Livro: Mário: episódios das lutas civis portuguesas de 1820-1834: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
Sem resumo de edição
 
(Há 19 edições intermédias do mesmo utilizador que não estão a ser apresentadas)
Linha 1: Linha 1:
[[File:Marioepisódiosdaslutascivisportuguesasde1820-1834.png|thumb|right|200px|
[[File:Marioepisódiosdaslutascivisportuguesasde1820-1834.jpg|thumb|right|200px|
{| align=center
{| align=center
|-
|-
Linha 9: Linha 9:




== Sobre a obra ==
== Sobre ==


Livro escrito por ''Antonio Silva Gaio'' em 1868
* '''Relevância: ''' ★★☆
* '''Título:''' Mário: episódios das lutas civis portuguesas de 1820-1834
* '''Autor:''' Antonio Silva Gaio (Dr.) (1830-1870)
* '''Publicação:''' Imprensa Nacional, 1868<br>
* '''Formato:''' Capa Dura de Alfredo Moraes, 463 páginas
 
 
Com uma introdução do ''Dr. Joaquim Ferreira''. Publicou apenas um romance, Mário, que relata as lutas entre liberais e absolutistas, inserindo-se na corrente romântica, com influências de ''Alexandre Herculano'' e ''Camilo Castelo Branco''.
 
A obra retrata a história do jovem Mário, um personagem fictício envolvido nas lutas políticas em Portugal no início do século XIX.
 
O livro aborda temas como as ideologias liberais e conservadoras, as revoltas populares e as guerras civis que marcaram a época. Através da vida de Mário, o autor apresenta uma visão crítica sobre a política e a sociedade portuguesa daquele período.


== Excertos da obra ==
== Excertos da obra ==


{| class="wikitable" style="text-align: left; width: 100%;"
{| class="wikitable" style="text-align: left; width="100%;"
|-
|-
|
| style="width: 2000px;" |
«
«
Traz camisa de linho, com peitos bordados; collete de côr viva, com botões de vidro azul; jaqueta sobre o hombro esquerdo; mangas da camisa estreitamente apertadas nos pulsos; facha de lã vermelha , calça de saragoça entrefina, e sapatos de sola grossa, e bem cravada com brocha de cabeça larga. '''Grande pau de marmeleiro'''; chapéu desabado, com roseta enorme, e grande fita, cujas pontas caem para fóra das abas, ao desdem.
Traz camisa de linho, com peitos bordados; collete de côr viva, com botões de vidro azul; jaqueta sobre o hombro esquerdo; mangas da camisa estreitamente apertadas nos pulsos; facha de lã vermelha , calça de saragoça entrefina, e sapatos de sola grossa, e bem cravada com brocha de cabeça larga. '''Grande pau de marmeleiro'''; chapéu desabado, com roseta enorme, e grande fita, cujas pontas caem para fóra das abas, ao desdem.
Linha 25: Linha 36:
|}
|}


{| class="wikitable" style="text-align: left; width: 100%;"
{| class="wikitable" style="text-align: left; width="100%;"
|-
|-
|
| style="width: 2000px;" |
«
«
Esses disfarces não pegam, diz o indiscreto espectador, homem alto e folgasão, encostado a comprido '''pau de choupa'''.<br>
Esses disfarces não pegam, diz o indiscreto espectador, homem alto e folgasão, encostado a comprido '''pau de choupa'''.<br>
- Vá! vá! clama o mouro. Então esses ferrinhos estão de quedo? E essa viola ?<br>
- Vá! vá! clama o mouro. Então esses ferrinhos estão de quedo? E essa viola ?<br>
Venha cá para dentro, Sr. Miguel, diz, anhelante, e dansando sempre, a Joaquina, ao homem que lhe gabou o donaire, a ver se lhe prende a lingua.<br>
- Venha cá para dentro, Sr. Miguel, diz, anhelante, e dansando sempre, a Joaquina, ao homem que lhe gabou o donaire, a ver se lhe prende a lingua.<br>
- Já não tenho com quem danse, rapariga!<br>
- Já não tenho com quem danse, rapariga!<br>
- Olhe, a Josefa.<br>
- Olhe, a Josefa.<br>
Linha 38: Linha 49:
|-
|-
|}
|}
{| class="wikitable" style="text-align: left; width: 100%;"
 
