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Origem do Jogo do Pau: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
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De facto, tanto o '''Kalarippayattu''' como o '''Jogo do Pau''' apresentam semelhanças formais relevantes, especialmente no que toca à mobilidade circular, ao trabalho de distância, à articulação entre ataques diretos e esquivas anguladas, bem como à utilização de varapaus longos (tipicamente entre 1,50 m e 1,80 m) empunhados em guarda alta ou em posições de defesa fluída.
De facto, tanto o '''Kalarippayattu''' como o '''Jogo do Pau''' apresentam semelhanças formais relevantes, especialmente no que toca à mobilidade circular, ao trabalho de distância, à articulação entre ataques diretos e esquivas anguladas, bem como à utilização de varapaus longos (tipicamente entre 1,50 m e 1,80 m) empunhados em guarda alta ou em posições de defesa fluída.


Contudo, importa sublinhar que o uso do pau como arma está presente em praticamente todas as culturas humanas, tendo evoluído de forma autónoma em diversos contextos, desde o Japão ao Brasil, da Irlanda à Malásia, do sul da Índia à Península Ibérica. Assim, embora o contacto luso-oriental no século XVI tenha sido real e intenso, não se pode afirmar com rigor que o '''Jogo do Pau português derive diretamente do Kalarippayattu'''.
Contudo, importa sublinhar que o uso do pau como arma está presente em praticamente todas as culturas humanas, tendo evoluído de forma autónoma em diversos contextos, desde o Japão ao Brasil, da Irlanda à Malásia, do sul da Índia à Península Ibérica. Assim, embora o contacto luso-oriental no século XVI tenha sido real e intenso, '''não se pode afirmar com rigor que o Jogo do Pau português derive diretamente do Kalarippayattu'''.


O mais provável é que este contacto tenha funcionado como um ''''reforço técnico, uma validação intercultural ou até uma inspiração pontual''', mas sobreposto a uma tradição europeia pré-existente de combate com pau, que remonta pelo menos à Idade Média, ligada tanto a práticas civis (defesa pessoal, rivalidades, duelos) como a tradições militares (bastão, lança curta, montante e outros).<ref>Livro «O Jogo do Pau Português», 2020 ([[Livro: O Jogo do Pau Português (a arte marcial portuguesa com séculos de prática)|ver mais]])</ref>
O mais provável é que este contacto tenha funcionado como um ''''reforço técnico, uma validação intercultural ou até uma inspiração pontual''', mas sobreposto a uma tradição europeia pré-existente de combate com pau, que remonta pelo menos à Idade Média, ligada tanto a práticas civis (defesa pessoal, rivalidades, duelos) como a tradições militares (bastão, lança curta, montante e outros).<ref>Livro «O Jogo do Pau Português», 2020 ([[Livro: O Jogo do Pau Português (a arte marcial portuguesa com séculos de prática)|ver mais]])</ref>

Revisão das 19h21min de 1 de julho de 2025

Origem

A origem do Jogo do Pau Português é imprecisa, pois não existem dados escritos e fontes fidedignas que nos apontem para uma origem concreta. No entanto, grande parte das fontes existentes indicam que o mesmo se desenvolveu por todo o território nacional entre o séc. XIV e XVII, tendo-se mantido mais ativo no Alto Minho e Trás-os-Montes, particularmente nas regiões de Fafe, Basto e Terras de Barroso. Mais tarde, expandiu-se para Sul, por via da migração interna.

Alguns historiadores e teóricos creem que o Jogo do Pau Português foi desenvolvido como arte de combate nas regiões serranas, onde o uso comum do cajado levou os pastores e os jovens a usar este utensílio do dia-a-dia como arma de proteção, vindo assim a evoluir como arte de combate ao longo de vários séculos de prática, tanto em termos técnicos como na sua eficácia em combate.

Contudo, há outras teorias, em que a sua prática nasceu nos campos de treino e de batalha na era medieval, outros indicam que tem origem celta e até indiana.

Mesmo acreditando que o Jogo do Pau Português é uma arte marcial 100% de origem portuguesa, não podemos descartar outras teorias existentes.

Origem rural

 Sem informação disponível até à data.

Origem militar

 Sem informação disponível até à data.

Origem Celta

Admite-se que a arte do pau em Portugal remonta à tradição celta ou celtibérica, porque, tal como o triplo salto e o hockey faziam parte dos jogos celtas do passado, esta arte instalou-se principalmente no Norte, região céltica por excelência, onde se encontra também as danças de pau, dos pauliteiros de Miranda, tipicamente célticas.

