Livro: Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

Fonte: Jogo do Pau Português
Revisão em 22h27min de 14 de agosto de 2023 por Wikijpp (discussão | contribs) (→‎Resumo)
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança
  • Autor: Padre F. Manuel Alves (1865-1947)
  • Publicação: Porto: Tipografia a Vapor da Empresa Guedes, 1910
  • Formato 401 páginas


Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança ou repositorio amplo de noticias chorographicas, hydro-orographicas, geologicas, mineralogicas, hydrologicas, biobliographicas, heráldicas, etymologicas, industriaes e estatisticas interessantes tanto à historia profana como ecclesiastica do districto de Bragança. Composto por 11 Volumes.

O Abade de Baçal foi o padre e historiador português Francisco Manuel Alves, nascido em Bragança, Portugal, em 1864 e falecido em 1947. Ele ficou conhecido como Abade de Baçal por ter sido pároco na freguesia de Baçal, no distrito de Bragança. Dedicou a sua vida a recolher testemunhos arqueológicos, etnológicos e históricos respeitantes à região de Trás-os-Montes e, especialmente ao distrito de Bragança. Autodidacta erudito, rústico e pitoresco.[1]

Resumo

Podemos encontrar no 1.º Tomo (Porto, Typographia a Vapor da Empresa Guedes, 1909), relatos do abade de Baçal, sobre lutas entre aldeias rivais, relativos a finais do século XIX e princípios do século XX, uma das quais chegou a durar um dia e uma noite e fez muitos mortos e feridos. [2]

Podemos encontrar no 7.º Tomo (Os notáveis - Porto: Tipografia da Empresa Guedes, 1931), Canedo, um "varredor" de feiras e romarias nos séculos passados. Era um brigão notável, natural de Santulhão, concelho de Vimioso, que eventualmente encontrou o seu fim num motim durante a romaria do Santo Antão da Barca, no concelho de Alfândega da Fé, em 1902.[3]

Excertos

« Foi o condestável, com a sua gente, demandar a Torre de Moncorvo, onde foram recebidos com delirante entusiasmo, por aqueles povos se verem livres das devastações dos castelhanos, que, senhores das praças de Chaves e Bragança, onde acoitavam os roubos, assolavam aquela região, obrigando frequentemente seus moradores a passarem da enchada ou fouce à espada, lança e chuço, quando não era a clássica roçadoura ou bordão de carvalho. No dia seguinte marcharam para o vale da Vilariça ou Valariça, como escreve Fernão Lopes, onde el-rei veio reunir-se, o que deve ter tido lugar pelos 15 de Maio de l386 (...) »
(Tomo I - Página 70)

« A 22 de Março de 1868 fizeram-se as eleições de deputados. Pelo círculo de Vinhais (...) Houve protesto contra o acto eleitoral de Penhas Juntas e Vinhais. O desta última fundava-se em que não tinha havido liberdade na urna porque nos dias anteriores ao da eleição o administrador do concelho (...)

(...) que à contagem das listas levantaram grande tumulto e vozeria no adro da igreja e às portas da Assembleia vários empregados e agentes do administrador, armados todos de machados, paus, fouces-roçadouras e bacamartes, armando-se o próprio administrador com uma fouce-roçadoura e seu irmão com um grande facalhão; (...)

Ao terminar esta irregularissima operação (a do apuramento dos votos) uma horda de selvagens de Moimenta, armados de paus ferrados e fouces-roçadouras, invadiu o templo sem respeito pela religião nem consideração pela vida dos seus concidadãos, quebrou para cima de trinta cabeças, havendo mais de cem ferimentos e muitos braços fracturados. »
(Tomo I - Página 223-225)

« Os de Moimenta bramem frementes de indignação; os que estavam dentro da igreja tentam fechar as portas, mas em vão; dezenas de estadulhos, roçadouras e paus ferrados já ficam entalados entre as duas folhas, que por último cedem aos impulsos da força indómita que os sacode e aquela turbamulta entra ululante, blasfema, sacrílega no lugar sagrado, despedindo pancadas, facadas, tiros e socos em quem encontra. »
(Tomo I - Página 228)