{| class="wikitable" style="text-align: left; width="100%;"
|-
|-
|
| style="width: 2000px;" |
«(...) Os amigos de Joaquim levantaram os '''cajados''', e emquanto Marcos pegava no seu, que um rapaz lhe estendia, caiu-lhe sobre os hombros violenta pancada.<br>
«(...) Os amigos de Joaquim levantaram os '''cajados''', e emquanto Marcos pegava no seu, que um rapaz lhe estendia, caiu-lhe sobre os hombros violenta pancada.<br>
- Façam campo! bradou elle com o '''pau''' já em posição, e crescendo para os homens.<br>
- Façam campo! bradou elle com o '''pau''' já em posição, e crescendo para os homens.<br>
Linha 48: Linha 60:
- É o Antonio Marcos que já '''varreu a Senhora das Febres'''! clamavam as vozes do partido de Holofernes.<br>
- É o Antonio Marcos que já '''varreu a Senhora das Febres'''! clamavam as vozes do partido de Holofernes.<br>
- Fujam! Fujam! bradavam os partidarios de Marcos. São os homens do sr. Jorge Pinto!<br>
- Fujam! Fujam! bradavam os partidarios de Marcos. São os homens do sr. Jorge Pinto!<br>
Pois levam hoje coça mestra! respondeu um mocetão, '''cuspindo nas mãos para melhor segurar o cajado de carvalho'''.<br>
- Pois levam hoje coça mestra! respondeu um mocetão, '''cuspindo nas mãos para melhor segurar o cajado de carvalho'''.<br>
A elles, rapazes! A elles! Antonio ía na frente do seu bando, agil e dextro, '''varrendo''' effectivamente quanto achava diante. Ora se abaixava, e cobria cabeça e hombros, com o pau horisontalmente collocado;
A elles, rapazes! A elles! Antonio ía na frente do seu bando, agil e dextro, '''varrendo''' effectivamente quanto achava diante. Ora se abaixava, e cobria cabeça e hombros, com o pau horisontalmente collocado;
ora saltava para trás, ou para os lados; ora resaltava para a frente , quando o seu adversario, do momento, tinha os braços dormentes, de haver batido no chão, e o castigava então rijamente .
ora saltava para trás, ou para os lados; ora resaltava para a frente , quando o seu adversario, do momento, tinha os braços dormentes, de haver batido no chão, e o castigava então rijamente .
» <small>(pág.242-242)</small>
» <small>(pág.242)</small>
|-
|-
|}
|}


== Ligações externas ==
{| class="wikitable" style="text-align: left; width="100%;"
* Pode ler toda a obra no [https://books.google.pt/books?id=aNk-AAAAIAAJ&printsec=frontcover Google Books]
|-
| style="width: 2000px;" |
«
Na roda dos dançadores, quis entrar Joaquim, o criado de Jorge Pinto.
 
-Lá para fora! bradou António Marcos, de sobrolho carregado.<br>
-Eu já tenho parceira, replicou aquele.<br>
-Mal empregada! Vá dançar onde quiser! Aqui não dança você!<br>
-Então quem manda!<br>
-'''Mando eu, e mais este marmeleiro'''. Não dançam aqui homens com mortes às costas!<br>
 
Joaquim retirou-se furioso, e meio apupado pelos espectadores.
 
-Venha a viola! disse o Marcos. A isto, rapazes!
 
Começou a dança. Os pares eram novos, alguns eram namorados, e todos andavam numa festa, que os ditos de fora, e as respostas, de dentro, mais animavam.
 
-Faz-me berrar essa rebeca, João! Parece que estas ai a morrer!!<br>
-Bravo! Bravo! chamavam os de fora.<br>
 
A alegria era viva e não disfarçada; e havia talvez meia hora, que não paravam os dançadores.
 
(...) Uma bofetada interrompeu o provocador.
 
Os amigos de Joaquim '''levantaram os cajados, e enquanto Marcos pegava no seu, que um rapaz lhe estendia, caiu-lhe sobre os ombros uma violenta pancada.'''
 
-Façam campo! bradou ele com o pau já em posição, e crescendo para os homens.
 
