Livro: A Triste Canção do Sul
Sobre
- Autor: Alberto Pimentel
- Publicação: Lisboa: Livraria Central de Gomes de Carvalho, 1904
- Formato: 320 páginas
1904. Lisboa agitava-se com o Ultimato Inglês e com a polémica dos adiantamentos à Casa Real.
Na rua, as manifestações e a cultura popular misturavam-se, dando origem às letras anarco-sindicalistas no meio fadísticos.
No ano anterior, a História do Fado tinha saído para as estantes, à qual se seguiu A Triste Canção do Sul.
Desta vez foi o historiador académico que ganhou ao jornalista: Pimentel valorizou as citações de outros autores em detrimento da vivacidade do estilo e da narrativa de Pinto de Carvalho. [1]
Excerto da obra
O historiador relata uma história de dois jogadores de pau, o Conde de Vimioso e o seu amigo João Nunes Vizeu:
« (...)as classes populares adoravam o Conde de Vimioso, que as tratava sem preoccupaçoes hierarchicas, e que se distinguia pela exteriorisação de qualidades que muito deslumbram o critério pouco intellectual do povo: a valentia, a coragem, o primor da guitarra e do toureio.(...) Foi por occasião da feira do Campo Grande. A que distancia já ficam hoje estas bravas tunantadas portuguezas, e que mal se podem comprehender agora! Raça de Hercules, no acerto ou na loucura, quebra- mos: agora estamos a pedir funda. O povo levantou celeuma contra os dois pimpões, mas não ouzava affrontalos, porque algum saloio que investia, recuava ganindo, deslombado. Com o Conde de Vimioso estavam almoçando n'essa occasião o sr. Miguel Queriol e João Nunes Vizeu. Ouviram o borborinho que vinha da alameda, informaram-se da occorrencia, e não tiveram um momento de hesitação. Narra o sr. Queriol, sem faltar de si mesmo, mas certamente que não deixou de molhar a sua sopa, porque era muito desembaraçado :
Todos estes predicados davam prestigio, faziam lenda ao conde no conceito popular. Pode imaginar se a ovação de que elle seria alvo n'aquella manhã do Campo Grande, quando varreu os dois alcides que varriam a feira. (pp.173) » |
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