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(Criou a página com "thumb|right|200px| {| align=center |- |capa do livro |- | |} == Sobre == * '''Relevância: ''' ★☆☆ * '''Título:''' Theatro comico: A Morgadinha de Val d'Amores; Entre a flauta e a Viola * '''Autor:''' Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz * '''Publicação:''' Lisboa : Typ. Universal, de Maio 1871 a Junho 1883 * '''Formato:''' 14 cm '''''As Farpas''''' foram publicações mensais escritas por Ramalho Ortigão e Eça de Q...")
 
 
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== Sobre ==
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* '''Relevância: ''' ★☆☆
* '''Relevância: ''' ★★☆
* '''Título:''' Theatro comico: A Morgadinha de Val d'Amores; Entre a flauta e a Viola
* '''Título:''' As farpas : chronica mensal da politica das letras e dos costumes
* '''Autor:''' Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz
* '''Autor:''' [[Ramalho Ortigão]] (1836-1915)
* '''Publicação:''' Lisboa : Typ. Universal, de Maio 1871 a Junho 1883
* '''Publicação:''' Lisboa : Typ. Universal, de Maio 1871 a Junho 1883
* '''Formato:''' 14 cm
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'''''As Farpas''''' foram publicações mensais escritas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós, iniciadas no mesmo ano da realização das Conferências do Casino. Decerto foram inspiradas em Les Guêpes (1839-1849), de Alphonse Karr (1808-1890).[1] As Farpas aparecem em 1871, assinadas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós até o ano seguinte, e somente pelo primeiro até o fim, 1882.[1] Subintitulando-se "O País e a Sociedade Portuguesa", os folhetins mensais d'As Farpas constituem um painel jornalístico da sociedade portuguesa nos anos posteriores a 1870, erguido com bonomia, sentido agudo das mazelas sociais, um alto propósito consciencializador, e uma linguagem límpida e variada.<ref>https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Farpas</ref>
'''''As Farpas''''' foram publicações mensais escritas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós, iniciadas no mesmo ano da realização das Conferências do Casino. Decerto foram inspiradas em Les Guêpes (1839-1849), de Alphonse Karr (1808-1890).[1] As Farpas aparecem em 1871, assinadas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós até o ano seguinte, e somente pelo primeiro até o fim, 1882.[1] Subintitulando-se "O País e a Sociedade Portuguesa", os folhetins mensais d'As Farpas constituem um painel jornalístico da sociedade portuguesa nos anos posteriores a 1870, erguido com bonomia, sentido agudo das mazelas sociais, um alto propósito consciencializador, e uma linguagem límpida e variada.<ref>https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Farpas</ref>
Sabia que '''''[[Ramalho Ortigão]] ''''' também jogava ao pau? Saiba mais [[Ramalho Ortigão|aqui]].


== Excertos da obra ==
== Excertos da obra ==
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Em Portugal o minhoto , nosso comprovinciano , nunca se bate senão á '''paulada'''; o transmontano vinga-se a tiro . O unico portuguez para quem a faca é arma predilecta é o extremenho, e principalmente o iisboeta. É uma influencia do meio em que vive e da educação que recebe.
Em Portugal o minhoto , nosso comprovinciano , nunca se bate senão á '''paulada'''; o transmontano vinga-se a tiro . O unico portuguez para quem a faca é arma predilecta é o extremenho, e principalmente o lisboeta. É uma influencia do meio em que vive e da educação que recebe.<br>
<br><small>(Pag. 236 in As «Farpas» - ''A Capital - Tomo VII'')</small>
(...)
 
Aí o homem que saca a navalha encontra-se debaixo do '''varapau''', e não tem defesa nem esconderijo nem fuga: tem de lutar por força, braço a braço e frente a frente.
 
