Artigo: Lexico especifico do Jogo do Pau Portugues

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: Léxico especifico do Jogo do Pau Português
  • Autor: Nuno Russo
  • Jornal: Jornal «Desporto em Português» do Centro de Estudos e Formação Desportiva
  • Publicação: Nº 4 de out/nov/dez 2001

Artigo

« JOGO DO PAU PORTUGUÊS

I. CARACTERÍSTICAS

Desporto de combate, de coordenação óculo-manual e psicomotora.

II. MATERIAL UTILIZADO

1. Pau ou vara

Peça direita e lisa de madeira de lodo/lódão (ceitis australis liceu) - o pau típico.

A qualidade da madeira poderá ser outra, desde que não seja excessivamente pesada. Deve ser resistente e suficientemente flexível. O material não deve ser demasiadamente duro, para que as vibrações das pancadas não sejam transmitidas às mãos dos jogadores. Como exemplo, temos as madeiras de castanheiro, carvalho, freixo, marmeleiro, para além de outras.

Para jogadores adultos, os paus ou varas devem medir 1m60. O seu peso, para o sexo masculino, deve ser cerca de 600 gramas e para o feminino, cerca de 400 gramas.

Para jovens e crianças, o peso e a medida devem ser proporcionais à idade e altura do jogador. No entanto, para todos, os paus deverão ir engrossando ligeiramente, da pega até à ponta com que se bate.

III. LOCAL

Qualquer local plano com área mínima de 6 x 8 metros (ginásios, campos de ténis, de terra batida, relvados, na areia da praia, etc.), serve para a prática deste jogo.

IV. JOGADORES

Pode ser praticado por jogadores de ambos os sexos e de todas as idades.

V. OBJECTIVO

Procurar atingir com o pau o ou os adversários, e defender-se dos ataques por estes desferidos.

VI. DESCRIÇÃO TÉCNICA

1. Técnica de base

1.1. Ataques
(sete ataques de base)

Todos os ataques são executados aproveitando o comprimento total do pau e todos eles, salvo a ponta, são feitos em rotação completa (360º), aproveitando-se o balanço da parte mais grossa da vara, que é exactamente a que bate. Também todos podem ser feitos com as duas mãos ou apenas com uma. No primeiro caso, a distância a que ficam entre si as duas mãos deve ser igual ao tamanho do antebraço do jogador.

1.1.1. Ataque enviesado ou ataque em viés (à esquerda ou à direita)

Ataque desferido de cima para baixo, ao lado esquerdo ou direito do adversário.

1.1.2. Ataque redondo ou ataque de talhe (à esquerda ou à direita)

Ataque desferido paralelamente ao chão, ao lado esquerdo ou direito do adversário.

1.1.3. Ataque arrepiado, ataque em revés ou revessos (à esquerda ou à direita)

Ataque desferido de baixo para cima, ao lado esquerdo ou direito do adversário.

1.1.4. Ponta, pontoada ou estocada

Ataque directo, com o topo anterior da vara, dirigido à cara ou ao plexo solar do oponente.

1.2. Defesas, guardas ou cobertas
(sete defesas de base, uma para cada ataque)

1.2.1. Rijas

Oferecem resistência directa às pancadas do adversário.

1.2.1.1. Rijas directas

Executadas directamente, isto é, sacudindo o pau do atacante.

1.2.1.2. Varrimentas ou guardas em movimento

Executadas em rotação, opõem-se às pancadas adversárias com outras em sentido contrário, como que varrendoas.

1.3. Sarilhos

Exercícios de treino provenientes de defesas antigas, que têm como fim aumentar a facilidade no manejo do pau, e ensinar o principiante a "bem pisar o terreno".

Os sarilhos utilizados são os seguintes: de baixo, borda de água de cima, borda de água de baixo, redondo por cima, rasteiro, traçado de unhas a baixo e da quelha (esta palavra significa, no Norte e na Beira, um caminho estreito).

NOTA. — Os vários tipos de sarilhos serão definidos na 2ª parte do Léxico do Jogo do Pau Português.

2. Técnica avançada

2.1. Defesas, guardas ou cobertas

2.1.1. Guardas brandas

Defesas em que se aproveita a força da pancada do adversário em favor do nosso contra-ataque, são muito rápidas e de controlo complexo.

