Livro: Terras do Demo: diferenças entre revisões
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* '''Título:''' | * '''Título:''' Terras do Demo | ||
* '''Autor:''' | * '''Autor:''' Aquilino Ribeiro (1885-1963) | ||
* '''Publicação:''' Lisboa | * '''Publicação:''' Lisboa: Livraria Bertrand, 1919 (1ª edição) | ||
* '''Formato:''' | * '''Formato:''' 316 Páginas | ||
Este romance transporta-nos ao coração da geografia sentimental de Aquilino Ribeiro, ou não fosse este o lugar onde nasceu, por onde andou durante uma grande parte da sua juventude e ao qual reiteradamente regressou. O seu profundo conhecimento do espaço e das suas gentes apetrecham-no abundantemente para esta digressão por terras «bárbaras e agrestes» que se foram mantendo »à margem da civilização». Um romance que nos convida à descoberta de um Portugal que, apesar da República em Lisboa, ressuscitava velhos fidalgos e onde a emigração permitia sonhar futuros melhores. Ciganos, almocreves, estalajadeiros, alcoviteiras, padres mulherengos e moças enganadas são algumas das personagens que aqui se cruzam connosco neste universo onde a natureza e, muitas vezes, o diabo ditam as suas leis. | |||
<ref>https://books.google.pt/books?id=RsYfAQAAIAAJ</ref> | |||
== Sinopse == | |||
"A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência."<br> | |||
Aquilino Ribeiro | |||
== Excertos da obra == | == Excertos da obra == | ||
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(…) -Eh, rapaziada da Seitosa – disse ele -, então que febre vos fazem as vacas? | |||
-Ainda aí apareces, filho de sete curtas!? – increpou o Zé Narciso. – Vais pagar o descaramento… | |||
E à mão tente despediu-lhe o '''lodo''' à nuca. O Brás aparou a pancada no ombro e respondeu-lhe com uma '''chuçada''' valente do sombreiro à arca do peito. | |||
O outro pulou e, trás, trás, só deixou de bater pela cabeça, pelos braços, pelo corpo todo, quando o viu estrumado por terra, a roncar. | |||
a | O Espadagão vinha com uma enxada para lhe britar a cabeça, mas o Cláudio vendeiro deitou-lhe o gadanho e o golpe foi quebrar-se nas costelas: | ||
– Conho, em homem no chão não se dá! (…) | |||
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Passavam maltas, de '''varapau a estreloiçar contra varapau''', varrendo nas arrecuas do batuque o terreiro coalhado de gentiaga: Viva Lamosa! (…) | |||
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Entre eles nem ficava chão para cair um alfinete. E por entre estes e as vareiras, as maltas e ranchos cavalavam. Lá rompia Granjal de '''lodo''' no ar, tau-tau, viva a rusga! (…) | |||
Aí disparava um cavaleiro, todo farófia, chapéu de aba larga, pau de choupa entalado debaixo da perna: | |||
– Olá, gentes, abram passagem! | |||
Bem arreada besta, crinas rentes, franjas na retranca, rifadora por de mais. O ar dele era rebentio, com a pinta de rico, e o poviléu apartava-se à banda. Mas lá desembocava outra malta: | |||
– Viva Tabosa! | |||
– Viva! | |||
– Viva até que morra! | |||
E arremetia por ali dentro, aos safanões, ó cetrás, em borborinhos de poeira, num zafarrancho de mil demónios. (…) | |||
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– Foge! Foge! – exclamou a Zabana para Glorinhas diante dum roldão de ''''caceteiros''' em enovelada correria. | |||
Eram as maltas do Granjal e da Vila da Ponte que se acometiam, naquela sua inveterada rixa de povos fronteiriços e forçudos. Emborcando tarimbas do negócio e trilhando os dorminhões, acossado pelo '''estreloiçar dos paus''', o poviléu '''varreu''' às bandas. | |||
Glorinhas e a Zabana meteram para a porta do santuário, em que uma onda medrosa se atropelava. A espaldas delas, retiniam pragas, gemidos e gritos de aqui-d’el-rei. Mas acudia a tropa e os desordeiros tresmalhavam a pés de cavalo. Curioso, o povo refluía sobre o lugar da refrega, que durara o tempo dum credo. Escabujava no chão homem ferido, se não morto, e vozes de mulher gemiam, testemunhando a justiça do céu e da terra. (…) | |||
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== Referências == | == Referências == |
Edição atual desde as 12h36min de 8 de janeiro de 2023
Sobre
- Relevância: ★☆☆
- Título: Terras do Demo
- Autor: Aquilino Ribeiro (1885-1963)
- Publicação: Lisboa: Livraria Bertrand, 1919 (1ª edição)
- Formato: 316 Páginas
Este romance transporta-nos ao coração da geografia sentimental de Aquilino Ribeiro, ou não fosse este o lugar onde nasceu, por onde andou durante uma grande parte da sua juventude e ao qual reiteradamente regressou. O seu profundo conhecimento do espaço e das suas gentes apetrecham-no abundantemente para esta digressão por terras «bárbaras e agrestes» que se foram mantendo »à margem da civilização». Um romance que nos convida à descoberta de um Portugal que, apesar da República em Lisboa, ressuscitava velhos fidalgos e onde a emigração permitia sonhar futuros melhores. Ciganos, almocreves, estalajadeiros, alcoviteiras, padres mulherengos e moças enganadas são algumas das personagens que aqui se cruzam connosco neste universo onde a natureza e, muitas vezes, o diabo ditam as suas leis.
