Livro: Perfil do marquez de Pombal: diferenças entre revisões
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Conheci ha vinte e seis annos, no Porto, um gentilissimo rapaz, bacharel formado em direito, chamado Valentim de Faria Mascarenhas Lemos. Era louro, typo do norte e um farto bigode guiado até ás orelhas, largo de espáduas, e um relançar d'olhos sinistro. Elle e seu irmão Alexandre Mascarenhas, também formado, tinham adquirido a fama lendária dos Lobos, do Chico Ilhéu e do Lyra. De Valentim contava-se '''que matara um «futrica»<Ref>[Regionalismo] Pessoa desprezível; [Gíria] Designação dada, entre os estudantes de Coimbra, a quem não é estudante.</ref> além da ponte com uma paulada em noite de troça'''. Valentim não negava o facto e explicava-o honradamente, sem jactância. O '''futrica forçara-o a optar entre matar ou morrer. O meu amigo evadiu-se pela ponta mais obvia do dilemma, deixando o adversário na via d'outras existências extra-planetarias'''. | |||
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Revisão das 12h09min de 23 de julho de 2023
Sobre
- Relevância: ★☆☆
- Título: Perfil do marquez de Pombal
- Autor: Camilo Castelo Branco (1825-1890)
- Publicação: Clavel & C-ª: L. Couto & C.ª, 1882 (1ª edição)
- Formato: 17,6 cm, XVI-316-[4] págs., enc., ilustrado.
o Perfil do marquez de Pombal pretende dar a conhecer uma das facetas menos divulgadas do escritor, a de historiador. Publicado originalmente por ocasião das comemorações do Centenário de Pombal, em 1882, o livro acaba por ser um libelo contra aquele governante e a má gestão da dinastia de Bragança. Para além do seu valor literário, e acima do rigor e isenção que Camilo lhe pretende atribuir, a obra oferece sobretudo estimulante matéria de reflexão sobre uma das épocas mais marcantes da história de Portugal.[1]
Camilo Castelo Branco, in Proémio:
«Este livro não pode agradar a ninguém. Nem aos absolutistas, nem aos republicanos, nem aos temperados. Chamo «temperados» aos que se atemperam às circunstâncias do tempo e do meio. São os piores, porque são mistos – têm três doses da bílis azeda dos três partidos.
São a mentira convencional – a máscara. Déspotas para zelarem a liberdade, livres para glorificarem o despotismo.
Escreveu-se esta obra de convicção, e sem partido, com uma grande serenidade e pachorra. Não se ama nem desama alguma das facções e fracções militantes. Sou um mero contemplador da fundição do metal de que há-de sair a estátua da liberdade portuguesa; mas, em meio século, será difícil empresa desagregar o bronze, estreme do chumbo e da escumalha de ferro.»
Excerto da obra
« Conheci ha vinte e seis annos, no Porto, um gentilissimo rapaz, bacharel formado em direito, chamado Valentim de Faria Mascarenhas Lemos. Era louro, typo do norte e um farto bigode guiado até ás orelhas, largo de espáduas, e um relançar d'olhos sinistro. Elle e seu irmão Alexandre Mascarenhas, também formado, tinham adquirido a fama lendária dos Lobos, do Chico Ilhéu e do Lyra. De Valentim contava-se que matara um «futrica»[2] além da ponte com uma paulada em noite de troça. Valentim não negava o facto e explicava-o honradamente, sem jactância. O futrica forçara-o a optar entre matar ou morrer. O meu amigo evadiu-se pela ponta mais obvia do dilemma, deixando o adversário na via d'outras existências extra-planetarias. (Pág.63) » |
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Links externos
Referências
- ↑ https://www.wook.pt/livro/perfil-do-marques-do-pombal-camilo-castelo-branco/16089580
- ↑ [Regionalismo] Pessoa desprezível; [Gíria] Designação dada, entre os estudantes de Coimbra, a quem não é estudante.