Livro: Novelas do Minho

Fonte: Jogo do Pau Português
capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Título: Novelas do Minho
  • Autor: Camilo Castelo Branco (1825-1890)
  • Publicação: Livraria Editora de Mattos Moreira & Cª, Volume I, 1875


Novelas do Minho é um conjunto de novelas camilianas influenciadas pela escola realista que, como o título indica, situam-se na região do Minho.

Publicadas em Lisboa entre os anos de 1875 e 1877, as Novelas do Minho de Camilo Castelo Branco são ao que ele chama “biografias enoveladas”. Nelas, o autor fala-nos da humanidade que povoava os lugarejos mais escondidos da geografia minhota, mostrando um profundo conhecimento da realidade desta região. As Novelas do Minho apresentam-se como obra de transição, já influenciada pelo Naturalismo.[1]

Destacamos as novelas «O comendador», «O Degredado» e «Gracejos que matam», publicados no Volume I, em 1875.

Novela «O comendador»

O comendador conta a história de Belchior Bernabé, um enjeitado, i.e. uma criança abandonada pela mãe à porta da igreja. Adoptado por uma viúva, ele vive em relativa paz até se apaixonar pela filha de um homem rico, a qual ele engravida. Furioso com a desonra, o pai dela e os irmãos dele arranjam maneira de o meterem na lista de recrutamento para o exército, e tranca a filha em casa. Com a ajuda de um parente, Belchior foge para o Brasil. Vinte anos depois, regressa a Portugal com outro nome e rico. Volta à aldeia e descobre que o que se passou com a apaixonada e o filho, e arranja maneira de finalmente se casar com ela. [2]

Excerto

« Uma noite, quando um dos padres recolhia, enxergou um vulto esbatido no escuro do mural que formava o tapume da eirada sua casa, e lobrigou por entre a sebe o alvejar de uma saia a fugir. Cresceu sobre o vulto com o pau em programa de bordoada, e ouviu o estalido do peno de pistola. Susteve a pancada e perguntou:

— Quem está aí?
— Sou o Belchior Bernabé.
— Que fazes aí?
— Nada, Sr. Padre João.
— Porque te escondeste?
— Não faço mal a ninguém, Sr. Padre João.
— Mas engatilhaste uma arma de fogo! — E acercou-se dele arremetendo.— Que queres tu desta casa, enjeitado? Servem-te as minhas sobrinhas…? — E atirou-lhe um epíteto que definia a natureza da mãe incógnita.
—Sr. Padre João, olhe que, se me bate, eu, bem me custa, mas… atiro-lhe. Siga o seu caminho e deixe estar quem está quieto e manso.

Padre João Ruivo sobraçou o marmeleiro ferrado e murmurou:

—Tomo-te à minha conta, brejeiro!

E passou avante. » (pág.35)

Novela «O Degredado»

Conta a história de João do Couto, um rapaz espevitado, arruaceiro e almocreve na Samardã (Vila Real), que se apaixona pela bonita Rosa, mulher de Manuel Baptista, um barbeiro-cirurgião que o andava a tratar, e que se distinguira como bravo nas Guerras Peninsulares e amputador nas ambulâncias. [3]

Excerto

« João do Couto, se varria uma feira, nem sempre saia com a cabeça ilesa. »

« (...) valente como as armas, que por volta de 1820 jogava o pau de tal feitio que em romaria onde ele fosse, as baionetas dos soldados voavam das espingardas: e. sendo preciso. saltava por cima de um homem. e ficava em guarda com o pau atravessado-: matara dois homens. a pau e a faca. e gabava-se de ter espalhado com a ponta do pau. romarias em peso-: e. mais velho. ensinava o jogo do pau em Santiago do Cacém contra um pequeno estipendio »

« O marchante, arrancando o pau, desenroscou um canudo de cobre que escondia uma choupa de aço de mais de palmo. Manuel Baptista sacou de um dos coldres uma pistola, e esperou sem lhe erguer o cão; o destemido ébrio floreando o longo pau de lódão fez-lhe uma pontoada ao peito, da qual o salvou o cavalo empinando-se. O cirurgião engatilhou e disparou à cabeça de Joaquim Roxo, que instantaneamente caiu de borco sobre o pescoço da mula. » (pág.38)

Podemos ler ainda, que a personagem Joaquim Roxo de Adoufe, já atrás citada:

« (...) montado na sua mula e com o pau debaixo da pema esquerda. que. atacado. o arranca e faz uma pontuada ao peito do assaltante (...) » (pág.46)

Novela «Gracejos que matam»

Numa tarde de Verão, seis pessoas e o autor estão à beira-rio a conversar. Uma delas, Álvaro de Abreu tenta impressionar a prima, Irene, fazendo troça de tudo e todos. Quando finalmente alguém perde a paciência e lhe responde, ele não perdoa. Reclama um duelo para limpar a honra, mas acaba ainda mais embaraçado pois não sabe esgrimir. A prima perde o interesse por ele quando aparece um outro homem em cena e o rancor cresce ainda mais. O que se segue é a história das seis personagens, e como o destino delas é afectado pelo pequeno incidente. [4]

Excerto

« (...) Chamava-se a Narciza do «Bravo», - alcunha paterna. Até aos treze annos andava vestida de rapaz, e media-se com os mais gaiatos a trepar á grimpa de um pinheiro, no assalto nocturno ás cerejeiras, em duellos á pedrada, no jogo do pao e no murro. Era virilmente bella, e bem feita; mas os meneios adquiridos nos trajos de graçavam-na vestida de mulher. Ella mesmo olhava para si com zanga e puxava a repellões as saias esfrangalhando-se. Pinto Monteiro dava tento destes phrenesis, ria-se muito, e contava-lhe casos de mulheres portuguezas que batalharam incognitas, cobrindo os seios com arnez de ferro. » (pág.46)

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