A este, um açoite que o tombou, àquele uma pontuada no peito, que lhe fez '''largar o cajado'''; e com rápido sarilho foi repelindo os inimigos que batiam em falso.
 
-Estás a jeito! disse Marcos de repente, estendendo uma pancada de boa vontade, sobre Joaquim, que foi, redondo, ao chão.
 
Mas aos amigos deste juntaram-se uns, àquele, uniam-se outros, e em pouco tempo se tornou encarniçada a luta, e geral a confusão.
 
As mulheres pediam, em altas vozes, aos homens, que por diversos títulos lhes pertenciam, que se não metessem na desordem.
 
Os velhos, com a mão esquerda sobre o chapéu, para que não caísse na carreira, fugiam da batalha.
 
Os pequenos levantavam gritaria infernal.
 
-Fujam! Fujam! bradava um ricasso, de chapéu braguês, calção e polaina, e casaca de abas muito curtas, correndo desorientado no meio da desordem.<br>
-É para aqui, sr. Bráz! lhe gritava voz compadecida. Para ai, não!<br>
 
O sr. Bráz corria sempre! Parou de vez, quando lhe caiu em cima, pancada sem dono, à qual nem o braguês pôde resistir!
 
-É o António Marcos que já varreu a Senhora das Febres! clamavam as vozes do partido de Holofernes.<br>
-Fujam! Fujam! bradavam os partidários de Marcos. São os homens do sr. Jorge Pinto!<br>
-Pois hoje levam coça mestra! respondeu um mocetão, cuspindo nas mãos para melhor segurar o cajado de carvalho.
 
A eles, rapazes! a eles!
 
António ia na frente do seu bando, ágil e destro, varrendo efectivamente quanto achava diante. Ora se abaixava, e cobria a cabeça e ombros, com o pau horizontalmente colocado; ora saltava para trás, ou para os lados; ora ressaltava para a frente, quando o seu adversário, do momento, tinha os braços dormentes, de haver batido no chão, e o castigava então rijamente.
 
-Homens! gritou o doutor de cima de uma pedra. Tenham lá mão! Está aqui gente sossegada, e estou eu também!!<br>
-Nossa Senhora das Merçês! clamava, em sons de flautim, a mulher do sr. Lourenço.<br>
-Homens! Então? Vocês estão doi…<br>
 
O doutor não pôde acabar, porque uma onda de fugitivas mulheres, atropelando a numerosa família, o deitou por terra!
 
-Acudam! Nossa Senhora da Graça!
 
A onda passou, e o doutor envergonhado da sua pouca fortuna, levantou-se, esfregou um cotovelo, e pôs os beiços em pasmosa saliência.
 
-É para baixo!! gritou ele animando os que levavam de vencida os amigos de Joaquim.
 
António Marcos chegou ao pé da igreja, quando dela saia o vigário.
 
-Que é isto, António? Tu vens fazer desordens à romaria?<br>
-Perdoe, meu padrinho!
 
E contou em voz alta a origem da luta.
 
» <small>(pág.240-243)</small>
|-
|}
 
== Ler o livro ==
 
Pode ler toda a obra directamente no [https://books.google.pt/books?id=aNk-AAAAIAAJ&printsec=frontcover Google Books]
ou fazer o download do [https://books.googleusercontent.com/books/content?req=AKW5QacPsrjboxv2xRiSig3iY2ECYIy7J5fzLs2c75nnjsKv_ANd3oTTN_dpPLwy0pkz11SZAal35NTigIRkf0TzdBaisKIn9Y0KLcMdIBLpJfSXimcEWkR_xmdA74uqLz5hPwErKhZK0wBXBekEcCqz8oMP1xD5HN5eRGIX5HTPFFx9NWbG-tz7y2w-BBdSujUxrc-DNRPK4h8_cix0lU08Ga8xUtPUATAeppCiGaV5LNZCnyzosHFrYzuyk7CCI2A43d4LXMzh PDF] (16.2Mb)
 
<embed width="100%">https://books.google.pt/books?id=aNk-AAAAIAAJ&hl=pt-PT&pg=PA3&output=embed</embed>
 
