Livro: Novelas do Minho: diferenças entre revisões
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(...) Chamava-se a Narciza do «Bravo», - alcunha paterna. Até aos treze annos andava vestida de rapaz, e media-se com os mais gaiatos a trepar á grimpa de um pinheiro, no assalto nocturno ás cerejeiras, em duellos á pedrada, no '''jogo do pao''' e no murro. Era virilmente bella, e bem feita; mas os meneios adquiridos nos trajos de graçavam-na vestida de mulher. Ella mesmo olhava para si com zanga e puxava a repellões as saias esfrangalhando-se. Pinto Monteiro dava tento destes phrenesis, ria-se muito, e contava-lhe casos de mulheres portuguezas que batalharam incognitas, cobrindo os seios com arnez de ferro. | (...) Chamava-se a Narciza do «Bravo», - alcunha paterna. Até aos treze annos andava vestida de rapaz, e media-se com os mais gaiatos a trepar á grimpa de um pinheiro, no assalto nocturno ás cerejeiras, em duellos á pedrada, no '''jogo do pao''' e no murro. Era virilmente bella, e bem feita; mas os meneios adquiridos nos trajos de graçavam-na vestida de mulher. Ella mesmo olhava para si com zanga e puxava a repellões as saias esfrangalhando-se. Pinto Monteiro dava tento destes phrenesis, ria-se muito, e contava-lhe casos de mulheres portuguezas que batalharam incognitas, cobrindo os seios com arnez de ferro. | ||
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== Novela «O comendador» == | |||
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Uma noite, quando um dos padres recolhia, enxergou um vulto esbatido no escuro do mural que formava o tapume da eirada sua casa, e lobrigou por entre a sebe o alvejar de uma saia a fugir. Cresceu sobre o vulto com o '''pau em programa de bordoada''', e ouviu o estalido do peno de pistola. Susteve a pancada e perguntou: | |||
— Quem está aí?<br> | |||
— Sou o Belchior Bernabé.<br> | |||
— Que fazes aí?<br> | |||
— Nada, Sr. Padre João.<br> | |||
— Porque te escondeste?<br> | |||
— Não faço mal a ninguém, Sr. Padre João.<br> | |||
— Mas engatilhaste uma arma de fogo! — E acercou-se dele arremetendo.— Que queres tu desta casa, enjeitado? Servem-te as minhas sobrinhas…? — E atirou-lhe um epíteto que definia a natureza da mãe incógnita.<br> | |||
—Sr. Padre João, olhe que, se me bate, eu, bem me custa, mas… atiro-lhe. Siga o seu caminho e deixe estar quem está quieto e manso. | |||
Padre João Ruivo sobraçou o '''marmeleiro ferrado''' e murmurou: | |||
—Tomo-te à minha conta, brejeiro!<br> | |||
E passou avante.<br> | |||
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Revisão das 18h25min de 22 de abril de 2021
Sobre
- Relevância: ★☆☆
- Título: Novelas do Minho - Gracejos que matam
- Autor: Camilo Castelo Branco
- Publicação: Livraria Editora de Mattos Moreira & Cª, Volume I, 1875
Novelas do Minho é o título dado por Camilo Castelo Branco a um conjunto de oito novelas suas, que se situam na sua quase totalidade no Minho. As novelas, com uma única edição em vida do autor, foram publicadas em doze volumes, entre 1875 e 1877.
Destacamos a novela «Gracejos que matam» publicado no Volume I, em 1875.
Novela «Gracejos que matam»
Numa tarde de Verão, seis pessoas e o autor estão à beira-rio a conversar. Uma delas, Álvaro de Abreu tenta impressionar a prima, Irene, fazendo troça de tudo e todos. Quando finalmente alguém perde a paciência e lhe responde, ele não perdoa. Reclama um duelo para limpar a honra, mas acaba ainda mais embaraçado pois não sabe esgrimir. A prima perde o interesse por ele quando aparece um outro homem em cena e o rancor cresce ainda mais. O que se segue é a história das seis personagens, e como o destino delas é afectado pelo pequeno incidente. [1]
Excerto
« (...) Chamava-se a Narciza do «Bravo», - alcunha paterna. Até aos treze annos andava vestida de rapaz, e media-se com os mais gaiatos a trepar á grimpa de um pinheiro, no assalto nocturno ás cerejeiras, em duellos á pedrada, no jogo do pao e no murro. Era virilmente bella, e bem feita; mas os meneios adquiridos nos trajos de graçavam-na vestida de mulher. Ella mesmo olhava para si com zanga e puxava a repellões as saias esfrangalhando-se. Pinto Monteiro dava tento destes phrenesis, ria-se muito, e contava-lhe casos de mulheres portuguezas que batalharam incognitas, cobrindo os seios com arnez de ferro. » (pág.46) |
Novela «O comendador»
... [2]
Excerto
« Uma noite, quando um dos padres recolhia, enxergou um vulto esbatido no escuro do mural que formava o tapume da eirada sua casa, e lobrigou por entre a sebe o alvejar de uma saia a fugir. Cresceu sobre o vulto com o pau em programa de bordoada, e ouviu o estalido do peno de pistola. Susteve a pancada e perguntou: — Quem está aí? Padre João Ruivo sobraçou o marmeleiro ferrado e murmurou: —Tomo-te à minha conta, brejeiro! |
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