Mestre: José Maria da Silveira: diferenças entre revisões
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Em menino foi cantor de igreja e mais tarde praticou o jogo do pau. | Em menino foi cantor de igreja e mais tarde praticou o jogo do pau. | ||
Tinha à sua porta uma pedra muito grande e pesada com que media forças com a rapaziada do seu tempo. | Tinha à sua porta uma pedra muito grande e pesada com que media forças com a rapaziada do seu tempo. | ||
Deixou uma fama monumental como esgrimista do pau e foi mestre do nosso popularissimo e grande Rei D. Carlos.» | Deixou uma fama monumental como esgrimista do pau e foi mestre do nosso popularissimo e grande Rei D. Carlos.»<br> | ||
< | <small>CAÇADOR, António Nunes, ''Jogo do Pau: esgrima nacional'', Lisboa: ed. Autor, 1963 ([[Livro: Jogo do Pau: esgrima nacional|sobre o livro]])</small> | ||
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«(...) colossal de estatura, desempenado, fonte energética, de cores sadias, faces de home decidido foi durante muito tempo cabo de coristas de S. Carlos. Tinha uma voz fortísima e vibrante de "baixo profundo". (...) Os pulsos eram grossíssimos. Nas mãos tinha força prodigiosa!... conta-se (...) ele assentava os dedos sobre cinco cruzados novos, postos numa mesa, e desafiava todos a demover-lhe o braço naquela posição! (...) nenhum dos homens mais esforçados de então conseguiam ganhar a aposta! O braço era de bronze - parecia fundido!<br> | «(...) colossal de estatura, desempenado, fonte energética, de cores sadias, faces de home decidido foi durante muito tempo cabo de coristas de S. Carlos. Tinha uma voz fortísima e vibrante de "baixo profundo". (...) Os pulsos eram grossíssimos. Nas mãos tinha força prodigiosa!... conta-se (...) ele assentava os dedos sobre cinco cruzados novos, postos numa mesa, e desafiava todos a demover-lhe o braço naquela posição! (...) nenhum dos homens mais esforçados de então conseguiam ganhar a aposta! O braço era de bronze - parecia fundido!<br> | ||
Ao canto da sua casa tinha uma grande bola de pedra, pesada e de enorme volume. Chamava-lhe a ''bola da paciencia'', porque todos queriam levanta-la e a todos escorregava das mãos. Os mais reforçados de corporatura não conseguiam ergue-la, mas o ''Saloio'' fazia dela quanto queria!» | Ao canto da sua casa tinha uma grande bola de pedra, pesada e de enorme volume. Chamava-lhe a ''bola da paciencia'', porque todos queriam levanta-la e a todos escorregava das mãos. Os mais reforçados de corporatura não conseguiam ergue-la, mas o ''Saloio'' fazia dela quanto queria!»<br> | ||
< | <small>PONTES, José, ''Quási um século de desporto (1834-1924)'', Sociedade Nacional de Tipografia, Lisboa, 1924, p.25-26 ([[Livro: Quási um século de desporto (1834-1924)|sobre o livro]])</small> | ||
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«''José Maria Saloio'', que ainda dura, já hoje velho e dobrado, distinguiu se sempre nos lances de valentia, no vigor, na robustez, e também na prudência com que evitava os conflictos até o momento de os julgar indispensáveis.» | «''José Maria Saloio'', que ainda dura, já hoje velho e dobrado, distinguiu se sempre nos lances de valentia, no vigor, na robustez, e também na prudência com que evitava os conflictos até o momento de os julgar indispensáveis.»<br> | ||
< | <small>MACHADO, Júlio César, ''Á lareira'', Lisboa: Livraria de Campos Júnior, 1872 (no conto «O homem das forças») ([[Livro: Á lareira|sobre o livro]])</small> | ||