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Sinopse
"A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida. Comprazes-te em pintar-lhe as virtudes e encantos sem sombras, e não serei eu que te acoime de parcial. As tintas escuras são para o novelista e tens razão. Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência."
Aquilino Ribeiro
Excertos da obra
« (…) -Eh, rapaziada da Seitosa – disse ele -, então que febre vos fazem as vacas? -Ainda aí apareces, filho de sete curtas!? – increpou o Zé Narciso. – Vais pagar o descaramento… E à mão tente despediu-lhe o lodo à nuca. O Brás aparou a pancada no ombro e respondeu-lhe com uma chuçada valente do sombreiro à arca do peito. O outro pulou e, trás, trás, só deixou de bater pela cabeça, pelos braços, pelo corpo todo, quando o viu estrumado por terra, a roncar. O Espadagão vinha com uma enxada para lhe britar a cabeça, mas o Cláudio vendeiro deitou-lhe o gadanho e o golpe foi quebrar-se nas costelas: – Conho, em homem no chão não se dá! (…) (Página 134) » |
« Passavam maltas, de varapau a estreloiçar contra varapau, varrendo nas arrecuas do batuque o terreiro coalhado de gentiaga: Viva Lamosa! (…) (Página 136) » |
« Entre eles nem ficava chão para cair um alfinete. E por entre estes e as vareiras, as maltas e ranchos cavalavam. Lá rompia Granjal de lodo no ar, tau-tau, viva a rusga! (…) Aí disparava um cavaleiro, todo farófia, chapéu de aba larga, pau de choupa entalado debaixo da perna: – Olá, gentes, abram passagem! Bem arreada besta, crinas rentes, franjas na retranca, rifadora por de mais. O ar dele era rebentio, com a pinta de rico, e o poviléu apartava-se à banda. Mas lá desembocava outra malta: – Viva Tabosa! – Viva! – Viva até que morra! E arremetia por ali dentro, aos safanões, ó cetrás, em borborinhos de poeira, num zafarrancho de mil demónios. (…) (Página 241) » |
« – Foge! Foge! – exclamou a Zabana para Glorinhas diante dum roldão de 'caceteiros em enovelada correria. Eram as maltas do Granjal e da Vila da Ponte que se acometiam, naquela sua inveterada rixa de povos fronteiriços e forçudos. Emborcando tarimbas do negócio e trilhando os dorminhões, acossado pelo estreloiçar dos paus, o poviléu varreu às bandas. Glorinhas e a Zabana meteram para a porta do santuário, em que uma onda medrosa se atropelava. A espaldas delas, retiniam pragas, gemidos e gritos de aqui-d’el-rei. Mas acudia a tropa e os desordeiros tresmalhavam a pés de cavalo. Curioso, o povo refluía sobre o lugar da refrega, que durara o tempo dum credo. Escabujava no chão homem ferido, se não morto, e vozes de mulher gemiam, testemunhando a justiça do céu e da terra. (…) (Página 257) » |
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- Aquilino Ribeiro – Wikipédia
- Etnografia de Aquilino Ribeiro por José Manuel Sobral