Livro: Portugal antigo e moderno, XII volume
Sobre
- Relevância: ★★☆
- Título: Portugal antigo e moderno, XII volume
- Autor: Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de; Ferreira, Pedro Augusto
- Publicação: Lisboa: Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão. 1890
- Formato: 895 páginas
A obra Portugal antigo e moderno, XII volume é um vasto dicionário geográfico de Portugal. O próprio título diz tudo. Podemos ler:
Portugal antigo e moderno; diccionario geographico, estatistico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias...
Resumo dos excertos da obra
D. Francisco Mendes de Vasconcellos e a Revolta dos Picadeiros
No século XV, D. Francisco Mendes de Vasconcellos regressou a Vimioso após anos em Salamanca e encontrou resistência dos habitantes da freguesia dos Picadeiros, que se recusavam a pagar-lhe rendas. Tentando resolver a disputa, dirigiu-se à povoação com os seus criados, mas foi recebido com uma revolta popular, onde a população se armou com paus, pedras, espingardas, fouces e forcados. O confronto obrigou-o a refugiar-se numa torre, evidenciando como o pau era uma arma comum do povo nas lutas contra o poder senhorial.
O Pau nos Duelos e na Justiça Medieval
No foral de Viseu de 1187, menciona-se a “prova de pau” como um dos métodos de julgamento medieval. Nestes duelos, os litigantes combatiam com paus ou lanças sob supervisão das autoridades, que cobravam taxas sobre o resultado. Este sistema, baseado na força e destreza, frequentemente resultava em espancamentos brutais e até mortes, independentemente da inocência dos envolvidos. O uso do pau como meio de resolução de disputas legais mostra a sua importância não só na autodefesa, mas também na aplicação da justiça medieval.
Francisco Pinto Ribeiro da Fonseca: O Pau como Símbolo de Valentia
No século XIX, Francisco Pinto Ribeiro da Fonseca destacou-se pelo seu domínio do florete, sabre e, sobretudo, do pau. Respeitado em Baião, impunha a sua autoridade expulsando valentões que desafiavam a sua terra, recorrendo ao pau para resolver confrontos. Famoso pela sua destreza, apostava que três homens não lhe conseguiriam tirar o pau enquanto tocava viola, desafiando qualquer um a impedi-lo. A sua habilidade demonstrava não só a eficácia do pau no combate, mas também o seu valor como símbolo de coragem e destreza individual.
Excertos da obra
«
D. Francisco Mendes de Vasconcellos,o heroe da pendência. Casou em 1480 e, como a esposa tivessea família em Salamanca, ali fixou elle também a sua residência durante 13 annos, ou até 1493, data em que regressou a Vimioso, onde, como senhor da vílla, foi muito bem recebido por todos, exceptuando os habitantes da freguezia dos Picadeiros que, na ausência d'elle, se haviam recusado a pagar aos seus criados e procuradores as rendas e foros e já deviam avultadas somas de muitos annos. Tentou D. Francisco traze-los a melhor accordo, mas elles persistiram no propósitode não pagarem, pelo que D. Francisco Mendes, com o pretexto de fazer uma caçada, foi um dia com os seus criados á povoação dos Picadeiros, para ver se o resolvia a pagarem-lhe os foros e rendas; mas, apenas ali chegou, levantaram-se em massa os moradores da freguezia e correram armados contra elle com paus, pedras, espingardas, fouces e forcados, pelo que D. Francisco teve de acolher-se á sua torre com os seus criados, perecendo logo no primeiro recontro um dos que elle mais estimava. » (pág.1472-1473) |
« Viseu 1187 Forale Viseense alterum... Em vulgar: «Outro foral de Viseu se guarda na Torre do Tombo no Livro de Foraes amigos de Santa Cruz - e no Livro de D. Affonso II. (...) «Do vinho e do linho pagarão a sexta parte (uma bagatellal=..) - da prova de pau pagarão 5 soldos e da prova de lança 15 soldos.» Usava-se n'aquelle tempo e desde tempos muito anteriores, uma espécie de duellos a pau ou lança, a pé e a cavalo, como prova da culpabilidade ou innocencia dos litigantes, com certas formalidades legaes e assistência das auctoridades, pelo que estas recebiam do que ficava vencido certa somma. Por este bárbaro processo de julgamento muitos indivíduos, estando aliás innocentes, eram publicamente e barbaramente espancados, feridos e por vezes mortos; — e ainda pagavam as custas!... A justiça estava sempre do lado do mais forte e mais destro no jogo das armas (...) » (pág.1688-1689) |
« José Máximo Pinto da Fonseca Rangel, major do exercito, foi por algum tempo governador do Castello de S. João da Foz, do Douro; deputado às cortes ordinárias de 1822, (...) Eu ainda conheci um parente de José Máximo, talvez filho ou sobrinho do pobre alferes José Ribeiro Pinto. Chamava-se Francisco Pinto Ribeito da Fonseca; vivia então (1854-1860) na aldeia dos Araes, junto da quinta de Guimarães; depois passou para Lisboa, onde morreu solteiro e sem sucessão. Era homem já idoso, bastante illustrado e muito liberal. Durante o governo do sr. D. Miguel viveu homisiado e depois militou como voluntário no cerco do Porto, mas terminada a lucta, não seguiu a carreira das armas. Era muito excêntrico e muito valente! Depois que andou homisiado, lembrando-se dos discommodos porque passou em sítios ermos, trazia sempre comsigo uma nàvalha de barba, agulhas e linhas e uma pequena cabaça com vinho. Foi bom jogador de florete, sabre e pau — e tão valente e decidido, que todo o concelho de Baião o respeitava. Nenhum descante ousava ir ao povo d'elle sem lhe pedir licença, sob pena de serem corridos a pau, como por vezes correu descantes de valentões cheios de basofia. (...) Quando moço apostava que, saindo a um terreiro a tocar viola passeando, com um pau apertado simplesmente pelo braço esquerdo contra a ilharga, 3 homens quaes- quer não lhe tirariam o pau, nem lhe tolheriam o passo, nem o impediriam de tocar. Nunca perdeu a aposta e, contando já talvez 60 annos, a mim me disse que ainda apostava contra 2 valentões quaesquer!... » (pág.2117-2118) |
Ler separata do livro (pp.1347-1348)
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