Livro: Historia do fado: diferenças entre revisões
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Os fadistas do Rio de Janeiro são os capoeiras. Tem havido alguns notabilissimos pelas proezas. O Manduca da Praia — um homem pardo temivel—, que tinha loja de peixe no mercado, pendenciou com o impávido [[Santana e Vasconcelos|San'Anna e Vasconcellos]] n'um botequim fluminense, mas o nosso compatriota reguingou-lhe com valentia. [[Santana e Vasconcelos|San'Anna e Vasconcellos]] e o Manduca da Praia sahiram, uma vez, de braço dado de um theatro, a cuja porta eram esperados por uma alcatéa de capoeiras, com o fim de os aggredirem. Mas os maraus não se atreveram a tocar-lhes e limitaramse a abrir alas á sua passagem. | |||
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N'esta época [1860], houve alguns fadislões de renome. Citaremos o bonito mulato ''José Luiz'', o Pau Real, o ''Chico macaco'' — catraeiro valentíssimo — , o ''Calcinhas'' do Cães do Sodré, o ''Joaquim Enguia'', o temivel ''Júlio Arbèllo'', do Bairro-Alto, os ''três Côcôs'', o ''Cachucho'' — fabricante de palitos para phosphoros —, um seu irmão, ''Manoel Ratão - um grande '''puxador de pau''', — o cocheiro ''António Carapinha'' e o cocheiro ''Bitaculas'', um batedor e um valente, pae dos actuaes cocheiros ''Bitaculas''. | N'esta época [1860], houve alguns fadislões de renome. Citaremos o bonito mulato ''José Luiz'', o Pau Real, o ''Chico macaco'' — catraeiro valentíssimo — , o ''Calcinhas'' do Cães do Sodré, o ''Joaquim Enguia'', o temivel ''Júlio Arbèllo'', do Bairro-Alto, os ''três Côcôs'', o ''Cachucho'' — fabricante de palitos para phosphoros —, um seu irmão, ''Manoel Ratão - um grande '''puxador de pau''', — o cocheiro ''António Carapinha'' e o cocheiro ''Bitaculas'', um batedor e um valente, pae dos actuaes cocheiros ''Bitaculas''. | ||
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Edição atual desde as 14h59min de 4 de maio de 2025
Sobre
- Relevância: ★☆☆
- Título: Historia do fado
- Autor: Pinto de Carvalho (Tinop) (1858-1936)
- Publicação: Empreza da historia de Portugal, 1ª Edição 1903
- Formato: 294 páginas
História do Fado, constitui não só o mais importante texto até hoje elaborado sobre as origens e o desenvolvimento do Fado, como também um saborosíssimo painel da vida de Lisboa na segunda metade do século XIX.
Sinopse
Publicada em 1903, a História do Fado continua a ser um dos mais antigos textos de referencia da arte do fado que se conhece.
Constitui um manancial de informação no qual se reconhece o primeiro esforço para sistematizar as origens e evolução do Fado, a biografia dos seus protagonistas, para além de uma visão da vida artística da Lisboa de 1800.
O enquadramento social sobrepõe-se ao histórico ou político. Pinto de Carvalho jornalista sobrepõe-se ao Pinto de Carvalho historiador.
Apenas em duas, de todas as páginas, se encontra uma referencia ao novíssimo fado socialista.
Excerto da obra
O Fado, nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer. Manifestando-se de forma espontânea, a sua execução decorria dentro ou fora de portas, nas hortas, nas esperas de touros, nos retiros, nas ruas e vielas, nas tabernas, cafés de camareiras e casas de meia-porta.
O fado encontra-se, numa primeira fase, vincadamente associado a contextos sociais pautados pela marginalidade e transgressão, em ambientes frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas. Muitas vezes surpreendidos na prisão, os seus actores, os cantadores, são descritos na figura do faia, tipo fadista, rufião de voz áspera e roufenha, ostentando tatuagens, hábil no manejo da navalha de ponta e mola, recorrendo à gíria e ao calão. [1]
O autor, cita alguns fadistas da época 1860, onde muitos deles, além de rufiões, eram também valentes jogadores de pau.
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Por via de regra, o fadista expira na gehena, na enfermaria ou. . . na ponta de uma faca. (...) Os fadistas do Rio de Janeiro são os capoeiras. Tem havido alguns notabilissimos pelas proezas. O Manduca da Praia — um homem pardo temivel—, que tinha loja de peixe no mercado, pendenciou com o impávido San'Anna e Vasconcellos n'um botequim fluminense, mas o nosso compatriota reguingou-lhe com valentia. San'Anna e Vasconcellos e o Manduca da Praia sahiram, uma vez, de braço dado de um theatro, a cuja porta eram esperados por uma alcatéa de capoeiras, com o fim de os aggredirem. Mas os maraus não se atreveram a tocar-lhes e limitaramse a abrir alas á sua passagem. (...) N'esta época [1860], houve alguns fadislões de renome. Citaremos o bonito mulato José Luiz, o Pau Real, o Chico macaco — catraeiro valentíssimo — , o Calcinhas do Cães do Sodré, o Joaquim Enguia, o temivel Júlio Arbèllo, do Bairro-Alto, os três Côcôs, o Cachucho — fabricante de palitos para phosphoros —, um seu irmão, Manoel Ratão - um grande puxador de pau, — o cocheiro António Carapinha e o cocheiro Bitaculas, um batedor e um valente, pae dos actuaes cocheiros Bitaculas. O primeiro entre os seus pares era o Pau Real — quasi um professor de fadistographia. Foi morto á falsa fé pelo Chico Galleguinho na taberna da Balbina (...) O crime proveio de um desaguisado que ambos tiveram na casa de pasto do Mosqueira, na rua das Gáveas, depois de uma espera de toiros. O assassino foi degredado, mas escapuliu se do degredo e ainda voltou a Lisboa n'um navio de guerra americano. Entre os mais tezos jogadores de pau n'aquelle tempo, podemos citar o José da Burra, o velho cocheiro Malaquias e o José Carlos, de Évora. (pp.35-42) » |
« À volta de 1850, existiam bailarins de fado e de fandango notabilissimos. Estava n'esse caso o Salvador Mexerio, antigo artilheiro do regimento do Cães dos Soldados (...) No mesmo caso se achava o Theodosío, os dois irmãos Castanholas, o fadista Manoel Ratão, grande jogador de pau do Campo de Sant'Anna, e o Mexelhão, canteiro, que fora soldado de sapadores. (pp.253-254) » |
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