Livro: Etnografia Portuguesa 1975
Sobre
- Relevância: ★★★
- Título: Etnografia Portuguesa - Tentame de sistematização - volume VI
- Autor: J. Leite De Vasconcelos
- Publicação: Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1975
- Formato: 29x20 cm
Importantíssima e muito estimada colectânea de estudos etnográficos de Leite de Vasconcelos, organizado por M. Viegas Guerreiro, com colaboração de Alda da Silva Soromelho e Paulo Caratão Soromelho.
É sem dúvida o mais fecundo e considerado autor de quantos se dedicaram ao estudo da nossa etnografia. “A nossa vida colectiva, material e espiritual, do século VIII aos nossos dias é o que esta obra se propõem a contar, complementando assim o panorama traçado um pouco sumariamente embora nas «Religiões da Lusitânia».
Trabalho documentado com dezenas de estampas impressas nas páginas do texto. [1]
Podemos encontrar neste livro vários significados para armas, onde o pau está bastante presente, nas suas várias variações.
Excertos da obra
(...) Asas de pau - O mesmo que varapau, em sentido figurado (Bragança). (...) Bardasca - Nome pomposo do pau (Barroso). (...) Bastão - Bengala ou bordão (Lamego). Bengala - Arrimar-se um homem a um pau, para se encostar, para se defender ou atacar um inimigo, é gesto natural. Um simples pau tosco pode servir, e pode ser apurado e ainda bem arranjado para se vender nas feiras: transforma-se assim na bengala do povo, imitada das que a civilização criou. Em principio, a bengala é um cajado ou pau mais delicado, e maior do que a bengala ordinária. Em Tolosa, a bengala é de qualquer altura, mas de marmeleiro. Tem o feitio de uma cacheira, porém mais cuidada e mais grossa para baixo. Se o cajado ou bordão tem volta, pode logo ter o nome de bengala. No Peral, dizem yingala, designando assim uma haste, geralmente de marmeleiro, que verga na extremidade mais delgada, formando uma argola. Em Alandroal, a bengala ou bordoa é mais delgada do que o bordão, e pode ou não ter correia para suspensão. Em Castelo Branco, a bengala ou cachamola é listrada de preto, o que se consegue da forma seguinte; retira-se uma tira (correia) de trovisco, enrola-se ao pau em hélice, deixando um intervalo da largura da correia; passa-se pelo lume, queimando-se o pau e ficando branco o espaço onde estava a correia, e listas pretas onde se queimou. A bengala é também chamada garrote em Cacela e é menor que o cajado.[2] Bengalão - Bengala grossa. Bengalo - Pau com uma extremidade delgada e outra grossa (Évora). Bordão - Característica do peregrino e do mendigo. Pau grosso e liso, que toma o nome de bengala sendo mais delgado; é também mais comprido que as bengalas das cidades. Em Vila Real de Trás-os-Montes, é um pau de grossura meã; e em Monchique, onde usam pouco os arrimos, chamam bordão a um pau qualquer para trazer na mão, e em Cacela é o mesmo que varapau (em 1896). Dá-se, na Terceira, o nome de «bordões» a varapaus bastante fortes e mui pouco flexíveis, de que os camponeses se fazem acompanhar para as romarias e principalmente para as «touradas de corda», onde são utilizados para auxiliar os respectivos donos a, num ápice e com um salto rápido, se porem em cima de qualquer muro e a distância respeitável do cornúpeto. São, no geral, guarnecidos na extremidade inferior de uma ponta de ferro maciço, de forma cónica, e a superior está revestida de uma ponteira de metal branco ou amarelo, cheia de desenhos ou rendilhados. O bordão é quase sempre inferior a 2 m e poucas vezes excederá a altura do homem. Pelo contrário, as caguilhadas», especialmente destinadas aos condutores gado bovino, são delgadas e bastante longas, chégando a ter mais de 3 m de comprimento. O processo de preparação do bordão é o seguinte: 1) Depois de cortada, deixa-se a madeira estar uns dias a murchar; em seguida submete-se ao fogo para a endireitar e cortam-se os nós. 2) Envolve-se a vara numa pasta de cal e urina e assim se enterra durante vinte e quatro horas, tendo o cuidado de a deixar bem coberta de terra. 3) Acaba de se limpar da casca e alisar os nós. Passa-se repetidas vezes a vara com um pano embebido em azeite. As madeiras mais vulgares são: nespereira, laranjeira, «negrito», buxo, marmeleiro e araçá (das melhores). O bordão tem múltiplas referências literárias: «Amor anda pelo tino, || Que he cego, não traz bordão ...» (X. de Matos, II, 30g.); «Romeiro, apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal...» (Garrett, Obras, ed. de 1899, p. 90); «O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha...», (Eça de Queirós, Contos, ed. de 1907, p. 336); «Uns de voz rouca, grandes bordões, || Quem sabe lá se serão ladrões!...» (Guerra Junqueiro, Os Simples, ed. de 1892, p. 102.) Bregueiro - Nome pomposo de varapau (Barroso). (...) Cacete - Pau para arrimo (Coja, Minde, Mangualde), quando se sai da povoação; os paus podem ser de marmeleiro, lódão, tojo, sobreiro; a designação também se usa em Bragança. No Peral é menor do que o cajado, e no Barroso também; em Mondim designa uma vara grossa. É igualmente