O Malhadinhas

Fonte: Jogo do Pau Português
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Outros nomes Malhadinhas
Nascimento 1830
Morte 23-03-1914
Nacionalidade Portuguesa
Naturalidade Barrelas

Sobre

António da Rocha Malhada, mais conhecido por Malhadinhas, nasceu em Vila Nova de Paiva (ajudengado nome, chamou-lhe Aquilino Ribeiro, que no séc. XIX deram à povoação de Barrelas) em 1830 e faleceu a 23 de março de 1914. Apresentava-se como um serrano rústico, grosseiro e matreiro, almocreve de profissão. Casou com Brizia da Rocha Malhada e teve cinco filhos.

Defendendo-se à navalhada e golpes de pau (e por vezes a tiro) dos inimigos com que se foi deparando ao longo dos caminhos e da vida, Malhadinhas confessa: «O Pau defendia-me de cão, de malta frente a frente, mas para jogos de falsa fé e pessoas de mau sentido não havia como uma faquinha.»

Malhadinhas é o protagonista da novela epónima da autoria de Aquilino Ribeiro (1885-1963), publicado pela primeira vez na coletânea A Estrada de Santiago, em 1922. Um livro de leitura obrigatória!

Excertos da obra de Aquilino Ribeiro

Um dos episódios mais emblemáticos de Malhadinhas, passa-se em Santa Eulália, quando este se vê confrontado com um jogador de pau local, descrito como:

«(..) um varredor de feiras temível. Está para nascer o primeiro que lhe faça sombra.».

O desafiante aposta uma moeda de ouro de D. João V - que Malhadinhas dispensa caso ganhe, mas que a paga em dinheiro o seu valor caso perca – e, agarrando ao seu lódão (varapau de lódão), pede a Rita uma faca, uma navalhinha como diz, porque o intuito não será fazer mal…

Iniciado o jogo entre os dois, rodeados pela população, Malhadinhas conta, segundo as palavras de Aquilino: [1]

«(…) e à voz: é uma! é duas! é três! Só armei para receber o pimpão que caía sobre mim de pancada alta. Varri o golpe e, a tentear-lhe o manejo, comecei a parar com brandura, como a medo.(…) Tau-tau, a defender-se duma pancada ao ombro, facilitou-se-me pular-lhe ao peito, e limpei-lhe o primeiro botão, o rei. Foi tão rápido que ninguém reparou e mal me deu tempo para varrer a resposta que me mandava à cabeça.(…) Dois botões, capitão e soldado, foram à viola, um a seguir do outro, tão calados e cerces como o primeiro. E, racha contra racha, continuámos estre-loiçando.(…)

(…) quando o pau dele, vergastado pelo meu, rodou por largo e desceu adormecido, que degolei o meu quarto botão, o ladrão. E obra com asseio; ninguém viu, como aliás suceda das outras vezes. O colete tinha cinco botões, faltava-me o último, o segundo rei. (…) E eu pude rematar a partida, ripando-lhe o último botão, com mais mandinga e disfarce que no jogo da vermelhinha. - Bastará? – pronunciei eu, plantando-me em meia defesa.

O homem aprumou o pau, encostando-se a ele, pôs-se a limpar o suor da testa.»

Quando o povo berra e felicita ambos os jogadores, não havendo vencedor, nem vencido, Malhadinhas interrompe:

«- Alto lá! – brandei. – Há vencedor e vencido, se é que não morreu o Direito em Portugal. Olhem bem! Afirmavam-se todos para mim, afirmavam-se depois para ele e não percebiam.

- Abotoe lá o colete, camarada! – tornei eu para o mata-sete. – Abotoe-o que se lhe desabotoou. Está suado e pode apanhar uma pneumonia… O fanfarrão ia fazer o que eu lhe indicara e, como pelo facto não encontrasse os botões, procurou-os com a vista.(…) Mande vir uma agulha – e, ao mesmo tempo que isto dizia, deitando entre o pulso e o canhão da véstia, mostrei o canivete que segara os botões.

Ficaram todos suspensos quando vieram ao entendimento com-pleto da façanha.»

Galeria de imagens

Ver também

Links externos

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Referências

  1. LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 (sobre o livro)