== Links Externos ==
* [https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_de_Oliveira_da_Silva_Gaio António de Oliveira da Silva Gaio - Wikipédia]


== Ver também ==
== Ver também ==
Consulte toda a nossa [[Bibliografia]]
* Consulte toda a [[Bibliografia]]

Edição atual desde as 21h16min de 23 de abril de 2023

capa do livro


Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: Mário: episódios das lutas civis portuguesas de 1820-1834
  • Autor: Antonio Silva Gaio (Dr.) (1830-1870)
  • Publicação: Imprensa Nacional, 1868
  • Formato: Capa Dura de Alfredo Moraes, 463 páginas


Com uma introdução do Dr. Joaquim Ferreira. Publicou apenas um romance, Mário, que relata as lutas entre liberais e absolutistas, inserindo-se na corrente romântica, com influências de Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco.

A obra retrata a história do jovem Mário, um personagem fictício envolvido nas lutas políticas em Portugal no início do século XIX.

O livro aborda temas como as ideologias liberais e conservadoras, as revoltas populares e as guerras civis que marcaram a época. Através da vida de Mário, o autor apresenta uma visão crítica sobre a política e a sociedade portuguesa daquele período.

Excertos da obra

« Traz camisa de linho, com peitos bordados; collete de côr viva, com botões de vidro azul; jaqueta sobre o hombro esquerdo; mangas da camisa estreitamente apertadas nos pulsos; facha de lã vermelha , calça de saragoça entrefina, e sapatos de sola grossa, e bem cravada com brocha de cabeça larga. Grande pau de marmeleiro; chapéu desabado, com roseta enorme, e grande fita, cujas pontas caem para fóra das abas, ao desdem. É o melhor guia para os pontos culminantes da serra, valente e bom rapaz; joga o pau com perfeição, dansa bem, canta melhor, e ao desafio , se tem adversario. É , emfim , o espinho das raparigas de boas tres leguas em redondo. » (pág.235)

« Esses disfarces não pegam, diz o indiscreto espectador, homem alto e folgasão, encostado a comprido pau de choupa.
- Vá! vá! clama o mouro. Então esses ferrinhos estão de quedo? E essa viola ?
- Venha cá para dentro, Sr. Miguel, diz, anhelante, e dansando sempre, a Joaquina, ao homem que lhe gabou o donaire, a ver se lhe prende a lingua.
- Já não tenho com quem danse, rapariga!
- Olhe, a Josefa.
- Dizes bem. Salta cá, Josefa! Já ambos somos casados, mas ainda se vae mostrar o que é dansa. Eh! Ó Manel, empresta cá a viola. Guarda-me esse pau, Caetano! » (pág.236)

«(...) Os amigos de Joaquim levantaram os cajados, e emquanto Marcos pegava no seu, que um rapaz lhe estendia, caiu-lhe sobre os hombros violenta pancada.
- Façam campo! bradou elle com o pau já em posição, e crescendo para os homens.
A este, um açoite que o tombou; aquelle uma pontuada no peito, que lhe fez largar o cajado; e com rapido sarilho foi repellindo os inimigos que batiam em falso.
- Estás a geito! disse Marcos de repente, estendendo uma pancada de boa vontade, sobre Joaquim, que foi, redondo, ao chão.
Mas aos amigos d'este juntaram-se uns, aquelle, uniram-se outros, e em pouco tempo se tornou encarniçada a luta, e geral a confusão.(...)
- É o Antonio Marcos que já varreu a Senhora das Febres! clamavam as vozes do partido de Holofernes.
- Fujam! Fujam! bradavam os partidarios de Marcos. São os homens do sr. Jorge Pinto!
- Pois levam hoje coça mestra! respondeu um mocetão, cuspindo nas mãos para melhor segurar o cajado de carvalho.
A elles, rapazes! A elles! Antonio ía na frente do seu bando, agil e dextro, varrendo effectivamente quanto achava diante. Ora se abaixava, e cobria cabeça e hombros, com o pau horisontalmente collocado; ora saltava para trás, ou para os lados; ora resaltava para a frente , quando o seu adversario, do momento, tinha os braços dormentes, de haver batido no chão, e o castigava então rijamente . » (pág.242)

« Na roda dos dançadores, quis entrar Joaquim, o criado de Jorge Pinto.