o nome de um tipo de bolo, especialidade de Paço de Arcos. (...) Cachamorra - Eufemismo (Cadaval, Lamego, etc.); vid. «Cachaporra». Cachaporra - Nome mais vulgarmente empregado num momento de ira ou de ameaça; não define a forma ou a matéria do instrumento: cacete, pau, etc; é muito usado no concelho do Cadaval, e também em Lamego. Recorde-se o provérbio: «Quem deserda antes que morra Merece com uma cachaporra». (Passim). Cacheira - Pau encurvado na parte que anda no chão (Avis); designação usada em Arez, Lamego. Tem o radical em cacho; é o mesmo que moca: a saliência é a cachamorra (eufemismo), quando grande («A cacheira tem uma grande cachamorra»); à cacheira pequena chama-se cacheirinha. Em Baião chamam cacheira ao que no Sul chamam cajado. Em Alandroal o boieiro usa a cacheira (cuja extremidade é a môna ou moca), mas há também a cacheira «de a gente se arrimar» (cachamorra), com a extremidade engrossada com feitio de bola (fig. 450). Cacheiro - Em Alandroal a vara deve ser engenhosa para, quando atirada ao gado (ovelhas e cabras) pelo pastor, não o magoar; à extremidade chama-se volta; também se diz em Arez. (...) Cajado - Vara torta e nodosa (Mondim) (fig. 451); o mesmo que varapau ou cacete, etc., no Peral; serve de encosto aos pastores e constitui símbolo da vida pastoril, citado frequentemente na literara dos séculos XVI, XVII e XVIII; também chamado cachaporra, em linguagem chula, feito de pau ordinário e grosso; quando forma ângulo em cima chama-se cajado de forca ou pau de forca (Ubi?); os
campónios (por exemplo em Évora) usam-no, quando vão à feira; em Tolosa pode ser de castanho, azinho ou carvalho e é adaptado altura de quem o usa; em Alandroal é frequente ouvir-se gajado or cajado. Cajata - Pau delgado a que se encostam as velhinhas (Barroso). Cajato - O mesmo que cajado. Choupa - Pau de anéis naturais como o junco, que tem na parte inferior uma argola de metal amarelo, com ferrão de ferro; na parte superior, um canudo também de metal amarelo, com o comprimento de cerca de um palmo, com ou sem punhal. Chuço - Tem em cima, oculta, uma ferragem, espécie de faca (Mondim). Estadulho - Pau grosseiro, cacete, fueiro (Lamego, Bragança). (...) Faia - Pau sem nós, muito direito, alisado e bastante vergável (Lamego e Bragança). (...) Lambeiro - Varapau (Lamego). Lódão - Espécie de vara, feita de lódão. Lodo - Pau das festas, feito da árvore do mesmo nome (Barroso). Lombeiro ou lombreiro - Varapau (Bragança). Moca - É a parte inferior arredondada (nó da árvore) do cajado ou da bengala, que também se chama morra (leia-se mórra); também designa o cacete pequeno e grosso numa extremidade; usa-se de noite, escondido debaixo do capote, para maus fins (Mangualde, Nelas, Mondim, Barroso). Muleto - Cajado (ou bengala) tosco e grosso (Beja). Pau - Designação genérica. Pau de ferrão, com choupa em cima ou sem ela; pau de alquilador, com uma argola em cima, feita da própria vara, para os cavaleiros trazerem, pendurado no braço; também em vez de argola pode ter correia. No Peral, o mesmo que cajado. (...) Porreto - Varapau (Coja, Minde); pau com saliência em baixo, com correia na parte superior, para enfiar no braço, debaixo do capote, para usar em caso de ocorrência nocturna; com 0,47 cm (Tolosa, 1929). Porrinha - Pau pequeno. Queijato - Cajado (Trancoso). Racha - Cacete (Marco de Canaveses). Ouvi em Coimbra, para designar uma haste, de 1,5 m de comprimento pouco mais ou menos, lisa, por ser muito aplainada, e em geral feita de lódão. Tira-teimas - Qualquer pau, em sentido figurado (Bragança), No Barroso também lhe chamam quebra-nozes, tira-birras e tira-dentes. (...) Vara - Tem como caracteristica o vergar (Algarve, 1896). Varapau Liso; ferrado em baixo (metal amarelo, aço e chumbo); ferrado em baixo e em cima, com chuça ou choupa, que é protegida por uma bainha móvel (Coja, Minde). Pau qualquer, sem forma nem tamanho definidos. Não ouvi este termo no Peral, mas ouvi-o em muitos outros sítios com a significação de cacete, cajado, etc. Em Mangualde e Nelas, é um pouco comprido, maior do que o cacete, No Barroso, é um pau grande e grosso. Em Mondim, é uma vara mais alta do que um homem e serve para arrimo. Quando se entra em casa, deixa-se o varapau cá fora. Parece que alude a isto Soropita (1589, pp. 21), falando do Convento de Palmela: «Para maior nobreza da casa, andam nela ao pairo alguns da cavalaria da Ordem, que põem [as armas] de fora, como no jogo de paus, e para estes há aí aposentos, de fora, separados.» Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires (ed. de 1904), p. 188: «Depois, com uma cólera em que lhe tremiam os beiços brancos, lhe tremiam as secas mãos cabeludas, fincadas ao cabo do varapau...» Vergueiro - O mesmo que varapau (Sernancelhe). (...) |
Separata da obra
Ver também
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Referências
- ↑ https://www.livraria-ler-com-gosto.com/etnografia-portuguesa-tentame-de-sistematizacao-vol-i
- ↑ Etnografia Portuguesa - Tentame de sistematização - volume VI (ver mais)