Artigo: A arte de Pedro Ferreira faz escola e discipulos: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
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JOGO DO PAU NO ATENEU
 
Mestre [[Pedro Ferreira]] tem o seu nome indissociavelmente ligado à escola de jogo do pau no [[Ateneu Comercial de Lisboa]]. Brilhante jogador desta luta desportiva, na qual os intervenientes se defrontam com varas, foi seu fundador naquela associação cultural, desportiva e recreativa onde ensinou durante muitos anos várias gerações de alunos, muitos deles, hoje, a dar aulas em outros clubes e associações. Um desses seus alunos, com quem mantinha uma relação de amizade e respeito é actualmente o representante do [[Ateneu Comercial de Lisboa|Ateneu]] para a prática da modalidade do jogo do pau. Chama-se [[Mestre: Manuel Monteiro|Manuel Joaquim Monteiro]]. A nossa revista esteve à conversa com ele e com a drª Maria Adelina, filha de [[Pedro Ferreira]]. Factos e recordações encheram hora e meia de conversa durante a qual ficámos a conhecer melhor a personalidade e a obra de um homem que soube inovar e manter viva a arte e mestria de um jogo tipicamente português.
 
[[Pedro Ferreira|Pedro Manuel Rodrigues Ferreira]] nasceu a 26 de Março de 1915 na freguesia de Alvaredo, concelho de Melgaço. Nascido no seio de uma família abastada no meio rural, essa condição irá determinar em certa medida a sua vida futura. Filho mais novo, tem oito anos quando se dá o falecimento do pai. Essa circunstância, como nos explica sua filha Maria Adelina, virá a introduzir profundas alterações no quadro familiar. A mãe, que nunca se ocupara de qualquer aspecto relacionado com a gestão dos negócios, acaba por entregar a administração da casa e das propriedades a pessoas próximas e a alguns familiares, que, abusando da confiança neles depositada e adoptando formas indevidas de apropriação, iniciam um percurso de alienação do património e decadência sem retorno. Antes, porém, chega a frequentar o colégio de S. Bartolomeu dos Mártires, em Braga, disfrutando simultaneamente das condições de desafogo económico próprias de uma família da burguesia rural. Por pouco tempo, pois com a morte do pai e com as alterações produzidas, acaba por ser o único irmão impossibilitado de prosseguir os estudos. Obrigado a ficar na aldeia, sem qualquer ocupação, pouco virado para aprender um ofício, dedica-se aquilo que mais gosta: nadar (aprendeu sozinho), escalar montes e sobretudo andar pela romarias onde, na altura, é prática corrente o jogo do pau.
 
ESPÍRITO REBELDE
 
É então que aprende a dominar as técnicas deste jogo, para o qual revela especiais aptidões. Como todos os outros homens e rapazes, da sua prática faz um quase obrigatório instrumento de defesa. O que nele até vem mesmo a calhar, como observa Maria Adelina, dadas as características do seu temperamento rebelde e activo, sempre pronto para a malandrice e a brincadeira. Revelador dessa postura inconformada é o episódio em que se viu envolvido aos 16 anos, numa feira de gado onde se deslocou com sua mãe para proceder à venda de uma junta de bois. Abordado por um negociante, resolveu este, depois de mirar os animais, aguilhar com um pau no traseiro do dito, como parece que era hábito, para ver a sua reacção. Só que o impulso do gesto terá excedido o razoável e, inesperadamente, o boi dá um salto para cima da mãe do jovem [[Pedro Ferreira|Pedro]]. Interpelado o negociante, a quem perguntou se vira bem o que fizera, logo este, constatando que era um miúdo, responde a [[Pedro Ferreira]] de forma ríspida e provocatória, chegando mesmo à ameaça física. Estava armado o baile. O negociante puxa do pau para lhe bater. Azar o seu. Enquanto o diabo esfrega um olho, recorda a sua filha, o jovem [[Pedro Ferreira]], fazendo também uso do seu pau, opera aquilo que na gíria é designado por "passagem", atingindo-o num joelho, golpe que em fracções de segundo o faz estatelar, redondo, no chão.  
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Revisão das 21h17min de 17 de maio de 2023

