Livro: O gigante do Souto: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
(Criou a página com "thumb|right|200px| {| align=center |- |capa do livro |- | |} == Sobre == * '''Relevância: ''' ★★★ * '''Título:''' O gigante do Souto * '''Autor:''' Jorge Carvalho Arroteia * '''Publicação:''' 2018 * '''Formato:''' Electrónico (ISBN 978-989-99779-3-8) ... == Excertos da obra == {| class="wikitable" style="text-align: left;" |- | « » |- |} == Ler o livro == <embed width="100%">https://jogodopau.wiki/p...")
 
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== Excertos da obra ==
== Excertos da obra ==
==== Capítulo V - Os franceses (Invasões francesas) ====


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Os jovens da terra, com maior porte, vinham a dedicar algum tempo suplementar em ensinamentos que um dos capatazes da família Pereira, vindo dos lados das nascentes do Lis, aprendera em lições que um galego seu vizinho lhe dera sobre as técnicas de defesa e de ataque.
Chamavam-lhe o ''“Malha Costas”'' pela facilidade com que manejava as alfaias agrícolas, a sachola, a forquilha, o ancinho, o varapau.
(...)<br>
Sabia '''atacar, recuar, voltar à luta e sair, manusear o cajado em rebate, em redonda, em enviesada ou arrepiada''', com tanta destreza e força, que os amigos o temiam. O treino permitia-lhe destacar-se pelos '''sarilhos''' e movimentos ágeis do corpo destinados a impressionar os amigos e a lançar-se em “sarilhos reais” sempre que as circunstâncias o exigiam.
Os passos e os deslocamentos principais eram ensinados, sob o olhar atento do Sr. Costa cuja saúde ainda lhe permitia ilustrar certas '''posições de guarda''', mas raramente as mais ousadas de parada e de pancada, '''as guardas rijas e as guardas em movimento ou varrimentas'''.
(...)<br>
À sua maneira foi aperfeiçoando as atitudes exigidas por essa arte marcial: as guardas e os ataques; os cortes e as fintas; os deslocamentos e as manipulações que lhe saíam à maneira sempre que se concentrava a estudar o manejo do adversário, a inverter os seus golpes, a anular a força das arremetidas em proveito próprio, a cansar o inimigo, a derrubá-lo – se assim fosse necessário - quando este menos o esperava.
(...)<br>
No entanto, '''armados só com varapaus''', como podiam fazer frente às armas dos franceses? Só podiam vencê-los se os apanhassem à socapa, distraídos ou então caindo-lhes em cima a matar.
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==== Capítulo VI - O massacre da Ti Ana ====
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No local, o grupo de homens armados com foices, sacholas e varapaus recebeu a notícia com preocupação.
(...)<br>
Um grupo de populares revoltados contra a presença dos agressores decide enfrentar a coluna armada que vinha do sul, sem mestre e
apenas com as armas de que dispunham: '''as sacholas, os paus, as foices e os foicinhos'''.
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==== Capítulo VII - As sortes ====
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A sua destreza no manejo de armas brancas e do varapau era já reconhecido por algumas famílias que a ele recorriam quando havia alguma missão mais difícil.
(...)<br>
Bem o quis derrubar o tal cabo-esperto que o apanhou de surpresa numa razia pelos artelhos ao que o nosso herói respondeu com um '''golpe de rins e uma cacetada enviesada''' que o deitou no chão, a sangrar e a amaldiçoar o instruendo.
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==== Capítulo VIII - O regresso à Ruivaqueira ====
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Seguiu-se a troca de insultos, o '''rugir do freixo dos varapaus''', o pó levantado pelas andanças da luta e os chapéus pelo ar. Sem dar por isso José '''“varreu” o recinto à paulada''', por entre o choro das mulheres e das crianças e o gemido de algum, que inadvertidamente havia sido colhido pela fúria da contenda. Depois foi a retirada do usurpador, com a '''vara partida''', nariz a escorrer em sangue e camisa rasgada, acompanhado dos seus homens, pelo arneiro das Eiras a caminho casa.
(...)<br>
Rendidos à sua audácia e destreza logo lhe vieram com novas propostas de trabalho. Entre elas a apresentada por um amigo do patrão, com origem no guarda-mor da casa real, era irrecusável: '''pedia-lhe para ir a Lisboa dar umas lições de “esgrima popular” – como lhe chamavam na corte - ou seja, de manejo do varapau, ao Príncipe D. Miguel (...)
(...)<br>
Foi nesse local [Salvaterra de Magos] que o mestre veio a ficar durante uns dias, procedendo ao polimento das varas com que ia ensinar ao futuro monarca as regras básicas e os passes de defesa, de ataque individual e de combate em grupo. Entre eles o que o Príncipe mais apreciava eram as '''“varredelas” e a “enviesada”, também conhecida por ‘atirar a matar’'''. Era tido como um golpe fatal e se o inimigo não se resguardasse seguia direitinho dali para a vala comum...
(...)<br>
Não as tinha escrito, mas na sua cabeça estava tudo registado:<br>
* Como iniciar a luta? Tinha de ser em espaço aberto e desocupado, num raio superior ao do comprimento da vara e de braços estendidos;
* Que precaução ao manejar a vara? Bem agarrada por ambas as mãos e bem longe do corpo;
* Como treinar? Fora do alcance de outras pessoas, proibindo a aproximação de terceiros, sobretudo pela retaguarda;
* Como colocar os pés e o corpo em defesa e no ataque à sua esquerda ou à sua direita;
* Como aproveitar a força do inimigo, anulando-a e ganhando poder sobre ele;
* Como sair da luta, em caso de necessidade.
Feitas estas considerações iniciais passou depois ao exercício físico ensinando-lhe as diferentes posições: no início, a '''postura vertical e a postura base do jogo'''. Aí o corpo tinha de estar dobrado sobre o membro inferior e a vara em posição de ataque; depois, o modo de pegar a vara com as duas mãos; a seguir, os deslocamentos relativos ao '''avançar e ao recuar''', ao '''entrar e ao sair''' da área do jogo; por fim, os '''deslocamentos laterais''' e, ainda, os '''sarilhos de cima e de baixo'''. Já depois do futuro monarca dominar estas técnicas fundamentais, foi a vez de lhe ensinar o '''“sarilho”, a “guarda” e a “enviesada”''' (...)
(...)<br>
Mais tarde, quando D. Miguel voltou do seu exílio na Europa, o futuro monarca requisitou novamente os seus serviços, desta vez no palácio da Rainha, em Queluz, onde mantinha a sua guarda pessoal. Só que, desta vez, as muitas solicitações do Príncipe regente não lhe permitiam tempo para grandes lições, deixando-o liberto para a instrução aos seus servidores mais próximos.
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Revisão das 20h16min de 14 de setembro de 2022