Por isso o minhoto que se embriaga nunca promove rixas: deita-se sensatamente a dormir. Se um dos nossos fadistas do Bairro Alto abusar do vinho do minhoto para o insultar, este deixar-se-á injuriar até bater, fará com este a figura mais parecida com a de um cobarde, o que deverá levar o fadista, se ele não souber bem anatomia, a numerar escrupulosamente nessa noite todas as engrenagens do seu esqueleto, porque no dia seguinte terá os ossos todos num molho.
<br><small>Pag. 236-237  in «As farpas» - ''A religião e a arte'' ([https://play.google.com/books/reader?id=KRk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA104&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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(...) Nada d'isso em Villa Viçosa. Apenas os pobres ''breaks'' da casa real no seu choito ronceiro, a coutada batida á '''paulada''' pelos moços do campo, os gôsos que apparecerem para ladrar, e o tiro à espera, a pé firme, porque não ha cavallos adestrados para a corrida nem rins de cavalleiros que se aguentem nas sellas (...)
(...) Nada d'isso em Villa Viçosa. Apenas os pobres ''breaks'' da casa real no seu choito ronceiro, a coutada batida á '''paulada''' pelos moços do campo, os gôsos que apparecerem para ladrar, e o tiro à espera, a pé firme, porque não ha cavallos adestrados para a corrida nem rins de cavalleiros que se aguentem nas sellas (...)
<br><small>(Pag. 246 in As «Farpas» - ''A Capital - Tomo VII'')</small>
<br><small>Pag. 246 in «As Farpas» - ''A Capital - Tomo VII'' ([https://play.google.com/books/reader?id=VpQ6AQAAIAAJ&pg=GBS.PA236&hl=pt-PT&printsec=frontcover ler livro no Google Books])</small>
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(...) Ao primeiro boi , os espectadores mais ávidos saltam para a frente d'estes obstaculos, e do segundo boi por deante a trincheira é completamente composta de gente .
 
A cada tentativa do bicho para arremetter contra esta sebe humana, o ponto da trincheira atacada ouriça - se de '''varapaus ferrados''', e o boi é rechaçado a pontoadas sangrentas pelo focinho. Se porventura '''ensarilha com os cajados''', atraz de cada um d'estes, que quebra ou que vôa desem polgado pelos ares, o boi encontra um homem de pulsos de ferro que o pega de cara, collando.se - lhe na testa como uma estampilha n'uma carta.
<br><small>Pag. 309 in «As farpas» - ''O Paiz e a Sociedade portugueza - Tomo VI'' ([https://play.google.com/books/reader?id=FZQ6AQAAIAAJ&pg=GBS.PA309&hl=pt-PT&printsec=frontcover&q=arremetter ler livro no Google Books])</small>
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(...) Entre nós, apenas algum, menos anemico, descendente de apoplecticos menos vezes sangrados, sustenta ainda a bravura hereditaria da raça nobre, brandindo o '''marmeleiro''' legado ao canto dos solares de provincia pelos extinctos capitães - móres, para, n'um repente sanguineo de colera ou de ciume , '''varrer uma feira ou extender á bordoada''' no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival.
<br><small>Pag. 122 in «As farpas» - ''Os individuos: Jeronymo Collaço'' ([https://play.google.com/books/reader?id=CBk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA224&hl=pt-PT&printsec=frontcover ler livro no Google Books])</small>