« Parada e Pinela

No domingo, 11 de Agosto de 1895, os habitantes de Paredes, no concelho de Bragança, fizeram uma festa e juntamente uma representação. Os da Parada e Penela, que já andavam rixosos, vieram às mãos desancando-se fortemente à bordoada e a tiros de armas de fogo, ficando feridos dezoito homens de Parada.[4] »
(Tomo I - Página 231)

« Carção e Santulhão

É antiga a rivalidade entre estas duas povoações. Ultimamente, porém, havia já passante de quarenta anos que se davam bem. Mas em Junho de 1901 quiseram bater, em Santulhão, num homem de Carção e depois, como desforço tundiram nesta povoação um dos tais pretensos batedores. Na feira de Izeda de 26 de Julho tornaram-lhe a jeira, espancando um de Carção.

Na festa da Senhora das Graças, os de Santulhão vieram armados com paus e fouces, mas como os não deixassem entrar senão desarmados retiraram sem querer assistir à festa. Passados dias, foram três homens de Santulhão a Carção, dizem que por aposta, pimponice de valentões, mas foram espancados fortemente. Chegadas assim as coisas ao ponto de tensão máxima, os de Santulhão no dia 1 de Setembro desse ano de 1901 resolvem ir sobre os seus rivais, armados de paus, foices, armas de fogo, etc. Apenas a notícia corre em Carção, tocam os sinos a rebate e tudo, até mulheres e velhos, marcha ao encontro dos invasores que encontram nas eiras de S. Roque. Ferve a pancadaria: um de Santulhão cai logo morto e outro gravemente ferido, e só então é que os desta povoação retiram perseguidos até às marras do termo. De parte a parte o número dos feridos foi avultado. »
(Página 231-232)

« Entre as povoações dos Olmos e Lombo, por um lado, Peredo e Chacim, pelo outro, houve rija pancadaria na romaria de Balsemão, no dia 9 de Agosto de 1902. O barulho durou quase vinte e quatro horas, havendo mortos e subindo a algumas dezenas o número dos feridos »
(Tomo I - Página 233)

« A 1 de Maio de 1834 organizou o pároco de Algoso, juntamente com o capitão-mor da mesma vila, uma guerrilha intitulada Reunião Restauradora dos Direitos de Miguel I, composta de uns duzentos homens armados de espingardas, paus e roçadouras, que atacou no dia 3 a vila de Algoso, onde aclamou D. Miguel e depôs as autoridades constitucionais «afixando as Proclamações do nosso Monarca nos pelourinhos e portas das igrejas». Marcharam seguidamente à cidade de Miranda, que se entregou sem resistência, no dia 4, mas no dia seguinte o governador da praça auxiliado por duzentos carabineiros espanhóis, pelos guerrilhas de Bragança, e de Freixo de Espada à Cinta, à qual pediu auxílio, atacou os miguelistas e retomou a praça, após um ataque de três horas, pondo-os em fuga desordenada e perseguindo-os até à Coitada, entre Macedinho e Bagueixe, onde os derrotaram e a guerrilha se desfez completamente, escapando o capitão-mor em cima de um negrilho em Sanceriz e o padre debaixo de uma cama em Bagueixe se bem que por pouco tempo, pois foi preso e a 19 de Maio desse ano de 1834 dava entrada na cadeia de Bragança, donde a 19 de Junho seguinte foi removido para a Relação do Porto e lá esteve até 20 de Outubro de 1835. »
(Tomo VIII - Página 16)

Ver também

Referências

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Abade_de_Ba%C3%A7al
  2. Livro "O sangue e a rua : elementos para uma antropologia da violência em Portugal (1926-1946) (ver mais)
  3. Livro «Cancioneiro Tradicional e Danças Populares Mirandesas» de 1984 (ver mais)
  4. Gazeta de Bragança de 20 de Agosto de 1895 e O Nordeste do mesmo dia