Varrer a feira: diferenças entre revisões
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''«João do Couto, se '''varria uma feira''', nem sempre saia com a cabeça ilesa»'' | Algumas passagens na literatura. | ||
''«João do Couto, se '''varria uma feira''', nem sempre saia com a cabeça ilesa»''<br> | |||
<small>Camilo Castelo Branco – O Degredado</small> | <small>Camilo Castelo Branco – O Degredado</small> | ||
''«Mas eram farsolas temidos, que se não benziam duas vezes para varrer a pau uma feira inteira.»'' | ''«Mas eram farsolas temidos, que se não benziam duas vezes para '''varrer a pau''' uma feira inteira.»''<br> | ||
<small>Aquilino Ribeiro – A via sinuosa</small> | <small>Aquilino Ribeiro – A via sinuosa</small> | ||
''«se os tais homens das bandeirolas me tornam a passar por as terras, sempre lhes meço as costas com um marmeleiro, que lá tenho, e que já me serviu para varrer a feira de Santo Estevão.»'' | ''«se os tais homens das bandeirolas me tornam a passar por as terras, sempre lhes meço as costas com um marmeleiro, que lá tenho, e que já me serviu para '''varrer a feira''' de Santo Estevão.»''<br> | ||
<small>Júlio Dinis – A morgadinha dos canaviais</small> | <small>Júlio Dinis – A morgadinha dos canaviais</small> | ||
''«como também da mesma laia, capaz de cobiçar a mulher do próximo e varrer uma feira a | ''«como também da mesma laia, capaz de cobiçar a mulher do próximo e '''varrer uma feira a estadulho'''»''<br> | ||
<small>Miguel Torga – Um reino maravilhoso</small> | <small>Miguel Torga – Um reino maravilhoso</small> | ||
== Referências == | == Referências == |
Revisão das 13h14min de 17 de janeiro de 2023
VARRER A FEIRA
(Jogo das varrimentas e o varrer a Feira)
Quando um jogador se encontra cercado e em grande desvantagem numérica, a única forma de conseguir fugir será mantendo a distância entre os vários adversários. Esta distância é feita com várias pancadas interruptas nos vários adversários, nos vários sentidos até ser possível sair. O objetivo será varrer tudo o que apareça na frente, a varrimenta serve assim de pancada, como defesa de outra pancada, ou pancada direta para bater. Também pode ser chamado de Jogo Largo de Feira.
Antigamente, era nas feiras e nas romarias que os desacatos entre vizinhos e até aldeias inteiras eram resolvidos, e na sua grande maioria, à paulada. Está patente na frase que era muito frequente ouvir-se: «discutiremos isso na romaria!».
Podemos encontrar relatos feitos pelo abade Baçal, relativos a finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, uma das quais chegou a durar um dia e uma noite e fez muitos mortos e feridos . Era por vezes verdadeiras batalhas campais. E é neste contexto, que a expressão «varrer a feira» nasce. Podemos encontrar também, na cultura oral portuguesa, a palavra «varrer a feira», que significa “correr a pau” toda a gente que nela se encontra. Contudo, antes de haver a varrimenta com pau, já se fazia a varrimenta com espada (possivelmente com montante). No Diccionário da Língua Portugueza de 1789, encontramos:[1]
VARRER - v. at. Limpar lixo (…) os golpes de espada varrerão tudo (…)»[2]
Ou, mesmo em 1936:
VARRER - correr a pau toda a gente que nela se encontra[3]
E, em 2017:
VARRER - justificar-se varrer a feira correr a pau toda a gente[4]
Na literatura
Algumas passagens na literatura.
«João do Couto, se varria uma feira, nem sempre saia com a cabeça ilesa»
Camilo Castelo Branco – O Degredado
«Mas eram farsolas temidos, que se não benziam duas vezes para varrer a pau uma feira inteira.»
Aquilino Ribeiro – A via sinuosa
«se os tais homens das bandeirolas me tornam a passar por as terras, sempre lhes meço as costas com um marmeleiro, que lá tenho, e que já me serviu para varrer a feira de Santo Estevão.»
Júlio Dinis – A morgadinha dos canaviais
«como também da mesma laia, capaz de cobiçar a mulher do próximo e varrer uma feira a estadulho»
Miguel Torga – Um reino maravilhoso
Referências
- ↑ LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, Escola de Jogo de Pau de Cascais - Stafffighters, 5livros, 2020 (mais sobre o livro)
- ↑ António de Moraes Silva, “Diccionário da Língua Portugueza – Lisboa”, Officina de S. T. Ferreira, 1878, p. 510-511
- ↑ «Grande enciclopédia portuguesa e brasileira» in https://books.google.pt/books?id=h9QEAAAAYAAJ
- ↑ Correia, Emanuel de Moura, «Dicionário prático de locuções e expressões correntes» 2017