Livro: História, Cultura e Tradições das Alcanadas

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: História, Cultura e Tradições das Alcanadas
  • ISBN: 972-95122-7-2
  • Autor: José Baptista de Matos
  • Publicação: Câmara Municipal da Batalha, agosto de 2005
  • Formato: 142 pág. (15 x 21 cm)


História, Cultura e Tradições das Alcanadas reúne um conjunto de escritos de José Baptista de Matos, emigrante e um dos filhos ilustres desta localidade, que diz respeito a temáticas diversificadas e resultam das suas “conversas” com os habitantes daquela aldeia do Concelho da Batalha.

Esta publicação, integrada na colectânea Terraços de Memória, coordenada pelo Arquivo Histórico Municipal, assume-se como um retrato pessoal por parte do autor, do local onde habita, possibilitando aos leitores o conhecimento das vivências, dos usos e costumes, das lendas e dos hábitos da laboriosa população de Alcanadas.[1]

Resumo

Até 1950, a aldeia de Alcanadas mantinham viva a tradição do jogo do pau. O Pau fazia parte da vida diária, usado para jogos e defesa pessoal. Nas missas e festas, os rapazes exibiam os seus paus de diferentes madeiras. Mestres como Zézico e Alfredo Trovão eram admirados pelas suas habilidades e desempenhavam um papel importante na ordem pública. Os encontros de jogo do pau aconteciam nas Cabeçadas, local arborizado, atraindo multidões interessadas. Esta tradição, enraizada na cultura local, simbolizava destreza, masculinidade e coesão comunitária.

Excertos da obra

« O Jogo do Pau

Perdeu-se, a partir de 1950, este jogo da arte marcial- o jogo do pau - praticado com muita mestria nesta terra desde tempos imemoriais.

Os paus faziam parte da vida quotidiana e eram usados especialmente nos jogos e para defesa individual dos homens. Era usual e, cada homem que se prezava, tinha em casa um pau de marmeleiro ou zambujeiro e, mais tarde, mais finamente, um de junqueiro.

Aos Domingos e nos dias de festa, na missa ou nos bailes, cada rapaz levava o seu marmeleiro (pau da árvore que dá frutos de marmelo), curado previamente, no forno quente e untado com azeite, o que lhe dava uma cor acastanhada e luzidia. E, era melhor ainda, se tivesse duas barrigas na base, a fim de, no caso de zaragata, servir para pôr fora de combate o adversário directo do seu dono.

As gentes das Alcanadas, antes de 1950, iam à missa ao Alqueidão da Serra, à Batalha ou ao Reguengo do Fètal. Os cacetes ou eram deitados à entrada da porta principal das igrejas ou entravam para dentro da igreja com os seus donos agarrados a eles, assistindo às cerimónias - enquanto estes se ajoelhavam e curvavam, com os cacetes nas mãos. Como se dizia na época, parecia um arvoredo de cacetes, dentro da igreja, quando todos se ajoelhavam.

Faziam parte da vida de cada um e ninguém reparava no facto, a não ser aquele que se aproveitava da ocasião para fazer uma malandrice.

Aquando das festas anuais, servia muito mais vezes, dado o consumo exagerado de vinho, aliado à vontade de se vingar a supremacia das aldeias - e havia, de vez em quando, "arraiais de pancadaria", que acabavam sempre em cabeças rachadas, para além de esse ser o momento ideal para os artistas do jogo do pau mostrarem as suas qualidades.

Houve, desde sempre, artistas exímios nas Alcanadas, especialmente a partir do começo do século XX.

Temos ainda hoje vivos, homens que participaram nas décadas de 1910 a 1950, nestes jogos.

O José da Silva Franco (Zézico), o Alfredo Trovão e outros, eram exímios jogadores de pau, fazendo, nessas épocas, a admiração e a inveja de muitos jovens alcanadensés e das aldeias vizinhas. Eles dominavam e eram, ao mesmo tempo, os garantes da manutenção da ordem cívica nas festas e em bailes populares, não somente na aldeia mas também nas aldeias circunvizinhas.

Dada a admiração pela fineza que demonstraram na arte de esquivar o pau e o corpo das pancadas do adversário, de tempos a tempos faziam encontros ou desafios do jogo do pau entre os mais cotados, escolhendo-se sítios afastados da aldeia e as Cabeçadas era o local escolhido.

As Cabeçadas são um sítio frondoso e verde, cheio de carvalhos, eucaliptos, oliveiras e outros arbustos onde se respira a tranquilidade e, portanto, propício aos combates das artes marciais, onde os actores tinham necessidade de concentração máxima a fim de não receberem uma pancada durante os jogos.

Estes desenrolavam-se quase sempre com a assistência de muita gente, especialmente jovens, que naturalmente queriam ver e aprender esta arte defensiva que nessas épocas era realmente nobre e selectiva.

Era tanto selectiva que bastavam dois ou três exímios jogadores de pau, durante as festas anuais das Alcanadas, em honra da Senhora do Ó ou de S. Mateus, para, em caso de desacato, varrerem aqueles que, vindo de fora da terra para fazerem reboliço, eram obe gados a ter que se portar bem ou, em caso mais drástion, a "hater com os pés no cú e abularem" a correr para as suas aldeias Ainda nos lembram disso. »

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Referências