Recorte Jornal: Diário de Lisboa - 1977

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

  • Relevância: ★★☆
  • Jornal: Diário de Lisboa
  • Artigo: Canal da crítica - Boas noites, Açores. E desculpem
  • Autor: Mário Castrim
  • Publicação: 13 de dezembro 1977


Resumo

O artigo discute a possível decadência do jogo do pau em contraste com a evolução do futebol. O autor acredita que o declínio do jogo do pau não é devido à sua natureza, mas talvez por falta de atenção. Ele destaca as habilidades dos portugueses nesse jogo e o seu potencial turístico. O autor menciona que tanto os jovens quanto os idosos têm proficiência no manejo do pau. Ele afirma que o jogo do pau é fascinante e não acredita na sua decadência, valorizando a sua importância cultural.

Artigo

« SEMPRE A PAU

Seja como for, o futebol envoluiu. O mesmo se não poderá dizer doutros jogos, como, por exemplo, o jogo do pau. Segundo nos foi dado perceber, trata-se de um jogo em decadência.

Acredito que não seja porcausa do pau. Com ele, diz-se que os portugueses têm graudes potencialidades. Quem quiser ver um português feliz, é vê-lo com o pau em riste, apto a enfrentar qualquer situação. Neste jogo, os portugueses não sofrem __ nem admitem, fiquem sabendo __ quaisquer comparação. Mal eles tiram o pau e é um ver se te avias! Ouvimos contar por exemplo, que em França, o pau dos portugueses causou Sensação.

Certamente, não fomos nós os pioneiros no manejo do pau. Desde a mais remota antiguidade (que pode mesmo estender-se até à Idade da Parra) todos os povos lhe deram um jeito. No entanto, quer a vaidade nacional imputar aos portugueses o uso do pau com ampla mestria e pontaria. O português mete o pau _ e logo acontece arte, magia, encanto e também, por vezes, justo é confessá-lo, algumas chatices. Isto acontece particularmente quando ele «ensarilha" o pau. Ensarilhar é um termo técnico de alta especialização que consiste em voltear o pau de (forma estonteante e metê-lo, com precisão, no sítio certo e no momento exacto.

Estou em crer que há, para este jogo, um grande futuro no turismo. Os turistas e as turistas cultivam as grandes sensações e o nosso pau, nesse campo, oferece muitas possibilidades. É ver como certas damas inglesas e suecas desmaiam quando o matador espanhol empunha a espada. Vissem eles um português com o pau bem firme, pronto a atacar, e sempre lhes digo que não desmaiariam uma vez em cada sessão, mas dez ou vinte.

Nós, os portugueses, estamos sempre a pau. Por isso não compreendi bem aquela história relatada no Grande Encontro e segundo a qual, em acertas regiões, quando um português ia ver a namorada deixava o pau à porta, para mostrar as suas intenções. Não digo que não, mas tratando-se de portugueses o caso parece-me, pelo menos, insólito. Se aconteceu isso alguma vez, se não é lenda malévola, foi há muiiiiiito tempo. Desde que estudo História Pátria os portagueses sempre que iam ver as namoradas faziam gala de levar o pau bem duro para vencer possíveis obstáculos.

Uma das particularidades mais curiosas deste jogo consiste no facto de tanto os jovens como os idosos poderem podem usar o pau com igual mestria. Os velhos são mais hábeis no uso do pau. Os jovem manejam o o pau com mais rapidez, mas os velhos doseiam melhor o seu esforço, visto que conhecem melhor os segredos do pau. Assim, um homem que «acabado», para o futebol, para os 100 metros, ou para a travessia da Mancha, está perfeita mente apto para o jogo do pau. O gosto 'que o pau proporciona prolonga-se até idades bem proveotas. Há casos de homens que, mesmo aos 100 anos faziam o seu gostinho ao pau. E disto vos garanto eu que mais nenhum outro desporto se pode gabar.

.. Na minha modesta opinião até hoje não apareceu jogo mais fascinante. Sinceramente, não acredito na sua decadência. Só que às vezes, as preocupações aumenta-me não dedicamos ao pau a atenção que ele merece. Mais nada. »

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