Varrer a feira
VARRER A FEIRA
(Jogo das varrimentas e o varrer a Feira)
O que é?
Quando um jogador se encontra cercado e em grande desvantagem numérica, a única forma de conseguir fugir será mantendo a distância entre os vários adversários. Esta distância é feita com várias pancadas interruptas nos vários adversários, nos vários sentidos até ser possível sair. O objetivo será varrer tudo o que apareça na frente, a varrimenta serve assim de pancada, como defesa de outra pancada, ou pancada direta para bater. Também pode ser chamado de Jogo Largo de Feira.
Antigamente, era nas feiras e nas romarias que os desacatos entre vizinhos e até aldeias inteiras eram resolvidos, e na sua grande maioria, à paulada. Está patente na frase que era muito frequente ouvir-se: «discutiremos isso na romaria!».
Podemos encontrar relatos feitos pelo abade Baçal, relativos a finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, uma das quais chegou a durar um dia e uma noite e fez muitos mortos e feridos . Era por vezes verdadeiras batalhas campais. E é neste contexto, que a expressão «varrer a feira» nasce. Podemos encontrar também, na cultura oral portuguesa, a palavra «varrer a feira», que significa “correr a pau” toda a gente que nela se encontra. Contudo, antes de haver a varrimenta com pau, já se fazia a varrimenta com espada (possivelmente com montante).
No Diccionário da Língua Portugueza de 1789, encontramos:[1]
« VARRER - v. at. Limpar lixo (…) os golpes de espada varrerão tudo (…)»[2] » |
Em 1898:
« VARRER - Dispersar, por em fuga: um jogador de pau varre uma feira.[3] » |
Em 1936:
« VARRER - correr a pau toda a gente que nela se encontra[4] » |
E, em 2017:
« VARRER - justificar-se varrer a feira correr a pau toda a gente[5] » |
Na literatura
Algumas passagens na literatura.
«
se os tais homens das bandeirolas me tornam a passar por as terras, sempre lhes meço as costas com um marmeleiro, que lá tenho, e que já me serviu para varrer a feira de Santo Estevão.
» |
«
(...) n'um repente sanguineo de colera ou de ciume , varrer uma feira ou extender á bordoada no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival. (...) tanta miseria e tanta porcaria envolvida no conflicto das opiniões oppostas, o melhor jôgo é ainda assim o jôgo de varrer... Por mais violencia que haja, os bons principios salvam - se sempre.
» |
«
Travou-se a lucta; acudiram os das barracas próximas, melteu-se o povo na contenda, houve pancadaria brava, e os dois irmãos varreram a feira.
» |
«
João do Couto, se varria uma feira, nem sempre saia com a cabeça ilesa
» |
«
Sempre os transmontanos tiveram fama de valentes, e não admira. Pão duro, volto á minha, faz homens fortes e robustos. A população rústica de Traz-os-Montes é capaz de, gingando um cacete, varrer uma feira.
» |
«
Mas eram farsolas temidos, que se não benziam duas vezes para varrer a pau uma feira inteira.
» |
«
Salta para o meio deles, malha daqui, torce dali, parecia que estava a varrer a festa de S. Bento da porta Aberta. Em menos de um fósforo tinha a casa limpa.
» |
«
como também da mesma laia, capaz de cobiçar a mulher do próximo e varrer uma feira a estadulho
» |
«
(...) n'um repente sanguineo de colera ou de ciume , varrer uma feira ou extender á bordoada no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival. (...) tanta miseria e tanta porcaria envolvida no conflicto das opiniões oppostas, o melhor jôgo é ainda assim o jôgo de varrer... Por mais violencia que haja, os bons principios salvam - se sempre.
» |
Referências
- ↑ LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, Escola de Jogo de Pau Stafffighters, 5livros, 2020 (mais sobre o livro)
- ↑ António de Moraes Silva, «Diccionário da Língua Portugueza – Lisboa», Officina de S. T. Ferreira, 1878, p. 510-511
- ↑ Henrique Brunswick, «Novo diccionario illustrado da lingua portugueza», Lisboa, Santos & Vieiera, 1898
- ↑ «Grande enciclopédia portuguesa e brasileira» in https://books.google.pt/books?id=h9QEAAAAYAAJ
- ↑ Correia, Emanuel de Moura, «Dicionário prático de locuções e expressões correntes» 2017