-Lá para fora! bradou António Marcos, de sobrolho carregado.
-Eu já tenho parceira, replicou aquele.
-Mal empregada! Vá dançar onde quiser! Aqui não dança você!
-Então quem manda!
-Mando eu, e mais este marmeleiro. Não dançam aqui homens com mortes às costas!

Joaquim retirou-se furioso, e meio apupado pelos espectadores.

-Venha a viola! disse o Marcos. A isto, rapazes!

Começou a dança. Os pares eram novos, alguns eram namorados, e todos andavam numa festa, que os ditos de fora, e as respostas, de dentro, mais animavam.

-Faz-me berrar essa rebeca, João! Parece que estas ai a morrer!!
-Bravo! Bravo! chamavam os de fora.

A alegria era viva e não disfarçada; e havia talvez meia hora, que não paravam os dançadores.

(...) Uma bofetada interrompeu o provocador.

Os amigos de Joaquim levantaram os cajados, e enquanto Marcos pegava no seu, que um rapaz lhe estendia, caiu-lhe sobre os ombros uma violenta pancada.

-Façam campo! bradou ele com o pau já em posição, e crescendo para os homens.

A este, um açoite que o tombou, àquele uma pontuada no peito, que lhe fez largar o cajado; e com rápido sarilho foi repelindo os inimigos que batiam em falso.

-Estás a jeito! disse Marcos de repente, estendendo uma pancada de boa vontade, sobre Joaquim, que foi, redondo, ao chão.

Mas aos amigos deste juntaram-se uns, àquele, uniam-se outros, e em pouco tempo se tornou encarniçada a luta, e geral a confusão.

As mulheres pediam, em altas vozes, aos homens, que por diversos títulos lhes pertenciam, que se não metessem na desordem.

Os velhos, com a mão esquerda sobre o chapéu, para que não caísse na carreira, fugiam da batalha.

Os pequenos levantavam gritaria infernal.

-Fujam! Fujam! bradava um ricasso, de chapéu braguês, calção e polaina, e casaca de abas muito curtas, correndo desorientado no meio da desordem.
-É para aqui, sr. Bráz! lhe gritava voz compadecida. Para ai, não!

O sr. Bráz corria sempre! Parou de vez, quando lhe caiu em cima, pancada sem dono, à qual nem o braguês pôde resistir!

-É o António Marcos que já varreu a Senhora das Febres! clamavam as vozes do partido de Holofernes.
-Fujam! Fujam! bradavam os partidários de Marcos. São os homens do sr. Jorge Pinto!
-Pois hoje levam coça mestra! respondeu um mocetão, cuspindo nas mãos para melhor segurar o cajado de carvalho.

A eles, rapazes! a eles!

António ia na frente do seu bando, ágil e destro, varrendo efectivamente quanto achava diante. Ora se abaixava, e cobria a cabeça e ombros, com o pau horizontalmente colocado; ora saltava para trás, ou para os lados; ora ressaltava para a frente, quando o seu adversário, do momento, tinha os braços dormentes, de haver batido no chão, e o castigava então rijamente.

-Homens! gritou o doutor de cima de uma pedra. Tenham lá mão! Está aqui gente sossegada, e estou eu também!!
-Nossa Senhora das Merçês! clamava, em sons de flautim, a mulher do sr. Lourenço.
-Homens! Então? Vocês estão doi…

O doutor não pôde acabar, porque uma onda de fugitivas mulheres, atropelando a numerosa família, o deitou por terra!

-Acudam! Nossa Senhora da Graça!

A onda passou, e o doutor envergonhado da sua pouca fortuna, levantou-se, esfregou um cotovelo, e pôs os beiços em pasmosa saliência.

-É para baixo!! gritou ele animando os que levavam de vencida os amigos de Joaquim.

António Marcos chegou ao pé da igreja, quando dela saia o vigário.

-Que é isto, António? Tu vens fazer desordens à romaria?
-Perdoe, meu padrinho!

E contou em voz alta a origem da luta.

» (pág.240-243)

Ler o livro

Pode ler toda a obra directamente no Google Books ou fazer o download do PDF (16.2Mb)

Links Externos

Ver também