Livro: Apontamentos para a história da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte: diferenças entre revisões
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* '''Publicação:''' Braga, Typographia Lusitana, 1ª Edição 1883 | * '''Publicação:''' Braga, Typographia Lusitana, 1ª Edição 1883 | ||
* '''Formato:''' 480 páginas | |||
O Padre Casimiro José Vieira, Sacerdote minhoto | O Padre Casimiro José Vieira, Sacerdote minhoto e um dos líderes das guerrilhas da Maria da Fonte. Tendo ido viver para a vila de Margaride no concelho de Felgueiras, foi aí pároco da Paróquia de Margaride (Santa Eulália) de 27-03-1867 a 09-12-1867. | ||
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(...) observando o que eu pretendia daquele lugar, refizeram-se pelas '''roçadouras''' descendo-as para trás das costas em ar de arremeter e como preparando-se para atacar, mas paradas. (...) A esta voz, pararam todas as de dentro na posição em que cada uma se achava, umas com os '''chuços espetados''' nos forros, outras com as '''roçadouras no ar a descarregar o golpe''', (...) | |||
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(...) e ocorreu-me então, que o remédio melhor, e único, para a evitar e aniquilar era andar constantemente armados de '''cacetes seguros de cerquinhos''' ou '''lódo''' e prová-los amiúde nas costas deles se prometimentos prévios. | |||
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Pela tarde começou de novo outra vez a faltar a pólvora; cessou então o fogo, retirando nós para o Bom Jesus do Monte, e parte do povo para as povoações em volta, e todos sem comer em todo o dia. | |||
Custou muito este ataque em vidas e pólvora. Se eu o comandasse, provavelmente não haveria tanto desperdício porque, por não saber a arte da guerra, seguiria a regra do aldeão que, batendo-se a cacete com um '''jogador de pau''', lhas tirava amiudadas e com peso; e dizendo-lhe o jogador que fizesse jogo, respondia que o seu jogo era atirá-las amiudadas e carregadas, pois não sabia outro, indo abaixo o jogador por não poder suster-lhe as pauladas. | Custou muito este ataque em vidas e pólvora. Se eu o comandasse, provavelmente não haveria tanto desperdício porque, por não saber a arte da guerra, seguiria a regra do aldeão que, batendo-se a cacete com um '''jogador de pau''', lhas tirava amiudadas e com peso; e dizendo-lhe o jogador que fizesse jogo, respondia que o seu jogo era atirá-las amiudadas e carregadas, pois não sabia outro, indo abaixo o jogador por não poder suster-lhe as pauladas. | ||
» <small>(pág. 116)</small> | |||
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O Padre ''Casimiro José Vieira'', propõe, numa carta ao ''Rei D. Carlos VII'', duque de Madrid, datada de 12 de maio de 1874 (durante a terceira Guerra Carlista (1872-1876), uma forma de utilizar uma lança improvisada feita a partir de uma foice roçadoura, sendo esta uma técnica baseada no Jogo do Pau. Referindo que esta proposta já tinha sido pensada por um militar, o Sr. ''António Joaquim de Barros Lima'', oficial em várias guerras desde 1828. | |||
<ref>LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 ([[Livro: O Jogo do Pau Português (a arte marcial portuguesa com séculos de prática)|sobre o livro]])</ref> | |||
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(…) Proponho ultimamente à consideração de Vossa Majestade (…) E consiste ela em armar de revolver e '''roçadora''' uma ou duas companhias em cada batalhão, para substituírem a cavalaria, e baterem-se com ela, e, principalmente, para nas cargas a ferro frio decidirem as batalhas com mais rapidez e segurança que os botes da baioneta. | |||
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A roçadoura é a mesma foice de podar as vides, mas com ponta aguda na direcção das costas, do tamanho de meio palmo acima dela, para poder cortar para o lado, e espetar para a frente, encabada em um pau da altura de um homem, como a figura aqui desenhada ao lado. | |||
O manejo desta arma é o mesmo do jogo do pau, pegando-se dela com a mão esquerda, e com a direita no meio dele para o lado da foice, ficando o ombro direito em frente com o inimigo. Para saber o manejo dela basta aprender a dar um passo para a frente e para a retaguarda, já por um lado já por outro, dando de cada vez, junta com o passo, uma volta de roçadora em redor do corpo e por cima da cabeça para se cobrir das pancadas inimigas, como no '''jogo do pau''' quando se faz varrimento; e acrescentando em cada passo, quando o ombro direito fica para o inimigo, uma pontada para a frente ou para ele. | |||
Um qualquer dos vossos Navarros, '''armado de roçadora''', e estando bem convencido da firmeza, serventia e efeitos desta arma, pode arrostar com cem republicanos, nas cargas a ferro frio, e até com os cavalarias ou lanceiro, devendo procura-los sempre pela esquerda ou frente do cavalo, por que por uma e outra parte alcança pouco tanto a espada como a lança, e o rocêna pode espetar o cavalo pelo peito, ou cortar-lhe as pernas, ou os queixos, ou as rédeas. | |||
» <small>(pp. 259-260)</small> | |||
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Edição atual desde as 09h41min de 1 de maio de 2023
Sobre
- Relevância: ★★★
- Título: Apontamentos para a história da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte
- Autor: Padre Casimiro José Vieira (1817-1895)
- Publicação: Braga, Typographia Lusitana, 1ª Edição 1883
- Formato: 480 páginas
O Padre Casimiro José Vieira, Sacerdote minhoto e um dos líderes das guerrilhas da Maria da Fonte. Tendo ido viver para a vila de Margaride no concelho de Felgueiras, foi aí pároco da Paróquia de Margaride (Santa Eulália) de 27-03-1867 a 09-12-1867.
