Livro: A nova carta chorográphica de Portugal: diferenças entre revisões

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== Resumo do excerto da obra ==
== Resumo do excerto da obra ==


O texto descreve uma rixa que ocorreu em tempos antigos, onde os habitantes da vila dos Arcos temiam a hostilidade dos soajeiros, habitantes das serras do mesmo concelho. Um dia, os soajeiros decidiram confrontar os habitantes da vila durante a feira, subindo à área elevada onde se realizava a feira dos Arcos. Apesar das tentativas das autoridades para evitar o confronto, os soajeiros atacaram os comerciantes e agricultores com varapaus, mas foram rapidamente derrotados pelos habitantes da vila, que se defendiam vigorosamente. Os soajeiros foram dispersos e, apesar de um vencedor ter morrido durante o confronto, a vitória foi dos habitantes da vila dos Arcos.


== Excerto da obra ==
== Excerto da obra ==
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Mas a verdade é que, em tempos antigos, sempre que nos Arcos se falava em os soajeiros queriam descer á vila em atitude hostil, o susto não era pequeno. Lembro-me disso e era criança.
Mas a verdade é que, em tempos antigos, sempre que nos Arcos se falava em os soajeiros queriam descer á vila em atitude hostil, o susto não era pequeno. Lembro-me disso e era criança.


Ha alguns annos sucedeu ponrém, um facto que desenganou os arcoenses de que podiam medir as suas forças com estes destemidos serranos. Foi o caso que os soajeiros quizeram desafrontar-se de quaesquer agravos de romaria, feitos não sei por que frequentadores de feiras ou arraiaes de outras freguesias de concelho. (Prozêllo, etc.) Levaram a sua audácia a escolher para o despique um dia de feira dos Arcos, de modo que vieram em massa e, simulando um batalhão, subiram provocadoramente a calçada que na vila conduz ao elevado sitio, onde se faz a feira do gado e onde, portanto, '''se reúnem os ''puxadores'' de páu, os ''varredores'' de feiras, os mestres, emfim, na arte de rachar cabeças do próximo'''.
Ha alguns annos sucedeu ponrém, um facto que desenganou os arcoenses de que podiam medir as suas forças com estes destemidos serranos. Foi o caso que os soajeiros quizeram desafrontar-se de quaesquer agravos de romaria, feitos não sei por que frequentadores de feiras ou arraiaes de outras freguesias de concelho. (Prozêllo, etc.) Levaram a sua audácia a escolher para o despique um dia de feira dos Arcos, de modo que vieram em massa e, simulando um batalhão, subiram provocadoramente a calçada que na vila conduz ao elevado sitio, onde se faz a feira do gado e onde, portanto, '''se reúnem os ''puxadores'' de páu, os ''varredores'' de feiras, os mestres, enfim, na arte de rachar cabeças do próximo'''.


A autoridade administrativa, que prevenida. foi parlamentar com os chefes da expedição, nada conseguiu!
A autoridade administrativa, que prevenida. foi parlamentar com os chefes da expedição, nada conseguiu!


Chegados ahi, sem mais tir-te nem guar-te, iniciaram, com os seus toscos varapaus de cerquinho, um rodopio cego, a torto e a direito, sobre os surpreendidos lavradores e contratadores de gado, que na feira se encontravam. Mas não tardou que a impulsiva estratégia da a arremetida tivesse o desfecho natural. Senhores de uma posição favoravel e assomados pela ousadia dos soajeiros, todos os que tinham uma boa vara nas unhas, depois de se «cobrirem » dos primeiros «talhos. responderam-lhes com uma torrente de pancadaria tal, caindo de roldão sobre os soajeiros e acossando-os com os seus ''lodãos'' fortemente ''«argolados»'' que dentro de breves minutos, ninguém na vila sabia o que fôra dos arrogantes caceteiros, tamanha foi a estugada aflição com que se sumiram pelas encruzilhadas e pelos milharais. Do prélio, ficou um morto dos vencedores! Constava depois que o desbarato não fora estranha a pedrada do mulherio. Na expressão minhota, foi um verdadeiro ''«dia de juizo»'' nos Arcos!
Chegados ahi, sem mais tir-te nem guar-te, iniciaram, com os seus toscos varapaus de cerquinho, um rodopio cego, a torto e a direito, sobre os surpreendidos lavradores e contratadores de gado, que na feira se encontravam. Mas não tardou que a impulsiva estratégia da a arremetida tivesse o desfecho natural. Senhores de uma posição favoravel e assomados pela ousadia dos soajeiros, todos os que tinham uma boa vara nas unhas, depois de se «cobrirem » dos primeiros «talhos. responderam-lhes com uma torrente de pancadaria tal, caindo de roldão sobre os soajeiros e acossando-os com os seus ''lodãos'' fortemente ''«argolados»'' que dentro de breves minutos, ninguém na vila sabia o que fôra dos arrogantes caceteiros, tamanha foi a estugada aflição com que se sumiram pelas encruzilhadas e pelos milharais. Do prélio, ficou um morto dos vencedores! Constava depois que o desbarato não fora estranha a pedrada do mulherio. Na expressão minhota, foi um verdadeiro ''«dia de juizo»'' nos Arcos!»<br>
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== Ver também ==
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* Veja o documnetário [[Filme: Povo que Canta - Soajo - 1971|Povo que Canta - Soajo - 1971]]
* Consulte toda a [[Bibliografia]]
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== Referências ==
== Referências ==