2.1.2. Guardas simuladas

Defesas em que se recolhe o pau à pancada do adversário, para esta passar sem ser tomada, isto é, defendida.

2.1.3. Guardas avançadas

Defesas efectuadas entrando no terreno do adversário, debaixo do ataque dele.

NOTA. — Para a execução com eficácia das guardas avançadas, é necessário possuir um alto nível técnico, dada a complexidade de que se revestem.

2.2. Cortes

Contra-ataques, após esquiva, que evitam o ataque adversário, portanto sem execução de qualquer guarda. Existem os cortes recuados, saídos, laterais, à posição esquerda ou direita, com troca de passo e antecipados.

NOTA. — Os vários tipos de cortes serão definidos na 2ª. parte do léxico do jogo do pau português.

3. Jogo traçado

Esta é uma situação específica de jogo, que ocorre quando os adversários se encontram muito juntos, onde não há possibilidade de aproveitar o comprimento total do pau. Deste modo, os jogadores obtêm o máximo de eficácia com um comprimento mínimo de vara. Caracteriza-se essencialmente pelo seguinte:

a) o pau é seguro a meio com as duas mãos afastadas, usando-se indiferentemente qualquer das pontas livres para atacar ou defender;

b) os ataques e as defesas, muito semelhantes entre si, são executados sempre directamente e nunca em rotação;

c) as defesas são sempre rijas e executadas em sentido contrário aos ataques.

NOTA. - Em tudo o que se refere neste capítulo, é de fundamental importância a questão do controlo do ataque, quando o jogo é praticado sem qualquer protecção artificial. Esse controlo deve ser feito encurtando, desviando, retardando, ou mesmo não desferindo as pancadas.

VII. DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA

1. Contra-jogo

Jogo (combate) em que apenas se opõem dois jogadores.

2. Séries de jogo

Conjunto de formas de treino individual em que o jogador simula combates imaginários, também apenas contra um único adversário.

3. Jogos de conjunto

Jogos em que um ou dois jogadores enfrentam sempre um número superior de atacantes, dos quais aprendem a defender-se, mediante um trabalho específico do pau, coordenado com movimentos de pernas adaptados às diferentes situações do combate. Aqui se incluem os seguintes jogos:

3.1. Jogo de dois em frente

Um jogador enfrenta dois adversários.

3.2. Jogo de três em frente

Um jogador enfrenta três adversários.

3.3. Jogo do meio ou da roda

Um ou dois jogadores enfrentam um grande número de adversários. No caso de serem dois contra vários, usa-se a técnica designada por costas com costas.

Incluído também nestes jogos de conjunto contra vários adversários, existe um sistema de treino individual composto por diversas formas de combate. Nestas, o jogador simula um combate imaginário contra os seus oponentes colocados em vários ângulos de ataque. As formas mais conhecidas são os jogos de cruz, o jogo das varrimentas e os jogos de quadrado.

NOTA. - Estes tipos de jogos de conjunto serão definidos na 2a. parte do léxico do jogo do pau português.

VIII. COMPETIÇÃO

Incide unicamente sobre o contra-jogo que, conforme já referido, é aquele em que se opõem apenas dois adversários em jogo livre, podendo qualquer deles utilizar todos os seus recursos técnicos para atingir o antagonista.

No âmbito da FNJPP, já desde há anos se permite a realização de competições do jogo do pau, graças à criação e à existência de protecções corporais e de varas artificiais, devidamente adequadas. Todas são de material leve e seguro. De outro modo seria impossível tal realização, visto que os seus golpes se revestem de extrema eficácia.

Os combates, que decorrem na área de uma circunferência com 8 metros de diâmetro, são divididos em três períodos de 1 minuto intervalados de 30 segundos.

A cada toque válido corresponde sempre, e só, 1 ponto, para além de apenas serem permitidas 3 advertências. Findo o tempo normal, e se não tiver sido encontrado um vencedor, pode o combate prolongar-se pelo período de 1 minuto, e ainda mais outro de tempo indeterminado, até se encontrar aquele, já que não podem existir empates.

As competições são dirigidas globalmente por uma mesa (director de prova, secretários e cronometrista) e os combates directamente por um júri de campo (juiz-árbitro, 4 juizes de pontuar e 1 fiscal de zona). »

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