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(...) Na controversia do jornalismo em que ha tanta má fé, tanta miseria e tanta porcaria envolvida no conflicto das opiniões oppostas, o melhor '''jôgo''' é ainda assim o '''jôgo de varrer'''... Por mais violencia que haja, os bons principios salvam - se sempre.
<br><small>Pag. 225 in «As farpas» - ''Os individuos: O Bispo de Vizeu'' ([https://play.google.com/books/reader?id=CBk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA224&hl=pt-PT&printsec=frontcover ler livro no Google Books])</small>
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(...) Podes contar, José , que ao pôres o pé em terra, tens sobre o teu corpo dois '''marmeleiros''' reaes! Dois somente, se El - Rei se não quizer associar comnosco '''para te punir'''. Se o Poder Moderador, como é de esperar do seu brio, se quizer reunir a este acto de nobre despique, então em vez de '''dois marmeleiros a cingirem-te as vertebras''', terás três - os de cada um de nós e o de — ''um alto personagem''.
<br><small>Pag. 185 in «As farpas» - ''Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão'' ([https://play.google.com/books/reader?id=xRk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA202&hl=pt-PT&printsec=frontcover ler livro no Google Books])</small>
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(...) Não tem elementos alguns solidos e vali dos de trabalho e de riqueza propria. Tambem não procura creal-os. Vive do Brazil. Assim como o habitante de Lisboa se sustenta á custa do Estado, ou servindo - o ou explorando-o, assim o habitante do Minho, quando não é brazileiro, ou serve ou explora o brazileiro. E é d'isso que vive. D'isso, de '''jogar o pau''', de fazer eleições e de rezar ás almas. De resto, bom homem.
<br><small>Pag. 202 in «As farpas» - ''Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão'' ([https://play.google.com/books/reader?id=xRk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA202&hl=pt-PT&printsec=frontcover ler livro no Google Books])</small>
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(...) Duas horas depois o meu amigo partia para a Regoa, onde seu extremoso pae, prevenido pelo te legrapho, o esperava, no alto dos Padrões da Teixeira, '''de braços abertos e um marmeleiro em cada braço'''.
<br><small>Pag. 101  in «As farpas» - ''A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: A Batota'' ([https://play.google.com/books/reader?id=4xg3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA100&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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(...) Nada d'isso em Villa Viçosa. Apenas os pobres ''breaks'' da casa real no seu choito ronceiro, a coutada batida á '''paulada''' pelos moços do campo, os gôsos que apparecerem para ladrar, e o tiro à espera, a pé firme, porque não ha cavallos adestrados para a corrida nem rins de cavalleiros que se aguentem nas sellas (...)
Uma coisa inteiramente especial e digna de estudo é o aspecto das numerosas diligencias (...) que circulam sobre estas estradas, desde os Arcos e desde Ponte do Lima até Vianna.
<br><small>(Pag. 246 in «As farpas» - ''O Paiz e a Sociedade portugueza - Tomo VI'')</small>
 