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Sobre

  • Relevância: ★★★
  • Título: A arte de Pedro Ferreira faz escola e discípulos
  • Autor: Texto de João Chasqueira e fotos de Sérgio Morais
  • Publicação: Revista «Elo Associativo» nº 1 de maio 1997


Artigo

« JOGO DO PAU NO ATENEU

Mestre Pedro Ferreira tem o seu nome indissociavelmente ligado à escola de jogo do pau no Ateneu Comercial de Lisboa. Brilhante jogador desta luta desportiva, na qual os intervenientes se defrontam com varas, foi seu fundador naquela associação cultural, desportiva e recreativa onde ensinou durante muitos anos várias gerações de alunos, muitos deles, hoje, a dar aulas em outros clubes e associações. Um desses seus alunos, com quem mantinha uma relação de amizade e respeito é actualmente o representante do Ateneu para a prática da modalidade do jogo do pau. Chama-se Manuel Joaquim Monteiro. A nossa revista esteve à conversa com ele e com a drª Maria Adelina, filha de Pedro Ferreira. Factos e recordações encheram hora e meia de conversa durante a qual ficámos a conhecer melhor a personalidade e a obra de um homem que soube inovar e manter viva a arte e mestria de um jogo tipicamente português.

Pedro Manuel Rodrigues Ferreira nasceu a 26 de Março de 1915 na freguesia de Alvaredo, concelho de Melgaço. Nascido no seio de uma família abastada no meio rural, essa condição irá determinar em certa medida a sua vida futura. Filho mais novo, tem oito anos quando se dá o falecimento do pai. Essa circunstância, como nos explica sua filha Maria Adelina, virá a introduzir profundas alterações no quadro familiar. A mãe, que nunca se ocupara de qualquer aspecto relacionado com a gestão dos negócios, acaba por entregar a administração da casa e das propriedades a pessoas próximas e a alguns familiares, que, abusando da confiança neles depositada e adoptando formas indevidas de apropriação, iniciam um percurso de alienação do património e decadência sem retorno. Antes, porém, chega a frequentar o colégio de S. Bartolomeu dos Mártires, em Braga, disfrutando simultaneamente das condições de desafogo económico próprias de uma família da burguesia rural. Por pouco tempo, pois com a morte do pai e com as alterações produzidas, acaba por ser o único irmão impossibilitado de prosseguir os estudos. Obrigado a ficar na aldeia, sem qualquer ocupação, pouco virado para aprender um ofício, dedica-se aquilo que mais gosta: nadar (aprendeu sozinho), escalar montes e sobretudo andar pela romarias onde, na altura, é prática corrente o jogo do pau.

ESPÍRITO REBELDE

É então que aprende a dominar as técnicas deste jogo, para o qual revela especiais aptidões. Como todos os outros homens e rapazes, da sua prática faz um quase obrigatório instrumento de defesa. O que nele até vem mesmo a calhar, como observa Maria Adelina, dadas as características do seu temperamento rebelde e activo, sempre pronto para a malandrice e a brincadeira. Revelador dessa postura inconformada é o episódio em que se viu envolvido aos 16 anos, numa feira de gado onde se deslocou com sua mãe para proceder à venda de uma junta de bois. Abordado por um negociante, resolveu este, depois de mirar os animais, aguilhar com um pau no traseiro do dito, como parece que era hábito, para ver a sua reacção. Só que o impulso do gesto terá excedido o razoável e, inesperadamente, o boi dá um salto para cima da mãe do jovem Pedro. Interpelado o negociante, a quem perguntou se vira bem o que fizera, logo este, constatando que era um miúdo, responde a Pedro Ferreira de forma ríspida e provocatória, chegando mesmo à ameaça física. Estava armado o baile. O negociante puxa do pau para lhe bater. Azar o seu. Enquanto o diabo esfrega um olho, recorda a sua filha, o jovem Pedro Ferreira, fazendo também uso do seu pau, opera aquilo que na gíria é designado por "passagem", atingindo-o num joelho, golpe que em fracções de segundo o faz estatelar, redondo, no chão. »

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