Livro: Etnografia Portuguesa 1975

Fonte: Jogo do Pau Português
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capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: Etnografia Portuguesa - Tentame de sistematização - volume VI
  • Autor: J. Leite De Vasconcelos
  • Publicação: Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1975


Podemos encontrar neste livro vários significados para armas, onde o varapau, bastão e a bengala por exemplo, têm uma vasta explicação.

Excertos da obra

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Asas de pau - O mesmo que varapau, em sentido figurado (Bragança).

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Bardasca - Nome pomposo do pau (Barroso).

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Bastão - Bengala ou bordão (Lamego).

Bengala - Arrimar-se um homem a um pau, para se encostar, para se defender ou atacar um inimigo, é gesto natural. Um simples pau tosco pode servir, e pode ser apurado e ainda bem arranjado para se vender nas feiras: transforma-se assim na bengala do povo, imitada das que a civilização criou.

Em principio, a bengala é um cajado ou pau mais delicado, e maior do que a bengala ordinária. Em Tolosa, a bengala é de qualquer altura, mas de marmeleiro. Tem o feitio de uma cacheira, porém mais cuidada e mais grossa para baixo. Se o cajado ou bordão tem volta, pode logo ter o nome de bengala. No Peral, dizem yingala, designando assim uma haste, geralmente de marmeleiro, que verga na extremidade mais delgada, formando uma argola. Em Alandroal, a bengala ou bordoa é mais delgada do que o bordão, e pode ou não ter correia para suspensão. Em Castelo Branco, a bengala ou cachamola é listrada de preto, o que se consegue da forma seguinte; retira-se uma tira (correia) de trovisco, enrola-se ao pau em hélice, deixando um intervalo da largura da correia; passa-se pelo lume, queimando-se o pau e ficando branco o espaço onde estava a correia, e listas pretas onde se queimou. A bengala é também chamada gar- rote em Cacela e é menor que o cajado.

Bengalão - Bengala grossa.

Bengalo - Pau com uma extremidade delgada e outra grossa (Évora).

Bordão - Característica do peregrino e do mendigo. Pau grosso e liso, que toma o nome de bengala sendo mais delgado; é também mais comprido que as bengalas das cidades. Em Vila Real de Trás-os-Montes, é um pau de grossura meã; e em Monchique, onde usam pouco os arrimos, chamam bordão a um pau qualquer para trazer na mão, e em Cacela é o mesmo que varapau (em 1896). Dá-se, na Terceira, o nome de «bordões» a varapaus bastante fortes e mui pouco flexíveis, de que os camponeses se fazem acompanhar para as romarias e principalmente para as «touradas de corda», onde são utilizados para auxiliar os respectivos donos a, num ápice e com um salto rápido, se porem em cima de qualquer muro e a distância respeitável do cornúpeto. São, no geral, guarnecidos na extremidade inferior de uma ponta de ferro maciço, de forma cónica, e a superior está revestida de uma ponteira de metal branco ou amarelo, cheia de desenhos ou rendilhados. O bordão é quase sempre inferior a 2 m e poucas vezes excederá a altura do homem. Pelo contrário, as caguilhadas», especialmente destinadas aos condutores gado bovino, são delgadas e bastante longas, chégando a ter mais de 3 m de comprimento. O processo de preparação do bordão é o seguinte: 1) Depois de cortada, deixa-se a madeira estar uns dias a murchar; em seguida submete-se ao fogo para a endireitar e cortam-se os nós. 2) Envolve-se a vara numa pasta de cal e urina e assim se enterra durante vinte e quatro horas, tendo o cuidado de a deixar bem coberta de terra. 3) Acaba de se limpar da casca e alisar os nós. Passa-se repetidas vezes a vara com um pano embebido em azeite. As madeiras mais vulgares são: nespereira, laranjeira, «negrito», buxo, marmeleiro e araçá (das melhores). O bordão tem múltiplas referências literárias: «Amor anda pelo tino, || Que he cego, não traz bordão ...» (X. de Matos, II, 30g.); «Romeiro, apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal...» (Garrett, Obras, ed. de 1899, p. 90); «O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha...», (Eça de Queirós, Contos, ed. de 1907, p. 336); «Uns de voz rouca, grandes bordões, || Quem sabe lá se serão ladrões!...» (Guerra Junqueiro, Os Simples, ed. de 1892, p. 102.)

Bregueiro - Nome pomposo de varapau (Barroso).

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Cacete - Pau para arrimo (Coja, Minde, Mangualde), quando se sai da povoação; os paus podem ser de marmeleiro, lódão, tojo, sobreiro; a designação também se usa em Bragança. No Peral é menor do que o cajado, e no Barroso também; em Mondim designa uma vara grossa. É igualmente o nome de um tipo de bolo, especialidade de Paço de Arcos.

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Cachamorra - Eufemismo (Cadaval, Lamego, etc.); vid. «Cachaporra».

Cachaporra - Nome mais vulgarmente empregado num momento de ira ou de ameaça; não define a forma ou a matéria do instrumento: cacete, pau, etc; é muito usado no concelho do Cadaval, e também em Lamego. Recorde-se o provérbio: «Quem deserda antes que morra Merece com uma cachaporra». (Passim).

Cacheira - Pau encurvado na parte que anda no chão (Avis); designação usada em Arez, Lamego. Tem o radical em cacho; é o mesmo que moca: a saliência é a cachamorra (eufemismo), quando grande («A cacheira tem uma grande cachamorra»); à cacheira pequena chama-se cacheirinha. Em Baião chamam cacheira ao que no Sul chamam cajado. Em Alandroal o boieiro usa a cacheira (cuja extremidade é a môna ou moca), mas há também a cacheira «de a gente se arrimar» (cachamorra), com a extremidade engrossada com feitio de bola (fig. 450).

Cacheiro - Em Alandroal a vara deve ser engenhosa para, quando atirada ao gado (ovelhas e cabras) pelo pastor, não o magoar; à extremidade chama-se volta; também se diz em Arez.

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Separata da obra

Ver também