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De fóra de Lisboa (de Setubal, se bem me recordo) viera a Lisboa um pimpão, para conhecer e comprimentar o Saloio. Quando logrou encontral-o apertou-lhe a mão, e quebrou-lhe um dedo! O desfeiteado calou a dôr e a affronta, e passado tempo foi á terra do seu amigo, e abraçando-o com a effusão de quem retribue um favor — quebrou-lhe uma costella! | De fóra de Lisboa (de Setubal, se bem me recordo) viera a Lisboa um pimpão, para conhecer e comprimentar o Saloio. Quando logrou encontral-o apertou-lhe a mão, e quebrou-lhe um dedo! O desfeiteado calou a dôr e a affronta, e passado tempo foi á terra do seu amigo, e abraçando-o com a effusão de quem retribue um favor — quebrou-lhe uma costella!»<br> | ||
< | <small>PALMEIRIM, Luís Augusto, Os excêntricos do meu tempo, Lisboa: Imprensa Nacional, 1891, pp.263-272, p.271 ([[Livro: Os excêntricos do meu tempo|sobre o livro]])</small> | ||
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- «O mestre não me tinha ensinado, ainda aquele bote...<br> | - «O mestre não me tinha ensinado, ainda aquele bote...<br> | ||
E o José Maria Saloio, muito natural e pachorrentamente:<br> | E o José Maria Saloio, muito natural e pachorrentamente:<br> | ||
- «Nem ensino. Aquele joguinho é só para mim». | - «Nem ensino. Aquele joguinho é só para mim».<br> | ||
<small>(pp.283-284)</small> | <small>(pp.283-284)</small><br> | ||
< | <small>COSTA, Mário, Feiras e outros divertimentos populares de Lisboa, Municipio de Lisboa, 1950 ([[Livro: Feiras e outros divertimentos populares de Lisboa|sobre o livro]])</small> | ||
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'''Jogo do pau :''' Esgrima característica portuguesa, há mais de dois séculos praticada pela gente do povo em algumas províncias, com o varapau, arma natural de que dispunha e que em princípios do século passado foi introduzida nos meios desportivos da capital por [[Mestre: José Maria da Silveira|José Maria Silveira]], conhecido pelo Saloio e a quem ''Eduardo Noronha'' se refere no seu livro ''O Último Marquês de Nisa''.»<br> | |||
<small>Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Enciclopédia, Limitada, volume XX, 1949 ([[Livro: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira|sobre o livro]])</small> | |||
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Revisão das 21h08min de 24 de junho de 2021
Sobre
José Maria da Silveira conhecido como «O Saloio» nasceu em 1805 na Calçada da Graça n.º 13 em Lisboa, e faleceu, com idade de 83 anos em 1888.
A alcunha do Saloio fora motivada pelas cores rosadas do rosto, que lhe dava um aspeto rústico que contratava dos rostos citadinos.
Era de constituição física alta, forte e de grande agilidade, segundo o livro do Mestre Caçador, chegava a fazer catorze retaguardas seguidas, isto é, catorze voltas sobre si, acompanhando o rápido giro do pau.[1]
Segundo Zacarias d'Aça, aprendeu a jogar o pau com dois mestres, um galego, outro minhoto, cujos os nomes depressa esqueceram. Aplicou a este jogo alguns movimentos da esgrima de sabre e florete, onde estudou e modificou. Fazendo assim, um estilo próprio, caracterizando-o como «esgrima nacional».
Deu lições na Rua Nova do Loureiro e Largo dos Inglesinhos (última escola), em Lisboa.
Publicações onde é citado
«Primeiro dos grandes mestres da esgrima do pau , é a ele a quem se deve o primeiro desenvolvimentos neste ramo de desporto, não obstante ter havido outros mestres no seu tempo, deixou bons esgrimistas, como Domingos de Couras Salréu e Pedro Augusto da Silva que vieram a ser representantes da sua Escola, que foi na Travessa dos Inglesinhos e na Rua nova do Loureiro.
Fundador da Escola de Lisboa, que assim se chama, por ser um tipo de esgrima diferente do das províncias, o qual nós ainda hoje adoptamos, possivelmente aperfeiçoado.
Em menino foi cantor de igreja e mais tarde praticou o jogo do pau.
Tinha à sua porta uma pedra muito grande e pesada com que media forças com a rapaziada do seu tempo.
