Artigo: O Manilha - Uma Espera em Velhos Tempo

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: Uma Espera em Velhos Tempo
  • Autor: José Afonso Quintas Neves
  • Publicação: in Cultura e Arte, página cultural de «O Comércio do Porto», ano XX, supl. nº 14, Porto, 8, VI, 1971, p.16


Infelizmente não possuímos o artigo escrito por Quintas Neves sobre o «Manilha», no entanto, Ernesto Veiga de Oliveira no seu artigo Festividades Cíclicas em Portugal cita alguns excertos deste artigo.

Resumo

No artigo, o protagonista chamado João Afonso, conhecido por "Manilha", depara-se com três oponentes enquanto atravessa um caminho. Liderados pelo seu rival no amor, eles tentam proibi-lo de voltar à freguesia. Manilha escolhe um estilo de jogo curto e habilidoso, conhecido como "quingosto". Consegue derrotar os oponentes um a um, usando estratégias inteligentes e defesas hábeis. Mesmo diante da pressão, Manilha evita estratégias arriscadas para não prejudicar os seus planos de visitar a sua amada na localidade. Manilha usa movimentos amplos e táticas astutas para enfraquecer os oponentes. Eventualmente, os oponentes rendem-se, entregando as suas varas a Manilha. Com um gesto de respeito, Manilha junta a sua vara às deles e observa os oponentes derrotados a afastarem-se, enquanto ele permanece calmo e confiante.

É referenciado no artigo o lugar "Souto das Carvalheiras", onde foram dadas aulas de Jogo do Pau, este lugar fica em Junqueira, Vila do Conde. Hoje conhecido por "Quinta das Carvalheiras".

Artigo

« É ainda de Quintas Neves. o «Manilha», a que já aludimos, a quem saltam ao caminho três contendores, chefiados pelo seu rival em amores, para o proibir de põe mais os pés na freguesia. O caminho, apesar de largo, não lhe permitia, contudo, alargar-se num varrimento capaz de formar terreiro onde pudesse desenvolver um jogo largo, sem surpresas prejudiciais. Optou pelo jogo curto, o jogo da quingosto, bem cingido ao corpo, em movimentos de boa cobertura, onde a vara era uma barreira móvel. No primeiro tempo reuniu os adversários numa só frente. ficando desta forma sem preocupações de cobrir a retaguarda; e ao primeiro que se adiantou, bem quadrado no comprimento dos paus, traçou-lhe a defesa num falsete de mestre, que o separou desarmado da contenda. Os dois restantes, um dos quais novato a quem tinha ensinado alguns rudimentos do jogo, perderam a coragem e já só jogavam processando uma defesa hesitante. Mas o «Manilha», a quem não convinha deixar de visitar a localidade porque gostava a valer da namorada, não queria molhar a vara e, como numa das sua aulas no Souto das Carvalheiras, entreteve-se paulatinamente a cansar-lhe os braços e o corpo em movimentos mais largos do jogo da cruz. Decorrido pouco, tempo, os dois adversários a quem, como ao primeiro, não incitava o ciúme, estavam encostados a um dos muros laterais, derrotados e já sem forças, quando um largo vira-costas de amplos movimentos circulares, o atacado se aproximou procurando num sarilho, em que era exímio, atordoar os dois antagonistas. Não foi preciso mais: os dois, num movimento unânime, hirtos, contra a parede, atiraram aos pés do João Afonso os seus varapaus, ficando, de braços cruzados, à espera da reacção do considerado jogador. Esta não se fez esperar: num salto ligeiro, recuando cerca de dois passos, juntou, num gesto cheio de nobreza, a sua vara à dos dois vencidos, e assistiu, em posição e atitude de calma simpatia, à retirada dos dois, cabisbaixos e curvados... »

Ver também

Referências