Edição atual desde as 23h42min de 11 de abril de 2024

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Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: A nova carta chorográphica de Portugal, 3º volume
  • Autor: General Marquez D'Ávila e de Bolama (1842-1917)
  • Publicação: Lisboa : Academia Real das Sciencias, 1909


Resumo do excerto da obra

O texto descreve uma rixa que ocorreu em tempos antigos, onde os habitantes da vila dos Arcos temiam a hostilidade dos soajeiros, habitantes das serras do mesmo concelho. Um dia, os soajeiros decidiram confrontar os habitantes da vila durante a feira, subindo à área elevada onde se realizava a feira dos Arcos. Apesar das tentativas das autoridades para evitar o confronto, os soajeiros atacaram os comerciantes e agricultores com varapaus, mas foram rapidamente derrotados pelos habitantes da vila, que se defendiam vigorosamente. Os soajeiros foram dispersos e, apesar de um vencedor ter morrido durante o confronto, a vitória foi dos habitantes da vila dos Arcos.

Excerto da obra

« Mas a verdade é que, em tempos antigos, sempre que nos Arcos se falava em os soajeiros queriam descer á vila em atitude hostil, o susto não era pequeno. Lembro-me disso e era criança.

Ha alguns annos sucedeu ponrém, um facto que desenganou os arcoenses de que podiam medir as suas forças com estes destemidos serranos. Foi o caso que os soajeiros quizeram desafrontar-se de quaesquer agravos de romaria, feitos não sei por que frequentadores de feiras ou arraiaes de outras freguesias de concelho. (Prozêllo, etc.) Levaram a sua audácia a escolher para o despique um dia de feira dos Arcos, de modo que vieram em massa e, simulando um batalhão, subiram provocadoramente a calçada que na vila conduz ao elevado sitio, onde se faz a feira do gado e onde, portanto, se reúnem os puxadores de páu, os varredores de feiras, os mestres, enfim, na arte de rachar cabeças do próximo.

A autoridade administrativa, que prevenida. foi parlamentar com os chefes da expedição, nada conseguiu!

Chegados ahi, sem mais tir-te nem guar-te, iniciaram, com os seus toscos varapaus de cerquinho, um rodopio cego, a torto e a direito, sobre os surpreendidos lavradores e contratadores de gado, que na feira se encontravam. Mas não tardou que a impulsiva estratégia da a arremetida tivesse o desfecho natural. Senhores de uma posição favoravel e assomados pela ousadia dos soajeiros, todos os que tinham uma boa vara nas unhas, depois de se «cobrirem » dos primeiros «talhos. responderam-lhes com uma torrente de pancadaria tal, caindo de roldão sobre os soajeiros e acossando-os com os seus lodãos fortemente «argolados» que dentro de breves minutos, ninguém na vila sabia o que fôra dos arrogantes caceteiros, tamanha foi a estugada aflição com que se sumiram pelas encruzilhadas e pelos milharais. Do prélio, ficou um morto dos vencedores! Constava depois que o desbarato não fora estranha a pedrada do mulherio. Na expressão minhota, foi um verdadeiro «dia de juizo» nos Arcos!»
(Páginas 56-57)

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