Livro: Contos Tradicionais do Povo Português: diferenças entre revisões
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Moeram ao som d'esta cantiga o homem com pancadas, e depois de bem moido fugiram. O homem lá se arrastou para casa como pôde, e assim que viu a mulher pediu-lhe perdão de tel-a maltratado tanto tempo, e contou como lhe tinha apparecido no caminho S. Pedro e S. Paulo, que o desancaram em castigo de pedir o bolo refolhado, que era uma coisa que elle não sabia o que era. | Moeram ao som d'esta cantiga o homem com pancadas, e depois de bem moido fugiram. O homem lá se arrastou para casa como pôde, e assim que viu a mulher pediu-lhe perdão de tel-a maltratado tanto tempo, e contou como lhe tinha apparecido no caminho S. Pedro e S. Paulo, que o desancaram em castigo de pedir o bolo refolhado, que era uma coisa que elle não sabia o que era. | ||
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Revisão das 11h33min de 18 de agosto de 2022
Sobre
- Relevância: ★☆☆
- Título: Contos Tradicionais do Povo Português
- Autor: Teófilo Braga (1843-1924)
- Publicação: Porto, 1883
- Formato: 443 páginas
O livro Contos Tradicionais do Povo Português, constitui uma das mais importantes colectâneas de narrativas populares do nosso país. Um conjunto de narrativas cujo fascínio permanece intacto e que nos permite reflectir sobre o nosso imaginário colectivo, através de uma das múltiplas manifestações das sociedades tradicionais.
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Destacamos desta obra, na secção II (Casos e Facecias da Tradição Popular) a lenda «O Bolo Refolhado», com uma cena de luta com varapau.
Excerto da obra
« Era uma mulher casada com um homem muito ruim, que lhe batia todos os dias por qualquer coisa. Uma vez, ao levantar-se para o trabalho, de madrugada, disse elle para a mulher: — Á noite quando vier, quero para a ceia bolo refolhado. Olha lá, toma cuidado no que digo. A mulher não sabia o que era bolo refolhado, e foi ter com uma visinha, para vêr se ella lhe ensinava. A visinha, que tinha muita pena da vida que ella levava, disse: — Deixe estar, que eu cá lhe arranjo isso; com certeza que o seu homem se enganou; hade ser bolo folhado. E levou-lhe á tardinha o bolo. Quando veiu o homem do trabalho, pediu a ceia, e como não achou o bolo refolhado, berrou, ralhou, deu muitas pancadas na mulher; ao outro dia a mesma coisa. A mulher, coitada, foi ter com a visinha, e ella disse-lhe: — Arranje-lhe vocemecê uma gallinha guisada, que póde ser isso o que elle talvez queira. Volta o homem á noite, e mais pancadaria na mulher, por não lhe ter feito para a ceia o bolo refolhado, como mandára. Ao ir para o trabalho, outra vez a mesma recommendação. A desgraçada mulher não sabia como acabar aquelle fadario, e foi ter com a visinha a chorar. — Deixe estar, visinha, tudo se arranja! Venha cá ter commigo á tardinha, vestida com as calças e o jaquetão do seu homem. A pobre mulher foi. Assim que chegou a casa da visinha, tambem a achou vestida com as calças e casaco do marido d'ella; e partiram ambas com os seus varapáos para o sitio por onde o homem ruim havia de vir do trabalho. Puzeram-se cada uma de um e outro lado do caminho. Quando o homem vinha a passar, diz uma: — Bate-lhe, S. Pedro! Moeram ao som d'esta cantiga o homem com pancadas, e depois de bem moido fugiram. O homem lá se arrastou para casa como pôde, e assim que viu a mulher pediu-lhe perdão de tel-a maltratado tanto tempo, e contou como lhe tinha apparecido no caminho S. Pedro e S. Paulo, que o desancaram em castigo de pedir o bolo refolhado, que era uma coisa que elle não sabia o que era. » |
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