capa do livro

Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: O gigante do Souto
  • Autor: Jorge Carvalho Arroteia
  • Publicação: 2018
  • Formato: Electrónico (ISBN 978-989-99779-3-8)


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Excertos da obra

Capítulo V - Os franceses (Invasões francesas)

« Os jovens da terra, com maior porte, vinham a dedicar algum tempo suplementar em ensinamentos que um dos capatazes da família Pereira, vindo dos lados das nascentes do Lis, aprendera em lições que um galego seu vizinho lhe dera sobre as técnicas de defesa e de ataque.

Chamavam-lhe o “Malha Costas” pela facilidade com que manejava as alfaias agrícolas, a sachola, a forquilha, o ancinho, o varapau.

(...)
Sabia atacar, recuar, voltar à luta e sair, manusear o cajado em rebate, em redonda, em enviesada ou arrepiada, com tanta destreza e força, que os amigos o temiam. O treino permitia-lhe destacar-se pelos sarilhos e movimentos ágeis do corpo destinados a impressionar os amigos e a lançar-se em “sarilhos reais” sempre que as circunstâncias o exigiam.

Os passos e os deslocamentos principais eram ensinados, sob o olhar atento do Sr. Costa cuja saúde ainda lhe permitia ilustrar certas posições de guarda, mas raramente as mais ousadas de parada e de pancada, as guardas rijas e as guardas em movimento ou varrimentas.

(...)
À sua maneira foi aperfeiçoando as atitudes exigidas por essa arte marcial: as guardas e os ataques; os cortes e as fintas; os deslocamentos e as manipulações que lhe saíam à maneira sempre que se concentrava a estudar o manejo do adversário, a inverter os seus golpes, a anular a força das arremetidas em proveito próprio, a cansar o inimigo, a derrubá-lo – se assim fosse necessário - quando este menos o esperava.