Fóra, em vez de irem empilhados como no interior, os passageiros são ensandwichados methodicamente com as bagagens e com as mercadorias, pela ordem seguinte : camada de mercadorias, primeira camada de passageiros, primeira camada de bagagens, segunda camada de passageiros, segunda camada de bagagens ; e em cima de tudo isto o penso para os garranos, os merendeiros e os '''varapaus dos passageiros''' (...)
<br><small>Pag. 11  in «As farpas» - ''A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Nas margens do Lima'' ([https://play.google.com/books/reader?id=4xg3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA100&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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Antigas purgas de jalapa, de rhuibarbo , de sene e maná, purgas grossas, espessas, de confiança , tomadas ás tijellas, pez de Borgonha para o peito ou para o espinhaço, ipecacuanha como vomitivo, causticos, cataplasmas de mostarda para chamar abaixo os humores, enxofre para as fogagens da pelle, '''bichas para o hemorrhoidal e para as contusões por cargas de pau''', agua de vegeto para os simples gallos e para os golpes, constituem toda a pharmacopêa local.
<br><small>Pag. 16  in «As farpas» - ''A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Nas margens do Lima'' ([https://play.google.com/books/reader?id=4xg3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA100&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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(...) Ao primeiro boi , os espectadores mais ávidos saltam para a frente d'estes obstaculos, e do segundo boi por deante a trincheira é completamente composta de gente .
(...) e o rêgo d'agua passa adeante á leira do vizinho . D'ahi, frequentes conflictos que ou se resolvem ao '''varapau e á choupa''', ou se submettem ao lettrado e ficam sendo objecto judicial de litigio em infinda veis demandas.
<br><small>Pag. 57  in «As farpas» - ''A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: A sorte das aldeias'' ([https://play.google.com/books/reader?id=4xg3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA100&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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A cada tentativa do bicho para arremetter contra esta sebe humana, o ponto da trincheira atacada ouriça - se de '''varapaus ferrados''', e o boi é rechaçado a pontoadas sangrentas pelo focinho. Se porventura '''ensarilha com os cajados''', atraz de cada um d'estes, que quebra ou que vôa desem polgado pelos ares, o boi encontra um homem de pulsos de ferro que o pega de cara, collando.se - lhe na testa como uma estampilha n'uma carta.
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<br><small>(Pag. 309 in «As farpas» - ''O Paiz e a Sociedade portugueza - Tomo VI'')</small>
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(...) D'outra vez, n'uma empresa de José Lombardi, os coristas e os comparsas, '''armados de páus''', appareceram no palco com o panno em cima e desafiaram os espectadores pateantes; o publico subiu á scena, e, de pois de uma terrivel lucta de homem a homem, foi '''varrida''' a companhia toda para a rua, '''á bordoada'''. Metade das senhoras que assistiram a esse especta culo nunca visto sahiram dos camarotes para os seus carroções levadas em braços, desmaiadas ou em convulsões de nervos.
<br><small>Pag. 166  in «As farpas» - ''A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: No Porto'' ([https://play.google.com/books/reader?id=4xg3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA100&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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(...) Entre nós, apenas algum, menos anemico, descendente de apoplecticos menos vezes sangrados, sustenta ainda a bravura hereditaria da raça nobre, brandindo o '''marmeleiro''' legado ao canto dos solares de provincia pelos extinctos capitães - móres, para, n'um repente sanguineo de colera ou de ciume , '''varrer uma feira ou extender á bordoada''' no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival.
(...) Pobre José da Viuva! O teu modesto nome, triste e sympathico, não será repetido em artigos banaes pela imprensa, nem figurará em epitaphios idiotas nos mausoléos do cemiterio dos Prazeres. O prior da tua freguezia, ultimamente accusado de '''ter morto com uma paulada na cabeça''' uma das ovelhas do seu rebanho, não veiu grunhir o latim da agonia sobre a tua ultima hora.
<br><small>(Pag. 122 in «As farpas» - ''Os individuos: Jeronymo Collaço'')</small>
<br><small>Pag. 310  in «As farpas» - ''A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Trafaria'' ([https://play.google.com/books/reader?id=4xg3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA100&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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(...) Na controversia do jornalismo em que ha tanta má fé, tanta miseria e tanta porcaria envolvida no conflicto das opiniões oppostas, o melhor '''jôgo''' é ainda assim o '''jôgo de varrer'''... Por mais violencia que haja, os bons principios salvam - se sempre.
Os deputados que para ahi tenho expedido á custa de muita intriga, de muito dinheiro, de muito copo de vinho e de bastantes '''bordoadas''' distribuidas com as listas á bôcca da urna (...)
<br><small>(Pag. 225 in «As farpas» - ''Os individuos: O Bispo de Vizeu'')</small>
<br><small>Pag. 104  in «As farpas» - ''A religião e a arte'' ([https://play.google.com/books/reader?id=KRk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA104&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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(...) Podes contar, José , que ao pôres o pé em terra, tens sobre o teu corpo dois '''marmeleiros''' reaes! Dois somente, se El - Rei se não quizer associar comnosco '''para te punir''. Se o Poder Moderador, como é de esperar do seu brio, se quizer reunir a este acto de nobre despique, então em vez de '''dois marmeleiros a cingirem-te as vertebras''', terás três - os de cada um de nós e o de — ''um alto personagem''.
(...) davam-lhes as brôas e as amendoas pelas festas do anno, esperà vam pelas rendas, punham os '''varapaus argolados''' dos seus moços e os d'elles proprios ao serviço da nossa causa (...)
<br><small>(Pag. 185 in «As farpas» - ''Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão'')</small>
<br><small>Pag. 105  in «As farpas» - ''A religião e a arte'' ([https://play.google.com/books/reader?id=KRk3AQAAMAAJ&pg=GBS.PA104&hl=pt_PT ler livro no Google Books])</small>
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* Consulte toda a [[Bibliografia]]
* Consulte toda a [[Bibliografia]]
* Sobre [[Ramalho Ortigão]]


