à coragem. As hostilidades entre aldeias eram vividas, frequentemente, em termos de provas de masculinidade entre os rapazes dos respectivos lugares em litígio. Em algumas localidades dos concelhos de Coimbra e de Monternor-o-Velho estas «provas» assumiam a forma de competições de «jogos do pau».

«Jogo tipicamente nacional, na opinião de E. Veiga de Oliveira, o jogo do pau estava generalizado em Portugal (1972, pp. 54-75). Inscrevendo-se numa longa tradição de jogos viris, que exaltavam as capacidades atléticas e as virtudes guerreiras, a prática deste jogo era um meio de valorização pessoal.

Ao possibilitar estabelecer uma hierarquia entre os diversos jogadores ou, no caso de as competições se processarem entre jovens de povoações rivais, a superioridade de uma aldeia sobre as vizinhas, este jogo recriava escalas de valor e de mérito pessoal no interior das comunidades rurais. «O facto de se jogar bem o pau esclarece E. Veiga de Oliveira não só conferia ao jogador uma grande segurança em si próprio [...] mas fazia mesmo dele, fosse de que nível social fosse, alguém na região, gozando de consideração devida a quem possui um valor que se impõe.»

Nestas circunstâncias, os jovens procuravam deliberadamente todas as manifestações de força que podiam pôr à prova as suas capacidades. Deslocações empreendidas com intenção de combate eram frequentes, sendo geralmente as romarias, as tabernas e as brincadeiras de dança» os cenários deste tipo de violência.

A regressão da violência rural (por instauração do direito formal, maior vigilância policial, tornando-se sistemática a presença da Guarda Nacional Republicana em todas as romarias a partir d 1920, e a maior repressão judicial) arrastará consigo a petrificação e a morte de jogo do pau, reduzindo-o a um espetáculo a ser exibido em festivais de folclore. »
(Página 490)

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Referências