(...)
No entanto, armados só com varapaus, como podiam fazer frente às armas dos franceses? Só podiam vencê-los se os apanhassem à socapa, distraídos ou então caindo-lhes em cima a matar. »

Capítulo VI - O massacre da Ti Ana

« No local, o grupo de homens armados com foices, sacholas e varapaus recebeu a notícia com preocupação.

(...)
Um grupo de populares revoltados contra a presença dos agressores decide enfrentar a coluna armada que vinha do sul, sem mestre e apenas com as armas de que dispunham: as sacholas, os paus, as foices e os foicinhos. »

Capítulo VII - As sortes

« A sua destreza no manejo de armas brancas e do varapau era já reconhecido por algumas famílias que a ele recorriam quando havia alguma missão mais difícil.

(...)
Bem o quis derrubar o tal cabo-esperto que o apanhou de surpresa numa razia pelos artelhos ao que o nosso herói respondeu com um golpe de rins e uma cacetada enviesada que o deitou no chão, a sangrar e a amaldiçoar o instruendo. »

Capítulo VIII - O regresso à Ruivaqueira

« Seguiu-se a troca de insultos, o rugir do freixo dos varapaus, o pó levantado pelas andanças da luta e os chapéus pelo ar. Sem dar por isso José “varreu” o recinto à paulada, por entre o choro das mulheres e das crianças e o gemido de algum, que inadvertidamente havia sido colhido pela fúria da contenda. Depois foi a retirada do usurpador, com a vara partida, nariz a escorrer em sangue e camisa rasgada, acompanhado dos seus homens, pelo arneiro das Eiras a caminho casa.

(...)
Rendidos à sua audácia e destreza logo lhe vieram com novas propostas de trabalho. Entre elas a apresentada por um amigo do patrão, com origem no guarda-mor da casa real, era irrecusável: pedia-lhe para ir a Lisboa dar umas lições de “esgrima popular” – como lhe chamavam na corte - ou seja, de manejo do varapau, ao Príncipe D. Miguel (...)

(...)
Foi nesse local [Salvaterra de Magos] que o mestre veio a ficar durante uns dias, procedendo ao polimento das varas com que ia ensinar ao futuro monarca as regras básicas e os passes de defesa, de ataque individual e de combate em grupo. Entre eles o que o Príncipe mais apreciava eram as “varredelas” e a “enviesada”, também conhecida por ‘atirar a matar’. Era tido como um golpe fatal e se o inimigo não se resguardasse seguia direitinho dali para a vala comum...

(...)
Não as tinha escrito, mas na sua cabeça estava tudo registado:

  • Como iniciar a luta? Tinha de ser em espaço aberto e desocupado, num raio superior ao do comprimento da vara e de braços estendidos;
  • Que precaução ao manejar a vara? Bem agarrada por ambas as mãos e bem longe do corpo;
  • Como treinar? Fora do alcance de outras pessoas, proibindo a aproximação de terceiros, sobretudo pela retaguarda;
  • Como colocar os pés e o corpo em defesa e no ataque à sua esquerda ou à sua direita;
  • Como aproveitar a força do inimigo, anulando-a e ganhando poder sobre ele;
  • Como sair da luta, em caso de necessidade.

Feitas estas considerações iniciais passou depois ao exercício físico ensinando-lhe as diferentes posições: no início, a postura vertical e a postura base do jogo. Aí o corpo tinha de estar dobrado sobre o membro inferior e a vara em posição de ataque; depois, o modo de pegar a vara com as duas mãos; a seguir, os deslocamentos relativos ao avançar e ao recuar, ao entrar e ao sair da área do jogo; por fim, os deslocamentos laterais e, ainda, os sarilhos de cima e de baixo. Já depois do futuro monarca dominar estas técnicas fundamentais, foi a vez de lhe ensinar o “sarilho”, a “guarda” e a “enviesada” (...)

(...)
Mais tarde, quando D. Miguel voltou do seu exílio na Europa, o futuro monarca requisitou novamente os seus serviços, desta vez no palácio da Rainha, em Queluz, onde mantinha a sua guarda pessoal. Só que, desta vez, as muitas solicitações do Príncipe regente não lhe permitiam tempo para grandes lições, deixando-o liberto para a instrução aos seus servidores mais próximos. »

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