== Links externos ==
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* [https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Farpas As Farpas – Wikipédia]
* [https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Farpas As Farpas – Wikipédia]
* [https://pt.wikipedia.org/wiki/Ramalho_Ortig%C3%A3o Ramalho Ortigão – Wikipédia]
== Referências ==

Edição atual desde as 18h25min de 17 de janeiro de 2023

capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: As farpas : chronica mensal da politica das letras e dos costumes
  • Autor: Ramalho Ortigão (1836-1915)
  • Publicação: Lisboa : Typ. Universal, de Maio 1871 a Junho 1883
  • Formato: 14 cm


As Farpas foram publicações mensais escritas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós, iniciadas no mesmo ano da realização das Conferências do Casino. Decerto foram inspiradas em Les Guêpes (1839-1849), de Alphonse Karr (1808-1890).[1] As Farpas aparecem em 1871, assinadas por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós até o ano seguinte, e somente pelo primeiro até o fim, 1882.[1] Subintitulando-se "O País e a Sociedade Portuguesa", os folhetins mensais d'As Farpas constituem um painel jornalístico da sociedade portuguesa nos anos posteriores a 1870, erguido com bonomia, sentido agudo das mazelas sociais, um alto propósito consciencializador, e uma linguagem límpida e variada.[1]

Sabia que Ramalho Ortigão também jogava ao pau? Saiba mais aqui.

Excertos da obra

Em Portugal o minhoto , nosso comprovinciano , nunca se bate senão á paulada; o transmontano vinga-se a tiro . O unico portuguez para quem a faca é arma predilecta é o extremenho, e principalmente o lisboeta. É uma influencia do meio em que vive e da educação que recebe.
(...)

Aí o homem que saca a navalha encontra-se debaixo do varapau, e não tem defesa nem esconderijo nem fuga: tem de lutar por força, braço a braço e frente a frente.

Por isso o minhoto que se embriaga nunca promove rixas: deita-se sensatamente a dormir. Se um dos nossos fadistas do Bairro Alto abusar do vinho do minhoto para o insultar, este deixar-se-á injuriar até bater, fará com este a figura mais parecida com a de um cobarde, o que deverá levar o fadista, se ele não souber bem anatomia, a numerar escrupulosamente nessa noite todas as engrenagens do seu esqueleto, porque no dia seguinte terá os ossos todos num molho.
Pag. 236-237 in «As farpas» - A religião e a arte (ler livro no Google Books)

(...) Nada d'isso em Villa Viçosa. Apenas os pobres breaks da casa real no seu choito ronceiro, a coutada batida á paulada pelos moços do campo, os gôsos que apparecerem para ladrar, e o tiro à espera, a pé firme, porque não ha cavallos adestrados para a corrida nem rins de cavalleiros que se aguentem nas sellas (...)
Pag. 246 in «As Farpas» - A Capital - Tomo VII (ler livro no Google Books)

(...) Ao primeiro boi , os espectadores mais ávidos saltam para a frente d'estes obstaculos, e do segundo boi por deante a trincheira é completamente composta de gente .

A cada tentativa do bicho para arremetter contra esta sebe humana, o ponto da trincheira atacada ouriça - se de varapaus ferrados, e o boi é rechaçado a pontoadas sangrentas pelo focinho. Se porventura ensarilha com os cajados, atraz de cada um d'estes, que quebra ou que vôa desem polgado pelos ares, o boi encontra um homem de pulsos de ferro que o pega de cara, collando.se - lhe na testa como uma estampilha n'uma carta.
Pag. 309 in «As farpas» - O Paiz e a Sociedade portugueza - Tomo VI (ler livro no Google Books)

(...) Entre nós, apenas algum, menos anemico, descendente de apoplecticos menos vezes sangrados, sustenta ainda a bravura hereditaria da raça nobre, brandindo o marmeleiro legado ao canto dos solares de provincia pelos extinctos capitães - móres, para, n'um repente sanguineo de colera ou de ciume , varrer uma feira ou extender á bordoada no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival.
Pag. 122 in «As farpas» - Os individuos: Jeronymo Collaço (ler livro no Google Books)

(...) Na controversia do jornalismo em que ha tanta má fé, tanta miseria e tanta porcaria envolvida no conflicto das opiniões oppostas, o melhor jôgo é ainda assim o jôgo de varrer... Por mais violencia que haja, os bons principios salvam - se sempre.
Pag. 225 in «As farpas» - Os individuos: O Bispo de Vizeu (ler livro no Google Books)

(...) Podes contar, José , que ao pôres o pé em terra, tens sobre o teu corpo dois marmeleiros reaes! Dois somente, se El - Rei se não quizer associar comnosco para te punir. Se o Poder Moderador, como é de esperar do seu brio, se quizer reunir a este acto de nobre despique, então em vez de dois marmeleiros a cingirem-te as vertebras, terás três - os de cada um de nós e o de — um alto personagem.
Pag. 185 in «As farpas» - Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão (ler livro no Google Books)

