Livro: Aleijões sociaes; O casamento e a mortalha no ceu se talha
Sobre
- Relevância: ★☆☆
- Título: Aleijões sociaes; O casamento e a mortalha no ceu se talha
- Autor: Francisco Gomes de Amorim (1827-1891)
- Publicação: Lisboa : Typ. Universal de T.Q. Antunes, 1870
- Formato: 413 páginas
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Excertos da obra
SCENA XI – MATHIAS, PEDRO, THEREZA, DOMINGOS
DOMINGOS de varapau na mão, áparte. -Lá está o Pedro amarrado à moça ! PEDRO à parte –O Domingos cançou-se de esperar e vem aqui procural-a; cuida que me mette mêdo por ser mais rico?… Pois não a leva assim, com os dianhos ! TEREZA, vendo Domingos –Ai, meus peccados ! São quasi horas de jantar e eu aqui posta de conversa ! DOMINGOS -Pódes conversar, Thereza ; eu ajudei tua irmã a dar de beber ao gado. PEDRO, a Thereza –Queres que eu te acompanhe a casa ? DOMINGOS, sorrindo -Ella terá mêdo ? Precisas de quem te guarde, moça ? PEDRO, a Domingos -A cachopa estava a fallar comigo ; não tens cá que dizer chacotas, ouviste. DOMINGOS, encostando-se ao pau -Apósto que me bates, se eu brincar com ella ? THEREZA -Jesus ! Não façam tolices, por amor d’isso, vou-me já embora. Vae-se. |
SCENA XII – PEDRO, DOMINGOS, MATHIAS
PEDRO, querendo acompanhal-a –Disse que ia comtigo, está dito ! Tambem não tenho mêdo que me engulam. DOMINGOS, atravessando-lhe o pau diante das pernas -Não falles assim, homem ! PEDRO, levantando o seu pau -Agora, pagas-m’o DOMINGOS, fazendo jogo -E tu a mim ! Fórma um sarilho, correndo sobre o Pedro ; este, recúa, defendendo-se, em toda a largura do terreiro, e quando chega à parede, attaca e obriga Domingos a recuar até ao lado opposto. MATHIAS -Rapazes ! rapazes !… accomodem-se, com a bréca ! vejam se se estragam, que não podem depois ir para o Brazil ! Os dois continuam jogando o pau, ora avançando um, ora outro |
SCENA XIII - PEDRO, DOMINGOS, MATHIAS, DIONISIO
DIONISIO, correndo, com um varapau e fazendo jogo de longe -Funga-lhe a venta, com seis centos diabos ! Jogam como duas fragatas ! Mas se se matam ou quebram as cabeças, não os levarei d’esta viagem. Alto ahi ! (metendo o seu pau de permeio) Alto ahi ou a coisa é comigo ! DOMINGOS, ensarilhando o pau para ele -E que dúvida tem ?! Atira-lhe uma paulada, que Dionisio varre, correspondendo-lhe com outra que lhe parte o pau DIONISIO, rindo -Eu sou mais duro de roer, meu filho ! -Aprendi com o Joaquim Cordoeiro, que era pimpão de feira, e um mestre de se lhe tirar o chapéo ! Mas dou-te a minha palavra de que tambem não trabalhas mal ; (apontando para Pedro) e cá o rapazote não te fica atraz ! PEDRO, a Mathias -Conte comigo, tio Mathias. DOMINGOS, a Pedro -Ó moço, isto acabou aqui. (dando-lhe a mão) -Não te vás embora por minha causa ; e casa com a Thereza, se queres, que eu não me atravesso diante ti. PEDRO, tomando-lhe a mão -Obrigado ; estou resolvido a ir tentar fortuna DOMINGOS -Olha, eu não quero casar, homem ; foi tudo uma asneira. Pareceu-me que andavas a desafiar-me e por isso te fiz frente ; mas sou teu amigo e cedo-te o campo como se fosses meu irmão. PEDRO -Agradeço-te essas palavras, Domingos ; depois de ouvi-las, com mais razão devo partir. Domingos fica pensativo. |
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