Deixou uma fama monumental como esgrimista do pau e foi mestre do nosso popularissimo e grande Rei D. Carlos.» |
«(...) colossal de estatura, desempenado, fonte energética, de cores sadias, faces de home decidido foi durante muito tempo cabo de coristas de S. Carlos. Tinha uma voz fortísima e vibrante de "baixo profundo". (...) Os pulsos eram grossíssimos. Nas mãos tinha força prodigiosa!... conta-se (...) ele assentava os dedos sobre cinco cruzados novos, postos numa mesa, e desafiava todos a demover-lhe o braço naquela posição! (...) nenhum dos homens mais esforçados de então conseguiam ganhar a aposta! O braço era de bronze - parecia fundido! |
«José Maria Saloio, que ainda dura, já hoje velho e dobrado, distinguiu se sempre nos lances de valentia, no vigor, na robustez, e também na prudência com que evitava os conflictos até o momento de os julgar indispensáveis.» |
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De fóra de Lisboa (de Setubal, se bem me recordo) viera a Lisboa um pimpão, para conhecer e comprimentar o Saloio. Quando logrou encontral-o apertou-lhe a mão, e quebrou-lhe um dedo! O desfeiteado calou a dôr e a affronta, e passado tempo foi á terra do seu amigo, e abraçando-o com a effusão de quem retribue um favor — quebrou-lhe uma costella!» |
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José Maria Saloio prestou-se a tomar parte numa festa de caridade, fazendo exibição dos vistosos golpes em que era mestre. O seu antagonista, o discípulo favorito, respondia com brilho aos toques que aquele lhe disparava, o que fez pôr em dúvida a vitória do campeão. « Este , impassível, defendia-se, parecia que o custo, fugia dificultosamente com o corpo, protegia, dir-se-ía, que aflito, a cabeço, deixava o discípulo florear e apavonar-se com os aplausos que já vinha, da bancada, e, quando lá lhe pareceu, e todos quase apontavam o moço antagonista como vencedor, joga-lhe uma paulada à cabeça, atira-lhe com o pau para o chão e põe-no na arena sem sentidos. Surpresa geral nos espectadores. Passado o atordoamento dos primeiros instantes, os dois reconciliam-se «em campo», como é costume, e o vencido, depois de saudar o mestre, segredou-lhe ao ouvido: |
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Jogo do pau : Esgrima característica portuguesa, há mais de dois séculos praticada pela gente do povo em algumas províncias, com o varapau, arma natural de que dispunha e que em princípios do século passado foi introduzida nos meios desportivos da capital por José Maria Silveira, conhecido pelo Saloio e a quem Eduardo Noronha se refere no seu livro O Último Marquês de Nisa.» |
Artigo do Jornal «O Tiro civil»
Destaca-se o artigo de Zacharias d’Aça ao longo de seis números do jornal O Tiro civil, sobre o Mestre José Maria da Silveira , e o seu contra-mestre Mestre Pedro Augusto.
Veja todo o artigo compilado aqui
- Edição 6 (181) de 1 Março 1900 p.4-5 : O mestre José Maria da Silveira - O saloio (I) (ler o jornal completo)
- Edição 6 (182) de 15 Março 1900 p.5-6 : O mestre José Maria da Silveira (II) (ler o jornal completo)
- Edição 6 (187) de 1 Junho 1900 p.8 : O mestre José Maria da Silveira (III) (ler o jornal completo)
- Edição 6 (189) de 1 Julho 1900 p.5-6 : O mestre José Maria da Silveira (VI) (ler o jornal completo)
- Edição 6 (196) de 15 Outubro 1900 p.3-4 : O mestre José Maria da Silveira (V) - Pedro Augusto - o contra-mestre de José Maria (ler o jornal completo)
- Edição 6 (197) de 1 Novembro 1900 p.5 : O mestre José Maria da Silveira (VI) - Pedro Augusto - o contra-mestre de José Maria (ler o jornal completo)
Separata do Livro: Lisboa moderna
No livro Lisboa Moderna de 1906, Zacharias d’Aça, reserva 13 página para reescrever o artigo publicado anteriormente no «Diário da Manhã» em 1883, e depois em 1900, no «O Tiro Civil».
Galeria de imagens
Ver também
Referências
- ↑ LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 (sobre o livro)