[1]
Apontamentos para a história da Revolução do Minho em 1846 ou da Maria da Fonte é um relato das suas atividades guerreiras à frente de um grupo de camponeses.
Excertos da obra
« No caminho encontrei uma mulher armada de roçadoura, da casa do Rebelo, de um lugar fronteiro ao meu chamado Gandra, e como eu já sabia que eram mulheres que faziam os enterros, perguntei-lhe, por graça, se ela vinha de algum. Respondeu-me, que não, mas que tinha deixado dias antes a roçadoura em certa parte, e que tinha ido então por ela. » (pág. 6) |
« (...) observando o que eu pretendia daquele lugar, refizeram-se pelas roçadouras descendo-as para trás das costas em ar de arremeter e como preparando-se para atacar, mas paradas. (...) A esta voz, pararam todas as de dentro na posição em que cada uma se achava, umas com os chuços espetados nos forros, outras com as roçadouras no ar a descarregar o golpe, (...) » (pág. 9) |
« (...) Porém uma das mulheres, que era mais cordata, e que se convenceu de que eu tinha razão, deu-me d'olho, e arremetendo-me com a roçadoura, disse — tudo lá fora, tudo lá fora — e saindo eu de pronto, varreu ela para fora todas as mulheres, que estavam dentro. » (pág. 11) |
« (...) e ocorreu-me então, que o remédio melhor, e único, para a evitar e aniquilar era andar constantemente armados de cacetes seguros de cerquinhos ou lódo e prová-los amiúde nas costas deles se prometimentos prévios. » (pág. 24) |
« Pela tarde começou de novo outra vez a faltar a pólvora; cessou então o fogo, retirando nós para o Bom Jesus do Monte, e parte do povo para as povoações em volta, e todos sem comer em todo o dia. Custou muito este ataque em vidas e pólvora. Se eu o comandasse, provavelmente não haveria tanto desperdício porque, por não saber a arte da guerra, seguiria a regra do aldeão que, batendo-se a cacete com um jogador de pau, lhas tirava amiudadas e com peso; e dizendo-lhe o jogador que fizesse jogo, respondia que o seu jogo era atirá-las amiudadas e carregadas, pois não sabia outro, indo abaixo o jogador por não poder suster-lhe as pauladas. » (pág. 116) |
O Padre Casimiro José Vieira, propõe, numa carta ao Rei D. Carlos VII, duque de Madrid, datada de 12 de maio de 1874 (durante a terceira Guerra Carlista (1872-1876), uma forma de utilizar uma lança improvisada feita a partir de uma foice roçadoura, sendo esta uma técnica baseada no Jogo do Pau. Referindo que esta proposta já tinha sido pensada por um militar, o Sr. António Joaquim de Barros Lima, oficial em várias guerras desde 1828. [2]
« (…) Proponho ultimamente à consideração de Vossa Majestade (…) E consiste ela em armar de revolver e roçadora uma ou duas companhias em cada batalhão, para substituírem a cavalaria, e baterem-se com ela, e, principalmente, para nas cargas a ferro frio decidirem as batalhas com mais rapidez e segurança que os botes da baioneta. » |
E explica:
« A roçadoura é a mesma foice de podar as vides, mas com ponta aguda na direcção das costas, do tamanho de meio palmo acima dela, para poder cortar para o lado, e espetar para a frente, encabada em um pau da altura de um homem, como a figura aqui desenhada ao lado. O manejo desta arma é o mesmo do jogo do pau, pegando-se dela com a mão esquerda, e com a direita no meio dele para o lado da foice, ficando o ombro direito em frente com o inimigo. Para saber o manejo dela basta aprender a dar um passo para a frente e para a retaguarda, já por um lado já por outro, dando de cada vez, junta com o passo, uma volta de roçadora em redor do corpo e por cima da cabeça para se cobrir das pancadas inimigas, como no jogo do pau quando se faz varrimento; e acrescentando em cada passo, quando o ombro direito fica para o inimigo, uma pontada para a frente ou para ele. Um qualquer dos vossos Navarros, armado de roçadora, e estando bem convencido da firmeza, serventia e efeitos desta arma, pode arrostar com cem republicanos, nas cargas a ferro frio, e até com os cavalarias ou lanceiro, devendo procura-los sempre pela esquerda ou frente do cavalo, por que por uma e outra parte alcança pouco tanto a espada como a lança, e o rocêna pode espetar o cavalo pelo peito, ou cortar-lhe as pernas, ou os queixos, ou as rédeas. » (pp. 259-260) |
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Ver também
- Consulte toda a Bibliografia
- Maria da Fonte
- Foice roçadoura
Links externos
Referências
- ↑ https://pt.wikipedia.org/wiki/Casimiro_Jos%C3%A9_Vieira
- ↑ LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 (sobre o livro)