Segundo o artigo "Celtic Martial Arts", incluído na obra Martial Arts of the World: An Encyclopedia of History and Innovation (2010), o Jogo do Pau é apresentado como uma prática de combate com bastões de raízes antigas, partilhada pelas culturas do norte da Península Ibérica, incluindo os povos de origem celta. A sua origem estaria provavelmente ligada a tradições pré-cristãs, integradas em festividades pagãs, muitas vezes reprimidas pela Igreja ao longo da história. Apesar dessas perseguições, o Jogo do Pau sobreviveu como expressão popular enraizada nas comunidades rurais, especialmente em Portugal e na Galiza, sendo hoje considerado um exemplo vivo da herança marcial celta-ibérica.

Esta perspectiva associa o Jogo do Pau a um património cultural pan-celta, destacando a sua continuidade histórica enquanto forma de luta tradicional associada a rituais comunitários, defesa pessoal e afirmação de identidade local.

É interessante verificar que pau significava também em língua celta «aldeia».[1]

Origem Indiana

Existe uma teoria que sugere que as técnicas originais de combate portuguesas possam ter recebido, de alguma forma, influências da arte de combate indiana Kalarippayattu, originária do Estado de Kerala, a partir do século XVI. De facto, a abertura do caminho marítimo para a Índia levou os portugueses a dominarem o comércio e parte da governação em Kerala durante cerca de 150 anos (1505-1663).

Durante esse longo período, um contingente significativo de soldados portugueses operou no Oceano Índico, participando em campanhas militares, na defesa de fortalezas e na proteção de rotas comerciais. Estes soldados combatiam lado a lado com contingentes locais, incluindo Canarinos cristãos, Kerala Nayaks e sipaios (soldados indianos ao serviço da Coroa).

Os Nayaks, muitas vezes praticantes de Kalarippayattu, desempenharam um papel relevante na manutenção da ordem e da segurança nas possessões portuguesas da costa do Malabar. O Kalarippayattu, uma arte com raízes milenares, fazia parte da formação de guerreiros e, durante o domínio luso, manteve-se não só como prática cultural, mas também como instrumento militar ativo.

É plausível admitir que muitos soldados portugueses, oriundos sobretudo de meios rurais e populares, tenham tido contacto direto com estas técnicas marciais, aprendido, observado ou até treinado conjuntamente, sobretudo considerando a convivência prolongada nas campanhas, fortalezas e guarnições mistas. Esse contacto, consciente ou inconsciente, pode ter influenciado a sua própria forma de lutar com armas simples, como paus, varapaus ou lanças curtas.

Quando estes homens regressavam às suas aldeias em Portugal, poderiam ter trazido consigo não apenas experiências de combate, mas também noções técnicas — como padrões de movimento, princípios de deslocamento, esquivas ou uso articulado do corpo e da arma — que se teriam integrado na matriz já existente de combate com pau na tradição portuguesa.

De facto, tanto o Kalarippayattu como o Jogo do Pau apresentam semelhanças formais relevantes, especialmente no que toca à mobilidade circular, ao trabalho de distância, à articulação entre ataques diretos e esquivas anguladas, bem como à utilização de varapaus longos (tipicamente entre 1,50 m e 1,80 m) empunhados em guarda alta ou em posições de defesa fluída.

Contudo, importa sublinhar que o uso do pau como arma está presente em praticamente todas as culturas humanas, tendo evoluído de forma autónoma em diversos contextos, desde o Japão ao Brasil, da Irlanda à Malásia, do sul da Índia à Península Ibérica. Assim, embora o contacto luso-oriental no século XVI tenha sido real e intenso, não se pode afirmar com rigor que o Jogo do Pau português derive diretamente do Kalarippayattu.

O mais provável é que este contacto tenha funcionado como um 'reforço técnico, uma validação intercultural ou até uma inspiração pontual, mas sobreposto a uma tradição europeia pré-existente de combate com pau, que remonta pelo menos à Idade Média, ligada tanto a práticas civis (defesa pessoal, rivalidades, duelos) como a tradições militares (bastão, lança curta, montante e outros).[2]

Em síntese

O encontro entre portugueses e indianos no século XVI é um dos episódios mais ricos de trocas culturais da história moderna. Nesse contexto, não se pode descartar a possibilidade de influências pontuais do Kalarippayattu na tradição portuguesa de combate com pau. Contudo, o Jogo do Pau tem raízes sólidas na cultura europeia rural e guerreira, e a eventual influência indiana pode ser entendida como um fenómeno de contato e enriquecimento técnico, e não como origem.

Referências

  1. Artigo em Beijaflor nº 10 de novembro/dezembro 1999 (ver mais)
  2. Livro «O Jogo do Pau Português», 2020 (ver mais)

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