Livro: O Cinema Chegou a Portugal
Sobre
- Relevância: ★★☆
- Título: O Cinema Chegou a Portugal
- Autor: António Joaquim Ferreira
- Publicação: Lisboa, Bonecos Rebeldes, 1986 (1ª edição)
- ISBN 978-989-8137-35-7
- Formato: 67 páginas - Ilustrado
Excelente livro que descreve o percurso do cinema em Portugal desde 1894.
Excerto da obra
« Foram exibidos filmes realizados em Portugal por um operador português e outro inglês. Do operador português, Aurélio da Paz dos Reis, a seu tempo falaremos. O operador inglês, Henry William Short (1854-1918), trabalhava para Robert Paul e fora enviado a Espanha e Portugal, numa tournée de 5 se-manas, para filmar assuntos locais. O sol da Peninsula Ibérica, em Setembro, deve ter parecido uma dádiva celeste a um fotógrafo das Ilhas Britânicas. Uma dúzia de filmes, documentários, foram rodados por Henry Short em Lisboa, incluindo os desportos nacionais da tourada e do jogo-do-pau; e um outro, o mais famoso, na Boca do Inferno, em Cascais. (...) Na sessão de jogo-do-pau (que terá sido filmada no Retiro da Pipa, ao cimo da Avenida da Liberdade) participaram os jogadores Sousa Santos e Ambrósio Blanco. É de crer que tenham "representado" a sua actuação, sendo assim os primeiros actores portugueses de Cinema. Os negativos de Henry Short, obtidos numa câmara construída pelo próprio Robert Paul, eram enviados a Inglaterra para positivar; mas Edwin Rousby teve cópias deles para exibir no Real Coliseu de Lisboa antes da sua apresentação no Alhambra de Londres. De Paz dos Reis, exibiu Rousby dois filmes, tirados no Norte: FEIRA DE GADO NA CORUJEIRA e A RIBEIRA (no Porto). Ao todo, Rousby ultrapassou 200 sessões e exibiu mais de 100 filmes. Na sessão de despedida, Rousby prendou os espectadores com fotogramas das suas películas, iniciando assim as colecções de "pontos", que, mais tarde, vieram a ser causa da destruição criminosa de muitos filmes, para vender fotogramas aos coleccionadores. Em Janeiro de 1897, Rousby e sua esposa Maud, que também apresentara um "número" de maravilhas eléctricas no Real Coliseu, seguiram para Inglaterra, via Paris, tendo enviado por barco a bagagem profissional. Outro espectador do Animatógrapho Rousby, no Principe Real do Porto, foi Aurélio da Paz dos Reis, homem de multifacetados interesses, com uma sólida reputação de revolucionário republicano, floricultor de profissão e fotógrafo amador. A semelhança de Santos Liborio e de Pinto Moreira (e de Costa Veiga, com reservas), Paz dos Reis acreditou nas possibilidades comerciais imediatas do novo invento, e, como eles, actuou sem demora. Associou-se a António da Silva Cunha, proprietário de uma fábrica e loja de Camisaria, e a Francisco Magalhães Bastos Jr., proprietário de uma loja de Fotografia. Planeavam filmar assuntos portugueses e explorar mercado de Portugal e do Brasil. As filmagens realizaram-se sem dificuldade, e ainda hoje existem pedaços dos seus filmes. De imediato, a experimentar o aparelho, terá filmado "cenas da vida parisiense" (segundo se pode inferir d'A VOZ PÚBLICA de 1 de Novembro de 1896). Em 8 de Setembro foi filmado o 1.° com data conhecida, MANOBRAS DE BOMBEIROS, na Inspecção de Incêndios do Porto. Dois dias depois, foi filmado um Cortejo Eclesiástico. E outros se seguiram, provavelmente nos dias imediatos: uma FEIRA DE GADO, a SAÍDA DO PESSOAL OPERÁRIO DA FÁBRICA CONFIANÇA, o ZÉ PEREIRA, O JOGO DO PAU, etc. (...) Paz dos Reis e Bastos Jr., como fotógrafos que eram, teriam planeado tirarem eles próprios as cópias positivas dos seus filmes, e Paz dos Reis teria por certo adquirido um aparelho com tais possibilidades. Afinal, tiveram de enviar os negativos a Paris, e só dois meses depois das filmagens é que o Kinetógrapho Portuguez Paz dos Reis foi exibido no Porto, na mesma sala que vira o Animatógrapho Rousby e o Animatógrapho Portuguez Pinto Moreira. » |
Ver também
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