(...) Não tem elementos alguns solidos e vali dos de trabalho e de riqueza propria. Tambem não procura creal-os. Vive do Brazil. Assim como o habitante de Lisboa se sustenta á custa do Estado, ou servindo - o ou explorando-o, assim o habitante do Minho, quando não é brazileiro, ou serve ou explora o brazileiro. E é d'isso que vive. D'isso, de jogar o pau, de fazer eleições e de rezar ás almas. De resto, bom homem.
Pag. 202 in «As farpas» - Aspectos varios; da sociedade, da politica, da administrac̜ão (ler livro no Google Books)

(...) Duas horas depois o meu amigo partia para a Regoa, onde seu extremoso pae, prevenido pelo te legrapho, o esperava, no alto dos Padrões da Teixeira, de braços abertos e um marmeleiro em cada braço.
Pag. 101 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: A Batota (ler livro no Google Books)

Uma coisa inteiramente especial e digna de estudo é o aspecto das numerosas diligencias (...) que circulam sobre estas estradas, desde os Arcos e desde Ponte do Lima até Vianna.

Fóra, em vez de irem empilhados como no interior, os passageiros são ensandwichados methodicamente com as bagagens e com as mercadorias, pela ordem seguinte : camada de mercadorias, primeira camada de passageiros, primeira camada de bagagens, segunda camada de passageiros, segunda camada de bagagens ; e em cima de tudo isto o penso para os garranos, os merendeiros e os varapaus dos passageiros (...)
Pag. 11 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Nas margens do Lima (ler livro no Google Books)

Antigas purgas de jalapa, de rhuibarbo , de sene e maná, purgas grossas, espessas, de confiança , tomadas ás tijellas, pez de Borgonha para o peito ou para o espinhaço, ipecacuanha como vomitivo, causticos, cataplasmas de mostarda para chamar abaixo os humores, enxofre para as fogagens da pelle, bichas para o hemorrhoidal e para as contusões por cargas de pau, agua de vegeto para os simples gallos e para os golpes, constituem toda a pharmacopêa local.
Pag. 16 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Nas margens do Lima (ler livro no Google Books)

(...) e o rêgo d'agua passa adeante á leira do vizinho . D'ahi, frequentes conflictos que ou se resolvem ao varapau e á choupa, ou se submettem ao lettrado e ficam sendo objecto judicial de litigio em infinda veis demandas.
Pag. 57 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: A sorte das aldeias (ler livro no Google Books)

(...) D'outra vez, n'uma empresa de José Lombardi, os coristas e os comparsas, armados de páus, appareceram no palco com o panno em cima e desafiaram os espectadores pateantes; o publico subiu á scena, e, de pois de uma terrivel lucta de homem a homem, foi varrida a companhia toda para a rua, á bordoada. Metade das senhoras que assistiram a esse especta culo nunca visto sahiram dos camarotes para os seus carroções levadas em braços, desmaiadas ou em convulsões de nervos.
Pag. 166 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: No Porto (ler livro no Google Books)

(...) Pobre José da Viuva! O teu modesto nome, triste e sympathico, não será repetido em artigos banaes pela imprensa, nem figurará em epitaphios idiotas nos mausoléos do cemiterio dos Prazeres. O prior da tua freguezia, ultimamente accusado de ter morto com uma paulada na cabeça uma das ovelhas do seu rebanho, não veiu grunhir o latim da agonia sobre a tua ultima hora.
Pag. 310 in «As farpas» - A vida provincial; a paizagem, os campos, as praisas, os monumentos: Trafaria (ler livro no Google Books)

Os deputados que para ahi tenho expedido á custa de muita intriga, de muito dinheiro, de muito copo de vinho e de bastantes bordoadas distribuidas com as listas á bôcca da urna (...)
Pag. 104 in «As farpas» - A religião e a arte (ler livro no Google Books)

(...) davam-lhes as brôas e as amendoas pelas festas do anno, esperà vam pelas rendas, punham os varapaus argolados dos seus moços e os d'elles proprios ao serviço da nossa causa (...)
Pag. 105 in «As farpas» - A religião e a arte (ler livro no Google Books)

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Ver também

Links externos

Referências